Com a adesão de Quintão, Picciani já conta com cerca de 45 dos 66 votos da bancada peemedebista e melhora a sua posição na disputa, aumentando a chance de ser reconduzido à liderança em 17 de fevereiro. Ao mesmo tempo, Michel Temer, que aconselhou Quintão a “buscar a unidade” do partido, poderá ter o respaldo da bancada federal carioca, liderada por Picciani, para a sua própria recondução à presidência nacional do PMDB na convenção em março.
O acordo entre Leonardo Quintão e Leonardo Picciani foi selado ontem à tarde, em Juiz de Fora, cidade mineira entre Rio e Belo Horizonte, para onde ambos se deslocaram. “Cunha está fazendo política com ódio”, disse. “Com essa nova candidatura de Hugo Motta, Eduardo Cunha trouxe mais discórdia e ruptura ao PMDB. Em conversa com Michel Temer, achei melhor trabalhar pela unidade do partido”, disse Leonardo Quintão.
A ideia do presidente da Câmara ao lançar Hugo Motta como terceiro candidato a líder do PMDB era dividir os votos de Picciani com o deputado paraibano, que, apesar de ser próximo de Cunha, tem boa relação com a base aliada ao governo. Dessa forma, Cunha esperava levar a disputa pela liderança para o segundo turno. Nessa etapa, ele acreditava que a união entre os apoiadores de Quintão e de Motta aumentaria a chance de derrota de Picciani.
Temeroso de que Picciani pudesse não vir a ser reconduzido, o Palácio do Planalto chegou a abrir esta semana conversações com Motta. Reunido com os ministros Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, e Edinho Silva, da Comunicação Social, Motta acenou, caso eleito líder, com uma postura de “neutralidade” na relação com o governo federal e comprometeu-se a não indicar apenas peemedebistas que defendem o afastamento de Dilma Rousseff para a comissão especial de impeachment.
Quintão, que esta semana não conseguiu a unidade da bancada federal mineira em torno de sua candidatura, negou que tenha desistido da candidatura em troca da promessa de ser indicado para qualquer comissão na Câmara pelo atual líder ou pelo Planalto para algum ministério. De acordo com o parlamentar mineiro, o único compromisso feito com Picciani foi de apoiá-lo na disputa pela liderança do PMDB em 2017. Quintão lembrou, porém, que o deputado fluminense já tinha feito esse compromisso em 2015 para a disputa deste ano, mas acabou não cumprindo.
O mineiro chegou a exercer a liderança do PMDB durante uma semana no final do ano passado, apoiado por Eduardo Cunha e outros deputados do partido que fazem oposição ao governo. Picciani conseguiu, porém, reverter sua destituição.
SUrPRESA Parlamentares da ala pró-impeachment do PMDB que apoiavam Leonardo Quintão se mostraram surpresos com o anúncio de desistência feito pelo parlamentar mineiro. O deputado Osmar Terra (PMDB-RS) disse que, agora, a bancada da sigla do Rio Grande do Sul deverá apoiar Hugo Motta. “Desse jeito, ele (Quintão) vai levar apenas o voto dele”, afirmou.
Peemedebistas do grupo de Cunha minimizaram a saída de Quintão e sua intenção de apoio a Picciani. A avaliação é de que o impacto é “zero”, pois o mineiro não teria influência sobre outros peemedebistas. Esse grupo diz acreditar que Motta vencerá Picciani com 15 votos de vantagem. Aliados de Cunha disseram ainda que já previam a saída de Quintão depois que o presidente da Câmara começou a articular a candidatura do paraibano. (Com agências)
Dilma diz que relatório do FMI a deixou ‘estarrecida’
Brasília – A presidente Dilma Rousseff disse ontem, em reunião da executiva nacional do PDT, que ficou “estarrecida” com um trecho do relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que atribuía as previsões negativas para o país, entre outros fatores, à instabilidade política no Brasil e ao alongamento das investigações dos malfeitos na Petrobras. “Fiquei estarrecida com uma frase que li no relatório do FMI. Ele atribuía essa situação à instabilidade política, e o segundo fator era o fato de as investigações quanto à Petrobras terem um prazo de duração maior e mais profundo do que esperavam. Tenho certeza de que vamos estabilizar politicamente o país, vamos assegurar ao país a tranquilidade para voltar a crescer.”
A executiva do PDT aprovou por unanimidade a posição contrária ao impeachment de Dilma. Também fechou questão a favor do afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da presidência da Câmara. Durante seu discurso, Dilma reafirmou que durante sua militância no partido e posteriormente no PT, nunca teve qualquer acusação sobre uso indevido de dinheiro público. Ela disse que não tem dinheiro no exterior, referência que já tinha feito ao responder Cunha, quando ele acatou o parecer de juristas sobre o impeachment da presidente, e que tem uma “vida absolutamente ilibada”.
Ex-militante do PDT, Dilma se emocionou ao falar do ex-governador Leonel Brizola, que faria 94 anos ontem. Ela disse ter certeza que Brizola, fundador do partido, defenderia a “soberania e legalidade” do país, pois ele tinha um “faro imenso para tentativas de golpe – até porque foi vítima de um”.
Liderada pelo presidente da legenda, Carlos Lupi, e com a presença do ex-ministro Ciro Gomes e do ministro das Comunicações, André Figueiredo, a reunião do PDT confirmou candidatura própria da legenda em 2018. Quando Lupi anunciou que terão candidato a presidente, os militantes saudaram Ciro Gomes como “futuro presidente”.
FAMÍLIA A presidente viajou à tarde para Porto Alegre, onde vai passar o fim de semana com a família. Seu segundo neto, Guilherme, nasceu no último dia 7. Paula, filha de Dilma, também é mãe de Gabriel, considerado o xodó da presidente. Durante o café com jornalistas no dia do nascimento do neto, Dilma afirmou que estava tomando todos os cuidados para não deixar Gabriel com ciúmes do novo irmãozinho.
"Década perdida"
Em Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, também comentou o estudo do FMI que aponta o Brasil como “o grande culpado” pela “década perdida” da América Latina. Segundo a instituição, a região terá dois anos seguidos de recessão, o que não ocorria desde 1982-1983. O ministro destacou que o Brasil é a principal economia da região e, por isso, o que acontece no país influencia os demais: “O Brasil é a maior economia da região. Então, o que acontece no Brasil influencia a média da região”. Segundo Barbosa, o governo está trabalhando para estabilizar a atividade e fazer a economia voltar a crescer o mais rápido possível: “Estamos trabalhando para estabilizar a economia e recuperar o crescimento o mais rápido possível. Isso vai beneficiar os brasileiros, mas também toda a América Latina”.