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Estado de Minas

PSDB e PT ampliam bate-boca sobre investigação do cartel de trens em São Paulo

PSDB e PT fazem "guerra de documentos", com troca de acusações e ameaças de processos, mas deixam muitas questões sem explicações


postado em 29/11/2013 06:00 / atualizado em 29/11/2013 07:09

Cardozo sustentou que há duas cartas distintas e não uma tradução adulterada, como afirma o PSDB(foto: José Cruz/ABR)
Cardozo sustentou que há duas cartas distintas e não uma tradução adulterada, como afirma o PSDB (foto: José Cruz/ABR)

Brasília – Petistas e tucanos baixaram ainda mais o nível ontem na troca de acusações por conta das investigações do cartel dos trens em São Paulo. Os dois lados intensificaram os ataques políticos e trocaram promessas de processos judiciais mútuos por injúria, calúnia e difamação. Ao tornar a discussão rasteira, os dois contendores praticamente deixaram de lado o cerne central da questão: o PSDB paulista não explica as denúncias de corrupção em seu governo e o PT não esclarece quem adulterou os documentos em inglês e português supostamente escritos pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinhemer.

Na essência, resumir o debate à disputa eleitoral de 2014 é uma saída cômoda para os dois partidos. Pelo lado tucano, o imbróglio serviria para ocultar alguns itens que surgiram no inquérito original. O primeiro ponto seria o fato de a Siemens ter confessado a atuação em um cartel iniciado em 1998 e que durou até 2008, ao lado de outras empresas como a Alstom, a Bombardier, a CAF e a Mitsui. Além disso, a Suíça condenou um ex-diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) João Roberto Zaniboni por lavar dinheiro de corrupção. O terceiro ponto é que o ex-chefe da Casa Civil do governo de Mário Covas Robson Marinho teve uma conta bloqueada na Suíça por suspeita de recebimento de propina.

No caso do PT e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, estão sem resposta quem seria o autor das versões contraditórias das cartas de Everton em inglês e português, as razões pelas quais o ministro não registrou oficialmente a denúncia feita pelo deputado estadual Simão Pedro (PT-SP) e por que, ao perceber o aparecimento de nomes com foro privilegiado, Cardozo não remeteu a denúncia diretamente para o Supremo Tribunal Federal, optando por encaminhá-la à Polícia Federal.

Justiça

Cada vez mais pressionado, Cardozo convocou entrevista coletiva para avisar que, a despeito de princípios pessoais, vai processar políticos ou adversários que dirigirem ataques pessoais a ele. “Chamaram-me de sonso, chefe de quadrilha e vigarista. Se um ministro da Justiça não defender o cargo que ocupa, não merece ocupar este cargo”, declarou. Um dos possíveis alvos dos processos, o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, garante não estar preocupado. “Eu é que vou processá-lo. O ministro está agindo como chefe dos aloprados. Ele é o novo Zé do PT”, afirmou, em uma referência indireta ao deputado federal José Genoino (PT-SP) e ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, ambos presos e condenados no julgamento do processo do mensalão.

O ministro da Justiça chegou a acusar os integrantes do PSDB de estarem desconsiderando uma investigação que envolve diversos países, com uma série de condenações de executivos e políticos, iniciada em 2007. “Estão querendo politizar uma investigação que é técnica. Este caso não é apenas brasileiro, é mundial e estão querendo resumi-lo a um debate político-eleitoral”, afirmou. Ele fez uma apresentação em power point para tentar demonstrar que o documento em português que incrimina políticos do PSDB paulista não é uma tradução adulterada do original em inglês, mas outro relatório. O diretório estadual do PSDB paulista impetrou representação na Procuradoria Geral de Justiça para solicitar a procedência da carta que cita nomes do partido.

Em nota, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), afirma que o PT e o ministro da Justiça estão politizando o debate, com referências somente às investigações sobre o sistema de trens de São Paulo. Segundo ele, com o documento encaminhado pelo ex-diretor Everton Rheinhemer ao ombudsman da Siemens na Alemanha, em 2008, ficaria claro que o problema não está localizado apenas no sistema de transportes. Segundo o tucano, Everton garante que as práticas delituosas também são comuns na distribuição e transmissão de energia, geração de eletricidade e divisão de sistemas médicos que lidam com companhias públicas.

Memória

Origem incerta

As acusações contra políticos tucanos vieram a público após a divulgação de uma suposta denúncia do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer que foi parar nas mãos da Polícia Federal. Nesse documento, inicialmente atribuído ao ex-diretor, era apontada a "existência de um forte esquema de corrupção no estado de São Paulo durante os governo (Mário) Covas, (Geraldo) Alckmin e (José) Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM". Rheinheimer negou a autoria da denúncia. Embora um delegado da PF tenha escrito, em memorando, que recebeu as acusações do Cade, o ministro da Justiça afirmou depois que obteve o depoimento das mãos do secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, o também petista Simão Pedro. O órgão responsável pela defesa da concorrência, que investiga o cartel no mercado de trens denunciado pela Siemens, tem como presidente Vinicius Carvalho, que foi chefe de gabinete de Simão Pedro e que escondeu essa informação do seu currículo.


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