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Estado de Minas

Duas famílias rivais esquentam debate em muncípio de Minas

Em Salto da Divisa, município mineiro próximo ao estado da Bahia, os Pimentas e os Peixotos se revezam no poder


postado em 03/10/2014 00:12 / atualizado em 03/10/2014 07:58

Salto da Divisa-MG – A 865 quilômetros de Belo Horizonte, na divisa com o estado da Bahia, a ideologia partidária e as cores das bandeiras das agremiações políticas importam menos do que a as orientações de duas famílias de Salto da Divisa. Os Pimentas e os Peixotos se revezam no poder naquele município do Vale do Jequitinhonha, protagonizando disputas calorosas e, por vezes, violentas, rachando o município de 7.096 habitantes. Clima que lembra os antigos currais eleitorais, onde coronéis usavam do poder e influência para garantir a votação dos candidatos que apoiavam.
Se a política é efervescente, as reivindicações do cidadão de Salto da Divisa param nas urnas e o município sofre com problemas históricos, principalmente quanto à saúde e ao transporte. O trecho da BR-367, que liga a cidade a Almenara e, consequentemente a BH, não tem asfalto em 60 dos 100 quilômetros. Uma viagem à capital leva 16 horas de ônibus. Quem precisa de especialidade médica tem de encarar a estrada inacabada para ser atendido em outra cidade. “Tudo quanto é especialidade médica é difícil de ser marcada, de ter consultas. As pessoas precisam viajar para longe e esperar dois ou três meses pelo médico. A saúde delas piora quando são, enfim, atendidas”, afirma a educadora Jane Cristina Coelho, de 49 anos. Assim, esperança alimentada por promessas nas campanhas se esvai ao longo dos anos seguintes.

No dia a dia da campanha, carros de som e caminhadas com militantes evitam encontros nas ruas de calçamento, mas numa cidade tão pequena isso acaba sendo inevitável. Na semana passada, um encontro desses resultou em briga, mas, apesar de uma pessoa ter se ferido, tudo foi resolvido sem a necessidade de registro de ocorrência policial. As marcas desses embates políticos mudaram a história de Salto da Divisa, influindo, inclusive, na instalação da barragem que inundou as cachoeiras do cânion que deram nome ao município.

Na campanha atual, o partido do atual prefeito, Ronaldo Peixoto, apoia os candidatos de uma das principais coligações, enquanto o líder da família opositora, derrotado na eleição municipal em 2012, Rodrigo Pimenta, comanda a campanha de coligação rival. “Você não mistura água com óleo diesel. Então, aqui (na cidade) é a mesma coisa. Não insultamos as famílias nem as pessoas, mas discordamos ideologicamente”, afirma Pimenta.

Um dos coordenadores de campanha, Everaldo José Resende, de 48, diz que, apesar de acirrada, a corrida para deputados, senador, governador e presidente é menos conflituosa do que a da prefeitura e Câmara Municipal. “Mesmo assim, precisamos conseguir muitos votos para que nosso candidato, ao vencer, considere importante ajudar a região que o apoiou. Por isso, vamos de rua em rua, de casa em casa. Assim, há momentos em que os ânimos dos cabos eleitorais se exaltam um pouco mais”, disse.

Nas ruas, esse movimento é nítido. Os carros de som que mais circulam repetem as canções de propaganda eleitoral dos candidatos . Nas janelas de algumas casas e em carros particulares, aparece também material de campanha, que, de certa forma, delimita os redutos eleitorais na cidade. Até na Câmara de Municipal, o
Estado de Minas achou panfletos espalhados pelo piso do plenário, que podem indicar propaganda em espaço proibido ou tentativa de prejudicar adversários. A queda-de-braço da política já deixou cicatrizes no município.

REPRESA O nome Salto da Divisa é referência a uma série de cachoeiras que havia no cânion do Rio Jequitinhonha e desapareceram em 1999 com a construção da barragem da Usina de Itapebi, na Bahia. As águas represadas formaram um lago de 62 quilômetros quadrados, que engoliu os saltos e obrigou uma centena de famílias a ser reassentada. Uma das pessoas removidas foi a doméstica Ireni Barbosa de Oliveira, de 54. “Na época, a gente achou que não ia acontecer nada. Mas veio um tanto de políticos para cá dizendo que defendiam a gente, outros dizendo que a gente tinha de ficar. No meio disso tudo, eu e meus vizinhos deixamos a beira do rio.”

Todos os removidos receberam casas num loteamento dentro da cidade, conhecido como Vila União. Só que as atividades que desempenhavam antes, como a pescaria, caíram muito depois que o rio se tornou lago. “A única renda que sobrou para muita gente foi o Bolsa Família. Por isso, muitos venderam as casas e se mudaram. Minha sogra não vende aqui porque vive com os filhos e a gente se ajuda como pode”, disse o empresário Valdevan Morais Bahia, de 42, genro de Ireni, que criou uma fabriqueta de blocos de concreto nos fundos da casa que está construindo.

O alagamento praticamente extinguiu a lavação de roupas das tradicionais lavadeiras de Salto da Divisa. “Antes, a gente juntava na beira do Jequitinhonha, batia as roupas na pedra, cantava e conversava. Hoje, não tem mais como limpar as roupas, porque até esgoto desce no lago da barragem”, disse a pescadora Vandelia Ferreira Lima, de 31.


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