(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Especialistas temem ampliação do caixa 2 nas campanhas eleitorais

A proibição do financiamento empresarial será a grande novidade da disputa de outubro. Especialistas apostam que novas regras correm o risco de turbinar ainda mais o caixa dois


postado em 10/01/2016 06:00 / atualizado em 10/01/2016 07:17

Eleitores esperando para votar em outubro de 2014, último pleito em que o financiamento privado foi permitido na campanha dos candidatos(foto: ANTÔNIO CUNHA/CB/D.A PRESS - 5/10/14)
Eleitores esperando para votar em outubro de 2014, último pleito em que o financiamento privado foi permitido na campanha dos candidatos (foto: ANTÔNIO CUNHA/CB/D.A PRESS - 5/10/14)
Brasília - Com a proibição de financiamento empresarial e a fixação de limites de gasto nas campanhas eleitorais, as eleições municipais de 2016 vão ocorrer num terreno incerto. Em tese, os políticos usarão apenas os recursos do Fundo Partidário e os provenientes de pessoas físicas. Na calculadora dos candidatos, a conta não fecha. A redução das cifras é incompatível com a cultura de gastos milionários das propagandas políticas. No pleito de 2012, por exemplo, prefeitos e vereadores gastaram pouco mais de R$ 3,5 bilhões. Neste ano, os 32 partidos terão R$ 867 milhões, provenientes do fundo, para investir. Legalmente, só há uma saída: redução de gastos e campanhas mais modestas. Mas os políticos estariam dispostos? Há quem aponte que as novas regras vão turbinar os recursos não contabilizados, o chamado caixa dois. Outros acreditam que o Brasil está dando o mais importante passo para cortar uma das principais raízes da corrupção: o financiamento privado.

O PT, por exemplo, gastou em valores atualizados pouco mais de R$ 800 milhões nas eleições de 2012. Só no primeiro turno, foram quase R$ 400 milhões. No ano passado, a cota do Fundo Partidário destinada ao partido superou R$ 108 milhões, bem distante do total gasto há três anos. O PSDB recebeu, em 2015, R$ 89 milhões do fundo. Em 2012, gastou, apenas no primeiro turno das eleições, R$ 274 milhões em valores atualizados. O abismo é gigantesco. O cientista político e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), de São Paulo, Carlos Melo acredita que os gastos das campanhas eleitorais não vão ser reduzidos. “Para mim, é claro que tendem a aumentar os recursos não contabilizados, o chamado caixa dois”, afirma. A conta dele é simples. O Fundo Partidário não cobre nem 15% dos gastos totais de uma campanha. Some-se a isso o descrédito da população, o que acarreta a baixa doação de pessoas físicas. “Mesmo o PT, que sempre foi historicamente o partido mais organizado em relação à militância, terá dificuldades de angariar doações dos seus militantes. O descrédito é muito grande”, atesta.

JUSTIÇA
A aposta de cientistas políticos e magistrados é de que o país viverá também o pleito mais judicializado da história da democracia brasileira por permitir que adversários, a qualquer sinal de gasto do opositor fora do padrão estabelecido, acione a Justiça Eleitoral. Um marqueteiro ouvido reservadamente pelo EM, com mais de 15 anos de serviços prestados a vários partidos brasileiros, foi categórico ao dizer que o dinheiro aparecerá de qualquer forma, porque não há como mudar do dia para a noite uma cultura de campanha política no país. Ele acredita que os marqueteiros podem até baratear o seu “passe” diante do novo cenário. No entanto, há toda uma engrenagem por trás que não permite um custo muito baixo.

Questionado se as recentes operações, sobretudo a Lava-Jato, não funcionariam como um freio ético significativo para barrar o caixa dois, o professor Carlos Melo diz que é muito cedo para mudar uma prática enraizada na política brasileira. “Isso pode ocorrer se tivermos uma continuidade de investigações e punições ao longo dos anos. Não se faz isso com uma única amostra de uma eleição. Para falar em mudança cultural, precisamos antes de um esforço cultural grande que só se consolida com o passar do tempo. É precoce dizer que uma operação já é suficiente pra mudar esta realidade”, opina.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)