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Estado de Minas

Eduardo Cunha derrota Planalto e já comanda a Câmara

Após protagonizar rebeliões abertas contra o governo ao longo do ano passado, peemedebista é eleito em primeiro turno para a presidência da Casa, graças a traições da base aliada de Dilma


postado em 02/02/2015 06:00 / atualizado em 02/02/2015 07:23

Vitória de Eduardo Cunha expõe racha no governo. Em discurso, o novo presidente da Câmara afirmou que jamais fará oposição ao Palácio do Planalto, mas buscará altivez e independência do Parlamento(foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Vitória de Eduardo Cunha expõe racha no governo. Em discurso, o novo presidente da Câmara afirmou que jamais fará oposição ao Palácio do Planalto, mas buscará altivez e independência do Parlamento (foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Brasília – O governo Dilma sofreu nesse domingo a maior derrota política dos últimos anos com a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados, realizada após a posse dos 513 deputados eleitos em outubro para 55ª legislatura. Amparado pela traição mais ou menos aberta dos deputados da base aliada, o peemedebista conseguiu tirar votos do adversário Arlindo Chinaglia (PT-SP). Apoiado pelo Planalto, o petista viu os 160 votos dos parlamentares do bloco, oficializado na tarde de ontem, se reduzirem a 136 deputados na hora da urna. A primeira vice-presidência ficará com Waldir Maranhão (PP-MA).

Embora tenha adotado um tom conciliador no discurso feito logo após a vitória, Cunha deixou claro que a relação com o governo se dará em outro patamar a partir de agora: a fatura virá salgada, e a governabilidade, quando houver, terá de ser negociada caso a caso. Para deixar claro, disse que a primeira matéria a ser pautada será o 2º turno da PEC do Impositivo, que obriga o Executivo a executar as emendas dos parlamentares. O comando do Senado voltou às mãos do também peemedebista Renan Calheiros (AL).

Em coletiva, Chinaglia minimizou a derrota. “Seja o poder Executivo ou o Judiciário, a relação com o Legislativo sempre será respeitosa. A presidência não serve para atacar o governo e muito menos para defender. Isso não me preocupa. Agora, o governo terá que constituir a sua maioria”, disse Chinaglia, que também lembrou o fato de o partido ter a maior bancada da Câmara.

Embora tenha sido o principal prejudicado, a traição não se resumiu a Chinaglia: Júlio Delgado (PSB-MG), que concorreu com o apoio do PSDB, do PV e do PPS, teve 100 votos, seis a menos que o número de deputados de seu bloco. Chico Alencar (Psol-RJ) teve oito votos, três a mais que a bancada do Psol. A oposição, entretanto, comemorou o resultando como uma vitória própria, por ter ajudado a aprofundar o racha na base aliada.

Governabilidade

“O governo sempre terá, pela sua legitimidade, a governabilidade que a sua maioria poderá dar, no momento em que ela for exercida, se for exercida. Então, há aqui uma palavra de serenidade, de tranquilidade. E não há da nossa parte nenhum julgo de retaliação ou qualquer coisa dessa natureza. Nós assistimos a uma tentativa de interferência do Poder Executivo, ou de parte dele, dentro da eleição do Poder Legislativo. Mas, o Parlamento, pela sua independência, sabe reagir. E ele reagiu no voto, na escolha”, disse Cunha em um breve discurso, logo após o anúncio do resultado. “As disputas acabam aqui. Não seremos nem oposição nem submissos”, acrescentou. A campanha de Cunha providenciou chuva de papel picado no plenário e queima de fogos na Esplanada, além de festa em chácara do Lago Sul.

No grupo que apoiou o petista, as reações variavam do conformismo à revolta. “O Eduardo Cunha é um candidato do governo, não dá pra dizer que não é. Nós vamos ter que trabalhar com essa situação. Espero um trabalho em prol do país, não acho que vá ser uma ação de ressentimento. O mundo não vai acabar por isso”, amenizou o atual presidente da CCJ, deputado Vicente Cândido (PT-SP). “Algumas pautas já eram difíceis. Reforma política e regulamentação da comunicação, por exemplo, já precisariam da pressão da população de qualquer forma. Agora vão precisar mais ainda, ficaram mais difíceis ainda”, pontuou a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ).

Entre os petistas, houve inclusive quem criticasse a aposta elevada na candidatura de Chinaglia, antes mesmo de proclamado o resultado. “O PT agiu muito mais pensando no governo, ao montar essa lista para a Mesa, do que do ponto de vista da bancada. Até se cogitou um acordo com Cunha, mas desde o começo ele (Cunha) deixou claro que não estava disposto a fazer acordo. O clima que foi se construindo aqui ao longo de 2014 já indicava um desfecho como esse”, disse um petista do Rio Grande do Sul. O partido se reúne nesta terça, às 11h, para tentar avaliar a conjuntura. Para o deputado Mendonça Filho (DEM-PE), reconduzido à liderança do partido, o Planalto colheu o que plantou. “Isso mostra a desarticulação, e o tamanho do governo dentro do Congresso”.

PMDB fortalecido Embora o mesmo partido assuma o comando do Senado e da Câmara, a vitória do PMDB tem duplo significado para o Palácio do Planalto. Reeleito, Calheiros deve se manter fiel aos projetos de interesse do governo. Em troca, o peemedebista cobrará influência em algumas áreas da administração, como o setor elétrico. Eleito com folga para presidir a Câmara, Cunha agregou apoio de outros partidos da base governista insatisfeitos e já sinalizou que atuará descolado dos interesses imediatos da presidente Dilma Rousseff. Caberá a ela, satisfazer o apetite político do peemedebista e de seus aliados por cargos e fatias do orçamento.

O fortalecimento do PMDB nas duas Casas é uma derrota para Dilma, que se reelegeu com maioria apertada e agora depende do Congresso para aprovação de medidas anunciadas pela equipe econômica como a salvação das finanças do país. É ainda uma derrota ao núcleo político do Palácio do Planalto.

Os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, trabalharam pessoalmente para tentar alavancar a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP). Já há parlamentares cobrando a substituição de Vargas.

Com a vitória de Cunha, Renan também sai ainda mais fortalecido. O Planalto sabe que precisará ainda mais do peemedebista para negociações com a outra Casa, já que Cunha é adversário quase-declarado do Planalto. Na mão dos dois presidentes, está o poder de agilizar ou atrasar a votação de projetos do interesse do Planalto. São os dois que escolhem as propostas que irão ao plenário.


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