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Estado de Minas

Vargas se licencia, vira alvo de processo de cassação e pode ser investigado pelo STF

Deputado pede licença de 60 dias por conta das acusações de envolvimento com doleiro e sepulta pretensões de presidir Câmara dos Deputados


postado em 08/04/2014 06:00 / atualizado em 08/04/2014 07:05

Vice-presidente da Câmara, André Vargas afirma ser vítima de
Vice-presidente da Câmara, André Vargas afirma ser vítima de "massacre midiático" (foto: José Cruz/ABR)

Brasília – Ao pedir uma licença de 60 dias do mandato parlamentar por conta do envolvimento com o doleiro Alberto Yousseff, o petista André Vargas (PR) sepulta pretensões políticas de presidir a Câmara dos Depuados a partir de 2015. Mais do que isso: perde poder dentro da legenda em que milita, não evita uma possível abertura de processo de cassação por quebra de decoro parlamentar nem a investigação do caso pelo Supremo Tribunal Federal.

Foi o PT quem entregou a cabeça de Vargas, incomodado com mais uma acusação de corrupção manchando a imagem do partido em ano eleitoral. No Planalto, fica o alívio de ver fora de combate um dos maiores defensores do “Volta, Lula”. Na quinta-feira, a Executiva Nacional do PT reúne-se em São Paulo para analisar a situação de Vargas. “O PT trabalha com a presunção de inocência, mas não convalida esse tipo de relação, se é que ela existe”, afirmou o presidente nacional do PT, Rui Falcão, ao sair de uma reunião no Instituto Lula. Será formada uma comissão de três integrantes da Executiva, que poderá convocar Vargas a se explicar.

 O deputado, que no início de fevereiro aproveitou a presença do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, para repetir o punho erguido dos mensaleiros presos, não resistiu à revelação de novos diálogos mostrando a ligação com o doleiro Alberto Yousseff, preso na Operação Lava a Jato. Em nota divulgada no início da tarde de ontem, Vargas afirmou que “pretende, antes de tudo, preservar a instituição da qual faz parte, a Câmara dos Deputados, enquanto prepara sua defesa diante do massacre midiático que está sofrendo, fruto de vazamento ilegal de informações”. E ressaltou “não ser alvo de nenhuma investigação”. Por enquanto.

A Justiça Federal do Paraná decidiu ontem encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) trecho da operação Lava a Jato, desencadeada pela Polícia Federal, que contém diálogos entre o deputado André Vargas (PT-PR) e o doleiro Alberto Youssef. O parlamentar possui foro privilegiado e só o STF pode autorizar a investigação.

Tecnicamente, ocorreu o que a Justiça denomina de "encontro fortuito". O alvo não era o deputado, mas a troca de mensagens com um investigado evidenciou a relação entre os dois. O mesmo ocorreu com o ex-senador Demóstenes Torres (sem partido), cassado pelo plenário do Senado em julho de 2012 por quebra de decoro parlamentar.

Diálogos interceptados pela Polícia Federal revelaram que ele utilizou o mandato para favorecer o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na semana passada, Vargas foi à tribuna, mas de nada adiantou. “As conversas do fim de semana mostraram uma relação muito estreita dele com o doleiro e o risco de envolver outras pessoas no processo”, confirmou um interlocutor palaciano.

 Na quinta-feira, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), viaja em missão oficial à China. Vargas teria que presidir interinamente a Casa, algo considerado desastroso até para petistas próximos a ele. “O desgaste seria maior ainda. A licença é uma tentativa de evitar o ato extremo, que seria a renúncia”, admitiu um companheiro de bancada.

A oposição insiste no pedido de cassação. O PSOL fez novo requerimento à Corregedoria da Casa enquanto PSDB e DEM apresentaram uma representação no Conselho de Ética da Câmara. “Na prática, do ponto de vista legal, o processo continua. Ele vai ter mais liberdade de se defender, mas isso não tira os procedimentos legais que ele vai enfrentar dentro do Conselho de Ética”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE). “Vou dar andamento ao processo, já que outros partidos encaminharam (o pedido) ao Conselho de Ética”, completou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

O deputado e o doleiro
O passo a passo da perda de poder de André Vargas


» 17 de março
A Polícia Federal desencadeia a Operação Lava a Jato para desarticular organizações criminosas que tinham como finalidade a lavagem de dinheiro em diversas unidades da Federação, movimentando recursos superiores a R$ 10 bilhões.

» 23 de março
Matéria da revista Veja informa que a empresa Labogen assinou com o Ministério da Saúde um contrato de R$ 150 milhões para o fornecimento de remédios. Segundo a polícia, a Labogen, que tem capital de apenas R$ 28 mil, é um dos instrumentos de lavagem de dinheiro de Youssef. O contato teria sido intermediado pelo deputado André Vargas.

» 1º de abril
Reportagem da Folha de S. Paulo mostra que André Vargas viajou de Londrina para João Pessoa, acompanhado pela família, em um jatinho do doleiro Alberto Yousseff.

» 2 de abril
André Vargas sobe à tribuna da Câmara e admite o uso do jatinho, mas alega que tentou reembolsar o aluguel da aeronave, sem sucesso. Nega qualquer envolvimento no contrato da Labogem com o Ministério da Saúde. Reconhece ser amigo de Alberto Yousseff há mais de 20 anos, mas afirmou desconhecer as atividades do doleiro.

» 3 de abril
O PSOL apresenta ofício à Mesa Diretora da Câmara pedindo abertura do processo de cassação contra André Vargas por quebra de decoro parlamentar

» 4 de abril
A Secretaria-Geral da Mesa rejeita o pedido, alegando que ele era inconsistente do ponto de vista regimental

» 5 de abril
Diálogos mostram a intimidade de André Vargas e Alberto Yousseff na busca pelo acerto do contrato entre a Labogen e o Ministério da Saúde. Os dois teriam conversado em 19 de setembro de 2013. Segundo a reportagem, Youssef disse a Vargas: “Cara, estou trabalhando, fique tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer... Tua independência financeira e nossa também, é claro...” . Um dia depois, segundo a revista Veja, o doleiro pediu ajuda a Vargas. “Estou enforcado. Preciso de ajuda para captar... Tô no limite”, disse Youssef. O vice-presidente da Câmara afirmou que iria “atuar”.

» Ontem
André Vargas entrega à Mesa da Câmara um pedido de licença não remunerada do mandato por um período de 60 dias.

 


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