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Estado de Minas

Treze anos do PT no poder são marcados por escândalos

Na iminência de ver a presidente Dilma ser afastada do cargo, partido comemora conquistas sociais, mas vê grandes nomes de seus quadros envolvidos em pesados esquemas de corrupção


postado em 25/04/2016 06:00 / atualizado em 25/04/2016 07:57

Posse de Lula, que se tornou o presidente mais popular da história do país, marcou o início de uma fase áurea para o partido(foto: José Varella/CB/D.A Press - 01/01/03)
Posse de Lula, que se tornou o presidente mais popular da história do país, marcou o início de uma fase áurea para o partido (foto: José Varella/CB/D.A Press - 01/01/03)
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São 13 anos, três meses e 24 dias no poder. Tanto tempo ocupando o Palácio do Planalto que a história do Brasil já tratou de denominar o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) como a “Era PT”. Depois de uma votação histórica, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestiu a faixa presidencial, em 1º de janeiro de 2003, marcando o início de um tempo de esperança para o povo, ao ver um ex-metalúrgico assumir o comando do país e se tornar o presidente mais popular da história do Brasil. De lá para cá, o Brasil assistiu a ascensão da classe média, o negro entrar na universidade, o pobre comprar a casa própria, viu Dilma Rousseff (PT) se tornar a primeira mulher presidente do Brasil. Testemunhou também os maiores esquemas de corrupção da história, como o mensalão e o desvio de recursos da Petrobras para pagamento de propinas. E ainda, com a crise econômica e a necessidade de reforçar o caixa, o governo petista foi obrigado a reavaliar alguns de seus programas sociais para reduzir o volume de subsídios, além de impor mais critérios para ter acesso aos benefícios, como ocorreu com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que limitou o acesso aos recursos.

Mas nenhum desses escândalos e problemas abalou tanto a “Era PT” quanto a votação de 17 de abril de 2016, quando deputados federais aprovaram a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma. Em tempos de turbulência política, o Estado de Minas convidou especialistas para analisar os 13 anos do PT à frente da Presidência da República. Entre eles, o consenso de que nenhum outro governo investiu tanto em programas sociais, mas também as críticas sobre a falta de habilidade em administrar uma economia em crise.

Ao assumir o Planalto, presidente Dilma dá sequência a um projeto de poder que começou a ruir diante das crises política e econômica(foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Ao assumir o Planalto, presidente Dilma dá sequência a um projeto de poder que começou a ruir diante das crises política e econômica (foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)

“É indiscutível a melhora da distribuição de renda no governo do PT, que aumentou os ganhos da população mais pobre”, reforça o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Feldmann. Ele chama atenção para o Bolsa-Família, programa social que visa a redução da desigualdade por meio de pagamento de benefício a famílias carentes. Outro aspecto positivo a se destacar, segundo Feldmann, é a política de aumento do salário-mínimo, que garantiu a manutenção do poder de compra do trabalhador.

O professor critica, entretanto, que o crescimento conquistado pelo governo do PT se baseou apenas no consumo. “A capacidade industrial do Brasil reduziu muito. Faltou investimento em infraestrutura. Nossa energia elétrica é uma das mais caras do mundo, faltaram obras no setor e também nas rodovias e ferrovias”, diz. Na avaliação do professor, a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com pacote de obras de infraestrutura, não foi suficiente para o país dar esse salto. “O PAC foi mal administrado”, completa.

Professor de ciência políticas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Wagner de Melo Romão destaca os programas sociais como o trunfo da “Era PT”. “O Bolsa-Família – típico de estados preocupados com o bem-estar social –, vem acompanhado por uma série de siglas usadas para denominar esses programas de caráter social e inclusivo, entre elas o Reuni, de reestruturação e expansão das universidades, Fies, de financiamento estudantil, sem esquecer da política de cotas raciais e sociais no ensino superior.”

“Houve uma ampliação das ações de Estado, especialmente com a expectativa de que essa maré boa da economia fosse mais contínua. Mas isso não se concretizou. Houve a diminuição da força econômica da China e da Índia, mas não há dúvida que também tem a ver com a crise econômica provocada por equívocos do governo Dilma”, afirma Romão, que acredita que os avanços foram restritos nas áreas de saneamento básico, mobilidade urbana e segurança pública.

O 17 de abril, com a aprovação do pedido de impeachment na Câmara, representou a mais significativa derrota dos governos petistas(foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil )
O 17 de abril, com a aprovação do pedido de impeachment na Câmara, representou a mais significativa derrota dos governos petistas (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil )

Segundo o professor, a relação com os diversos setores da sociedade apresentou algumas diferenças marcantes. “O PT foi muito feliz ao desenvolver relações mais abertas com a sociedade civil e os movimentos sociais. Houve o aumento de conselhos, de conferências nacionais de políticas públicas. Em termos institucionais, também se avançou muito com maior transparência e autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal”, afirma. Na relação com os diversos segmentos da sociedade, um ponto negativo. “Houve uma incapacidade de estabelecer um outro relacionamento com o setor produtivo”, critica.

MARCA NEGATIVA Mas, se houve avanços que beneficiaram a parcela menos favorecida da população brasileira, a “Era PT” também deixa como marca grandes escândalos de corrupção, como lembra o especialista em direito eleitoral do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (UnB) Flávio Britto. “O ex-ministro José Dirceu era o principal homem do governo Lula e acabou dragado pelo escândalo do mensalão”, diz. Em 2005, foi descoberto esquema de pagamento de propina a parlamentares para votarem de acordo com a orientação do governo.

“Mesmo com o desgaste do mensalão, o partido conseguiu dar uma guinada na questão da economia e se superar com boa aceitação em todos os níveis e classes sociais”, lembra Britto. Enquanto o governo Lula se caracterizou pela alta popularidade, destaca o professor, o de Dilma foi ao longo do tempo perdendo aceitação até despencar para os atuais níveis. “Dilma não sabe lidar com o público em geral”, opina. Ainda na seara de escândalos de corrupção, o mensalão foi superado pela descoberta do esquema de desvios de propina na Petrobras e outras estatais brasileiras, em 2014, ano eleitoral. O próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, semana passada, em palestra nos Estados Unidos, que, perto da Lava-Jato, o mensalão foi brincadeira.

Foi quando o barco do PT começou a navegar em águas turbulentas. “A presidente precisava ganhar a eleição de qualquer jeito e começou a adotar medidas de caráter político que prejudicaram muito a economia. Em 2014, pela primeira vez, o Brasil registrou déficit primário. Isso gerou um clima muito ruim”, avalia Paulo Feldmann, que critica especialmente medidas como o congelamento dos preços da gasolina e das tarifas de energia elétrica. “Quando ganhou a eleição, Dilma colocou o ministro Joaquim Levy com visão totalmente diferente. É como se tivesse dado um cavalo de pau na economia. A recessão acabou ficando muito maior do que Levy previa”, explica o professor da USP.


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