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Estado de Minas

Processo de impeachment gera instabilidade na economia

Diante da expectativa de que o país pare por meses para dar andamento ao processo contra Dilma, especialistas temem efeitos ainda mais devastadores na economia e no cenário político


postado em 07/12/2015 06:00 / atualizado em 07/12/2015 17:56

A atuação do vice-presidente Michel Temer é apontada por especialistas como fundamental no processo de impeachment de Dilma (foto: Diana Sanchez/AFP)
A atuação do vice-presidente Michel Temer é apontada por especialistas como fundamental no processo de impeachment de Dilma (foto: Diana Sanchez/AFP)

Brasília - A possibilidade de um longo e arrastado processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff sangraria não apenas a titular do Palácio do Planalto, mas todo o Brasil na visão de analistas políticos e econômicos. O país, afundado em uma recessão econômica – que pode virar uma depressão –, com índices de desemprego crescentes, inflação de dois dígitos e retrocessos até mesmo no processo eletrônico de votação, passará por tempos ainda mais sombrios nos próximos meses. Alguns têm esperança de que, ao fim de tudo, aconteça uma virada de página. “O país já está em crise, paralisado, há dois anos. Se as coisas se resolverem em quatro meses, ótimo. Mas elas precisam se resolver”, defende o cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo (Insper). “Se a presidente Dilma for afastada, forma-se um governo de coalizão entre PMDB e PSDB e retoma-se a confiança na economia. Se ela não for afastada, que se vire a página, se esqueça de Eduardo Cunha e comece a governar”, completa.

Até mesmo o ritmo do processo é indefinido. Para o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, quatro fatores podem influenciar o andamento do impeachment: o comportamento do PMDB; a pressão das ruas; o humor do mercado; e uma quebra de confiança na presidente Dilma Rousseff. Durante o fim de semana, o PMDB já começou a ensaiar um descolamento. Desde a sexta-feira, com a entrega do cargo do ministro da Secretaria Nacional de Aviação Civil, Eliseu Padilha, ao encontro a portas fechadas do vice-presidente, Michel Temer, com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). O mercado oscilou em um primeiro momento, mas deve acalmar-se. As ruas ainda estão tímidas, sobretudo porque estamos no fim do ano. E a confiança em Dilma? “Aí que está um perigo. Ela está com um discurso muito ancorado na questão moral, de que ela é inatacável e não tem qualquer mácula. Se em algum momento da Lava-Jato se comprovar que ela sabia de algo – Pasadena, que seja – a confiança se quebra e o cenário se complica”, acredita Toninho.

ANO PERDIDO
Na economia, o receio é de que o próximo ano seja “perdido” à espera de decisões políticas. “É bom o que está acontecendo porque, finalmente, estamos terminando 2014, que engoliu 2015, que não existiu. Seja como for, temos uma limitação: as incertezas, que não são boas para as bolsas”, afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Para o especialista, a abertura do processo de impeachment, depois de gerar a alta dos índices da Bovespa e a queda do dólar, leva agora os investidores a “fazerem contas”. “Depois de uma euforia inicial, ficou evidente que o impeachment não é um evento tranquilo. Muitas dúvidas se instalam. Não acho razoável que o Michel Temer vá fazer uma reforma na economia atual, por exemplo. E, caso a presidente continue, será que essas questões serão resolvidas?”, indaga.
     
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza, acredita que a principal condição para que a economia se recuperar é “virar a página” da crise política com ou sem afastamento. “Se ela se resolver rapidamente, nos primeiros 60 dias do ano que vem, existe a chance de não perdermos mais graus de investimento, de transmitirmos calma para que os investimentos internacionais e nacionais voltem a fluir. Eu não quero um 2016 perdido. E, se nos arrastarmos por seis meses nessa briga política, vamos perder.” De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), a previsão de queda do varejo ampliado em 2015 é de 7,1%, contra retração de 1,6% no ano passado. “De longe, esse é o pior resultado do varejo da última década. Eu não me lembro de um ano em que a gente tenha revisado as expectativas para baixo todos os meses”, lamenta Fábio Bentes, economista da instituição. E o próximo ano não aparenta ser mais promissor. “A indefinição é o pior dos cenários. Quanto mais tempo durar essa aflição em relação ao cenário político, mais incerteza haverá. Se considerarmos que ela vai durar até o meio do ano que vem, quem vai investir em um país que já tem quedas na venda e alto custo de contratação?”, questiona Bentes.

AGITAÇÃO
O professor de economia Jorge Arbache, da Universidade de Brasília (UnB), argumenta que as condições para uma crise econômica se acumulam desde 2011: “a agitação política foi a faísca necessária para que ela se precipitasse e se agravasse”. “A crise chegaria no Brasil entre 2018 e 2019, com problemas de balanço, pagamento de funcionários. A política trouxe esse problema para antes.” Segundo o especialista, o país já vive um momento de espera, em que os investidores interrompem as atividades e optam por aguardar o desenrolar de oscilações no cenário econômico. Com a abertura do processo de impeachment, essa tendência deve se intensificar.


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