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Estado de Minas

Deslizes do Parlamentares e Judiciário marcam a crise política

Tropeços e uma sucessão de gafes envolvendo parlamentares e representantes do Judiciário marcaram as últimas semanas da intensa e já muito conturbada agenda política brasileira


postado em 11/04/2016 06:00 / atualizado em 11/04/2016 08:06

A crise política ganha tons cada vez mais fortes, mas personagens de peso deste cenário têm adicionado ingredientes novos que vão desde a ingenuidade até descuidos imperdoáveis para quem está em uma guerra. As últimas semanas teve de tudo um pouco, desde gravação telefônica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff na interceptação autorizada pelo juiz da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR) Sérgio Moro, divulgada por ele sem que percebesse sua incompetência jurisdicional para isso, até o flagra na mensagem que a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, enviava para companheiros de partido, quando seu PMDB resolveu desembarcar do governo. E teve mais. Até mesmo o reservado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, criticou em público o PMDB, lamentando ser a única alternativa de poder, caso passasse o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Aliados de Dilma, que tenta respirar mesmo sendo o epicentro da crise, também fizeram das suas. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) ao sair em defesa da petista e de Lula, cometeu um ato falho e retirou Dilma antecipadamente do Executivo.



As sucessões de gafes e trapalhadas ficaram mais em evidência a partir de 16 de março, quando o ex-petista e líder do governo no Senado Delcídio do Amaral, delator da Operação Lava-Jato, entregou ao Ministério Público uma gravação, em que o companheiro de partido, Aloísio Mercadante, oferecia ajuda à família do senador preso. Segundo Delcídio, a ajuda era para evitar que ele aceitasse colaborar com a força-tarefa do Ministério Público Federal e o juiz Sérgio Moro, preservando o partido de mais problemas. Mercadante reagiu e disse que tudo foi apenas uma ajuda para um companheiro. Versões a parte, o caso acabou sendo sobreposto com a divulgação, 24 horas depois, de gravação de uma conversa entre a presidente Dilma e o seu antecessor Lula.

Desculpa

O juiz Sérgio Moro, que preside as ações referentes às investigações da Lava-Jato, havia autorizado a interceptação do telefone de Lula. O diálogo com a presidente Dilma e que foi interceptado ocorreu depois que Moro já tinha determinado a imediata interrupção das gravações. Ainda assim, o juiz disse que liberou o conteúdo devido à previsão legal de “dar publicidade ao processo e especialmente a condutas relevantes do ponto de vista jurídico e criminal do investigado do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que podem eventualmente caracterizar obstrução à Justiça ou tentativas de obstrução à Justiça”.

O resultado foi uma corrida ao STF para suspender a posse de Lula e ainda uma saraivada de críticas a Moro, por parte dos apoiadores da presidente. Dias depois, ao ser criticado por vários ministros da Corte, entre eles Teori Zavascki, relator das ações de pessoas com foro privilegiado da Lava-Jato, Moro admitiu a trapalhada. Pediu “respeitosas escusas” à Corte pelas consequências da retida do sigilo das escutas telefônicas envolvendo Lula e autoridades. Ele reafirmou que a divulgação não objetivou “gerar fato político-partidário, polêmicas ou conflitos”. Como resultado, o STF retirou de Moro a competência de continuar investigando Lula e outras autoridades.

SONHO Com o enfraquecimento da base de apoio de Dilma, o PMDB – então maior partido da base aliada do governo e também com a maior bancada na Câmara – começou a sonhar com a cadeira da Presidência, tendo como líder o vice-presidente Michael Temer. Para garantir o impeachment, o PMDB resolveu desembarcar o governo petista, mesmo com a sigla se beneficiando do comando de sete ministérios. Mas, como sempre, o PMDB estava dividido. No dia seguinte à decisão, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, se rebelou e disse que se manteria ao lado de Dilma.

A confirmação veio durante a cerimônia de lançamento da terceira fase do programa Minha casa minha vida, no Palácio do Planalto, ao lado da presidente. Ela enviou mensagens por celular nas quais afirma que ela e os outros cinco ministros do partido decidiram não deixar seus cargos no governo. No texto flagrado pela imprensa, ela afirma que a decisão foi tomada “ontem a noite” e cita o local: “casa de Renan”, numa referência à residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que se coloca cauteloso em relação ao impeachment.

SINCERIDADE
E nesta onda de ver o PMDB se organizando para assumir o governo, até mesmo o ministro do Supremo, abandonou a venda da Justiça e afirmou que o país enfrenta falta de alternativa política e citou o PMDB. “Quando, anteontem, o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e: Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder. Eu não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando”, disse o ministro Luís Carlos Barroso, durante palestra em São Paulo. Ele fazia referência à foto de lideranças do PMDB, na qual estavam o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), o ex-ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), entre outros.

Barroso conversava com alunos da Fundação Lemann, em São Paulo, e, bem que tentou amenizar o teor de suas declarações, deixando claro que falava como em um ambiente acadêmico, como se estivesse falando com seus alunos. O ministro não sabia que o evento estava sendo transmitido pelo sistema interno do Supremo e, após ser alertado, pediu para não gravar mais. Era tarde demais.

Fato é que de gravação em gravação, a República vai tremendo e comprometendo os desavisados, como o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que integra a comissão especial na Câmara para análise do impeachment da presidente. Ao sair em defesa da petista e Lula, disse: “A alusão feita aqui de maneira injuriosa ao ex-presidente Lula e à ex-...”. Não completou a frase. Nem precisava. Sua cara de constrangimento foi suficiente para provocar irônicas reações de seus companheiros de comissão pró-impeachment.


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