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Estado de Minas

Novos diálogos revelam que deputado e doleiro estão juntos em fraude

Conversas gravadas pela Polícia Federal mostram que Alberto Youssef e Luiz Argôlo tramaram tirar duas empresas de uma concorrência na Bahia, estado do parlamentar do Solidariedade


postado em 05/05/2014 06:00 / atualizado em 05/05/2014 09:04

Diálogos revelam planos de Argôlo com Youssef, com detalhes sobre um vinho de R$ 3 mi(foto: Carlos Moura/CB/D.A Press)
Diálogos revelam planos de Argôlo com Youssef, com detalhes sobre um vinho de R$ 3 mi (foto: Carlos Moura/CB/D.A Press)

Brasília –
Novos diálogos entre o doleiro Alberto Youssef e o interlocutor identificado na Operação Lava Jato apenas como L.A., que, para a Polícia Federal, é o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), revelam uma trama da dupla com objetivo de evitar que duas empresas participem de uma licitação. Durante a troca de mensagens, o parlamentar chega a escrever palavrões quando descobre que uma das companhias furou o plano. “Filhos da… O cara entrou. Com uma.” Numa das interceptações, registrada em 17 de outubro de 2013, o deputado é taxativo. “Rapaz, vc tem que falar com a pessoa (sic). Ele tem q tirar duas empresas do processo que será amanhã cedo. Se elas participarem, o convênio não será publicado”, avisa.

Ao ser informado pelo doleiro que “elas têm convênio com ele em Fortaleza”, o deputado justifica o pedido inicial. “Fale mesmo. Se não o pessoal do outro lado trava.” Nos diálogos, não fica claro onde a concorrência seria realizada e também quem é “ele”. Apuração da reportagem indica que a licitação ocorreu na Bahia, estado do parlamentar. No dia seguinte 18 de outubro, às 8h09, Argôlo encaminha nova mensagem para Youssef. “Os nomes das empresas são: Eletronor e Cosampa”, avisa. Um minuto depois, encaminha outro torpedo para avisar a Youssef que o monitoramento está sendo feito e o plano vai bem. “O pessoal já monitorou e sabe que tem relação com ele. Se elas derem preço, o pessoal cancela o outro. Resolvi isso com ele.”

Em outra conversa, em 21 de outubro, Argôlo avisa ao doleiro que está sem dormir e pede que Youssef cheque o contrato. “Quero que você veja logo com o rapaz do contrato. Você não sabe o quanto de compromisso”, alerta. Ao ser questionado pelo doleiro o motivo pelo qual não consegue dormir, o parlamentar responde: “O Roberto não deu mais nada, tô quase correndo nu na rua”. No relatório da Operação Lava Jato, a PF não identifica quem é Roberto.

Em todos os diálogos fica clara a intimidade entre a dupla. As cobranças e pedidos do parlamentar sugerem que os dois são sócios em alguns negócios. Às 20h13 de 21 de outubro, o político baiano dá satisfação a Youssef sobre o andamento das negociações. “Rapaz, tô sentado aqui. O pessoal quer publicar se o pessoal desistir. Fale com ele. O pessoal tá fazendo a instalação do material dele lá no Ceará.” O doleiro responde em seguida: “Quem contratou não foi ele e sim a Secretaria de Estado do Ceará. Não ele”. O deputado implora ao doleiro. “Ele tem relação o a empresa (Sic). Faça um apelo a ele. Por favor”. Youssef diz que já fez.

Vinho

Em 14 de outubro, Argôlo e Youssef trocam mensagens sobre um vinho de três mil que tinham tomado na noite anterior. “Foi bom o vinho. Valeu a pena”, escreve Youssef. O deputado pergunta o nome da bebida e o doleiro informa o valor. “Vega Cicilia (Sic). 3 pila. KKK”, responde. Trata-se de uma reserva de 1986 do tinto espanhol Vega Sicilia. “KKK mesmo. Vou voltar para tomar o resto”, diz Argôlo.

Na sexta-feira, a reportagem tentou entrar em contato com Luiz Argôlo. A assessoria de imprensa alegou que ele estava no interior da Bahia em atividades políticas. A assessoria não quis confirmar se o parlamentar reconhece ser o L.A. registrado nos diálogos da PF. Para a investigação, não há dúvida. Em uma das mensagens encaminhadas ao doleiro, L.A. informa o endereço. “302 N, Bloco H, Ap 603”. O bloco H da quadra 302 Norte é um prédio funcional da Câmara dos Deputados. No apartamento 603, mora justamente o deputado Luiz Argôlo. A reportagem telefonou para as empresas Eletronor e Cosampa, citadas nas mensagens da dupla, mas não conseguiu resposta.
Youssef, preso na Operação Lava Jato, é apontado como líder de um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado R$ 10 bilhões.

Relação estreita

O relacionamento estreito entre o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA) e o doleiro Alberto Youssef ameaçam a permanência do parlamentar no partido. Líder do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, prefere aguardar a investigação da Corregedoria da Câmara dos Deputados para decidir se toma alguma medida mais drástica em relação a Argôlo. Nos bastidores, a expulsão do parlamentar da legenda é dada como certa, mas Paulinho diz que “é preciso apurar” as denúncias. A explosão de revelações trazidas pela Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março, desmascarou um esquema de corrupção e pagamento de propina que envolve Luiz Argôlo e o doleiro.  Argôlo nega envolvimento no esquema e diz que só viu Youssef uma vez em um jantar. Agora, o deputado evita comentar o assunto. O caso dele é investigado pela Corregedoria da Câmara dos Deputados a pedido do PPS. Para Rubens Bueno (PR), líder da sigla, há indícios de que o deputado baiano, que trocou recentemente o PP pelo recém-criado Solidariedade, quebrou o decoro parlamentar ao manter relações com o doleiro preso.


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