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Estado de Minas

Comemoração e indiferença em Passa Quatro, terra de Dirceu, com decisão no STF

Na cidade natal do petista, companheiros e familiares dele celebraram o voto que pode mudar a pena do ex-ministro, mas boa parte da população ignorou a sessão


postado em 19/09/2013 06:00 / atualizado em 19/09/2013 07:54

Douglas Mota e João Luiz Scianni, organizadores do PT em Passa Quatro, torcem pelo amigo de infância(foto: Paulo Fiklgueiras/EM/D.A Press)
Douglas Mota e João Luiz Scianni, organizadores do PT em Passa Quatro, torcem pelo amigo de infância (foto: Paulo Fiklgueiras/EM/D.A Press)

Passa Quatro –
O voto do ministro Celso de Mello foi comemorado, na tarde dessa quarta-feira, com o V da vitória pelos amigos e familiares de José Dirceu, na cidade natal do petista – Passa Quatro, no Sul de Minas Gerais, na divisa com São Paulo. Porém, grande parte dos 15,5 mil moradores da cidade reagiu com indiferença à decisão, fundamental para o futuro de Dirceu.

O engenheiro eletrônico aposentado João Luiz Scianni, de 65 anos, e o despachante Douglas Mota, de 70, foram amigos de infância de José Dirceu, de 67, quando estudaram no mesmo colégio. Décadas depois eles organizaram o PT na cidade. Os dois companheiros do ex-ministro assistiram à sessão do Superior Tribunal Federal (STF) pelo computador, em uma pequena lan house que funciona na garagem da casa de João Luiz, em uma travessa no Centro da cidade.

Quem também acompanhou apreensivo o voto do ministro foi Gabriel Silva Vilhena, de 32 anos, sobrinho de José Dirceu e único familiar do ex-ministro envolvido na política da cidade. Gabriel será o próximo presidente do Diretório Municipal do PT. Como foi inscrita apenas uma chapa, é certo que ele vai comandar o partido a partir de janeiro. Gabriel colaborou na controversa aliança com o PSDB que elegeu o atual prefeito, o tucano Paulinho Brito. O PT ficou com o posto de vice-prefeito e elegeu dois dos nove vereadores de Passa Quatro.

O sobrinho de Dirceu tem uma pequena empresa familiar que produz conserva de berinjela, e enquanto trabalhava na tarde de ontem, escutava atento o voto de Celso Mello, por meio de um notebook. Ele avalia que todo o julgamento foi "tendencioso" e não considera a aceitação dos embargos infringentes uma vitória, mas um alívio. "Como fui criado pela minha mãe, minha referência foram os tios", ressalta Gabriel, que sempre liga para o parente quando precisa de um conselho importante sobre política. Ontem, aliás, após telefonar para ele, o sobrinho desistiu de ser fotografado pelo Estado de Minas enquanto acompanhava a sessão do STF.

Além de Gabriel, moram em Passa Quatro a mãe de José Dirceu, Olga Silva, de 94, a mãe de Gabriel e um irmão do ex-ministro. A família resguarda a mãe das notícias sobre o filho. "Ela já sofreu muito com tudo que o tio Zé passou", lembra Gabriel.

Desde que Dirceu deixou Passa Quatro rumo a São Paulo ele foi líder estudantil, participou da luta armada, foi preso e exilado em Cuba, de onde retornou clandestinamente ao Brasil. Com outro nome e outra cara ele permaeceu no interior do Paraná e se casou – sem revelar à esposa sua verdadeira identidade. Após a anistia, em 1979, participou da criação do PT, foi eleito deputado estadual e federal por São Paulo, tornou-se presidente do PT em 1995 e um dos principais artífices da candidatura vencedora de Lula em 2002, quando virou ministro da Casa Civil. Em 2005, foi cassado e agora, condenado pelo Supremo a 10 anos e 10 meses de prisão, tenta reduzir a pena apelando para os embargos infringentes.

Memórias

Às 15h12, já tendo passado meia hora do ínicio do voto de Celso de Mello, a tensão havia diminuído na lan house, e Douglas comentou: “Como é que está o Zé Dirceu a uma hora dessas?” João Luiz prontamente respondeu: "E o Joaquim Barbosa?". O presidente do STF, Joaquim Barbosa, se tornou o alvo preferido dos companheiros de Dirceu.

João Luiz é membro do diretório municipal do PT e Douglas é filiado ao PDT. "Quando o Lula foi eleito pela primeira, vez o Zé (Dirceu) me ligou e pediu para reorganizar o PT", lembra Douglas. Após divergências com os correligionários nas últimas campanhas, ele deixou o partido, mas não perdeu a fé no amigo de infância. "Eu acho que ele (José Dirceu) é apenas um bode expiatório", entende Douglas. Do tempo de garoto ele lembra que o ex-ministro e réu do Mensalão sempre foi estudioso. "Mas era muito explosivo", destaca. Já João Luiz, que é dois anos mais novo que Dirceu, diz que sempre viu nele um líder. "Era o chefe da turma. Mas hoje, quando ele vem a Passa Quatro, nós o tratamos como um cidadão comum", explica.

Se a sessão do STF mobilizou amigos e família, não houve sinais públicos de que os moradores da cidade estivessem de olho no destino de um dos filhos mais famosos da terra. A TV Justiça não foi sintonizada nos bares e nenhum sinal de comemoração evidente era percepítivel nas ruas. A vendedora Sheyla Martin, de 50, diz que não acompanhou o caso e prefere não falar sobre José Dirceu. "Sou amiga da família, e interior é complicado", esquivou-se. O técnico em informática Iraê Brandão, de 22, também não acompanha o assunto. "Não gosto de política", resume.

Para a babá Luciana de Jesus Bento, de 50, que trabalhou por um ano e meio como acompanhante da mãe de Dirceu ,não há dúvida: "Ele fez coisa errada e deveria ir para a cadeia. Já o funcionário público Walderi Ferreira, de 50, entende que outros corruptos também deveriam ser presos. "Tem que ter cadeia para todo mundo", esbraveja.


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