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Estado de Minas UM PASSADO PARA SEMPRE NA MEMÓRIA

Passado está vivo na orla carioca onde influentes políticos mineiros tomaram decisões


postado em 01/07/2012 07:19 / atualizado em 01/07/2012 08:10

Rio de Janeiro – O passado ainda vive nos corredores e portarias dos edifícios da orla carioca onde influentes políticos mineiros tomaram decisões importantes para o país. Não faltam histórias e lembranças aos vizinhos e funcionários mais antigos da nata mineira do poder. O Golden Gate, construído no fim da década de 1940, por exemplo, recebeu o carinhoso apelido de “edifício dos mineiros”, porque lá viveram simultaneamente o presidente Tancredo Neves e o ex-governador de Minas Magalhães Pinto. Havia ainda vizinhos importantes, como o ex-proprietário do Unibanco Walter Moreira Salles e a amante de Juscelino Kubitschek por 18 anos, Maria Lúcia Pedroso, uma jovem senhora loura, casada com o deputado José Pedroso, que só não parava o trânsito porque costumava sair sempre de carro.

Ao lado do prédio com entrada de mármore, tapete vermelho e fachada arredondada – que amplia a área interna dos apartamentos de cerca de 650 metros quadrados, transformando as varandas numa espécie de jardim de inverno – subiu o Silver Gate, quase 15 anos depois. Ali morou JK e sua Sarah, quando ele ainda era presidente. Construído pelo mesmo engenheiro, o edifício tem o mármore mais escuro e detalhes no guarda-corpo. O apartamento é um pouco maior, mas a estrutura dos imóveis é basicamente a mesma: grande salão à frente, cozinha e área de serviço no meio e os cinco quartos nos fundos, no canto mais silencioso. O condomínio custa R$ 3.250.

Pagam-se aproximadamente R$ 15 mil pelo IPTU e certamente é um dos metros quadrados mais caros da Cidade Maravilhosa. O Golden Gate, por causa do presidente, mudou de nome anos depois. O número 2.016 da Avenida Atlântica ganhou homenagem a Tancredo, que tinha em seu apartamento obras dos pintores Di Cavalcanti e Guignard, além de um grande abacaxi como luminária no hall de entrada. Numa obra de revitalização, a síndica retirou a placa de metal e a família Neves chiou. “Foi deselegante”, comenta uma moradora. Hoje há outra placa instalada próxima à entrada, mas sem tanta pompa como no passado.

Tancredo morava no 10º andar e Magalhães Pinto, no 4º, em imóveis que ainda pertencem aos parentes. A família Pedroso, que vendeu o apartamento, também costumava receber nomes importantes, como o presidente Artur da Costa e Silva. As reuniões, porém, aconteciam em outro apartamento, onde não havia tantos holofotes. A discrição mineira era importante naquele momento e o elevador, que leva o visitante direto ao luxuoso imóvel, servia como redoma. “As reuniões políticas iam até a madrugada.
Os homens se fechavam com uísque e charuto, e suas mulheres iam passear no Copacabana Palace. Um dia, só desligando o ar-condicionado para acabar com o encontro deles. Tudo saiu dali: alianças, decisões e traições”, conta sorridente a mulher de um político da época.

A quase dois quarteirões dali, em direção ao Leme, janelões de vidro fumê marrom guardam as memórias dos eventos do embaixador José Aparecido de Oliveira no apartamento de 480 metros quadrados, também de frente para o mar. Ministro da Cultura no governo de José Sarney e secretário do presidente Jânio Quadros, José Aparecido era anfitrião de jantares e festas no Palacete Atlântica, que nunca passavam da meia-noite. Quatro empregados, sempre os mesmos, cuidavam dos canapés e pratos finos. A bebida importada, segundo funcionários, vinha de uma delicatessen do bairro.

“Já fizeram festas para 50 pessoas, encontros reservados para grupos políticos ou jantares para artistas”, conta o porteiro Abinadabe Azevedo de Oliveira, de 33 anos. “Já vi por aqui as atrizes Lucélia Santos e Fernanda Montenegro, quando o embaixador era ministro, na década de 1990. O presidente de Portugal, Mário Soares, era muito amigo dele e veio muitas vezes passar o réveillon. Lembro quando o prefeito Cesar Maia veio jantar e o presidente Itamar Franco se apresentou para mim e pediu para interfonar”, diz o rapaz, apaixonado por política.

Luxo alugado

Em 2002, uma reunião fechada no apartamento de José Aparecido teria definido a aliança em apoio a Aécio Neves. O apartamento hoje está alugado. O valor, comenta-se pelos corredores, atinge a cifra de R$ 15 mil. A venda não sai por menos de R$ 4 milhões, apesar de o prédio estar precisando de reformas. Abinadabe tem uma grande admiração por José Aparecido e diz, orgulhoso, que fez trabalhos de confiança no apartamento que o embaixador comprou do ex-deputado Magalhães Pinto, quando o Banco Nacional ainda funcionava.

“Era tudo muito chique. Ele tinha uma biblioteca, o teto da sala era rebaixado como uma moldura e o quarto da filha, onde fiz reparos elétricos, tinha uma parede toda pintada pelo cartunista Ziraldo. Tinha a caricatura da família e imagens da fazenda deles no interior do Rio. Havia bancadas de mármore na cozinha e uma mesa grande de madeira maciça, acho que de carvalho”, conta o porteiro.

Segundo Abinadabe, que trabalha no edifício há 16 anos, José Aparecido era um homem “bom e educado”. “Em 1999, a esposa de outro porteiro estava grávida e a criança tinha um problema sério no coração. O embaixador conseguiu que o parto da moça fosse no Hospital do Coração, em São Paulo, onde a menininha foi operada assim que nasceu. Não era política. Ele ajudou de coração.”

Os funcionários mais antigos do edifício onde morou o ex-governador de Minas Gerais Hélio Garcia, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, também falam do enorme coração do político mineiro. “A dona Joana, que trabalhou com a família durante anos, ganhou dele um apartamento no Leme. Ele sempre foi muito atencioso com todos e custeou os estudos da filha dela, que hoje é militar. Em dias de festa, ele mandava comida para a gente aqui na portaria, a mesma que os políticos comiam lá em cima nas reuniões. E era bem generoso com a caixinha do fim de ano”, conta um porteiro que pediu para não ser identificado. O apartamento hoje está fechado e raramente uma das três filhas aparece por lá.


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