Dilma amanheceu a quinta-feira convocando o vice-presidente Michel Temer (PMDB) para uma conversa de uma hora no Palácio da Alvorada. Ao longo do dia, Temer se reuniu com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Palácio do Jaburu, com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador Eduardo Braga (AM), um dos porta-vozes dos dissidentes na Casa.
Foi a segunda reunião com o vice-presidente em menos de uma semana para tentar acertar os ponteiros com o PMDB. No sábado, antes da viagem para a Alemanha, Dilma já havia chamado o vice para um encontro no Alvorada, preocupada com o movimento dos rebeldes da Câmara. Ficou acertado que o governo liberaria algumas emendas para atender os insatisfeitos.
Na noite de quarta, a presidente estava reunida com Ideli, com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, definindo quais emendas ligadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) poderiam ser descontingenciadas, quando tocou o celular da ministra das Relações Institucionais. “O Senado explodiu”, disse o interlocutor. O secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, admitiu que a situação não é confortável. “É um momento tenso, mas é hora de entender que a democracia implica vitórias e derrotas”, disse. Por meio do porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, a presidente lamentou a rejeição, mas disse que “respeita a decisão do Senado e vai indicar outro nome”.
Farpas
O dia seguinte ao veto à permanência de Bernardo Figueiredo – homem de confiança de Dilma – na ANTT foi de troca de farpas no Senado. O petista Lindbergh Farias (RJ) responsabilizou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), pela derrota e sugeriu que ele deixe o cargo. “É impossível o líder não saber daquele movimento. Deveríamos ter sido avisados”, criticou. “Temo que os deputados esperem a votação do Código Florestal para anunciar: ‘Agora é a nossa vez’”, acrescentou.
Jucá rechaçou a tese de que o PMDB tenha sido o fiel da balança para o mau resultado e voltou a afirmar que a derrota é consequência de uma insatisfação que acomete grande parte da base. “Há as mais variadas queixas de senadores, não só no PMDB, mas no PT, no PDT, no PTB e no PR. Em todos eles, houve votos dissidentes.”
Calcula-se que pelo menos 18 parlamentares aliados tenham votado contra o governo. A avaliação é que, no decorrer da sessão, os descontentes enxergaram no veto a Bernardo uma oportunidade para mandar um recado ao Planalto. No caso do PMDB, alguns encararam a possibilidade de impedir a recondução como uma maneira de enfraquecer o líder da sigla no Senado, Renan Calheiros (AL).
Um nome forte no setor ferroviário para suceder Bernardo Figueiredo seria o de Rodrigo Vilaça, hoje presidente executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). O engenheiro eletrônico ocupa o cargo que já foi de Figueiredo na ANTF.
Entenda o caso
Em votação secreta na quarta-feira, o nome de Bernardo Figueiredo para presidir a ANTT foi rejeitado por 36 votos contrários à sua indicação, 31 favoráveis e uma abstenção.
A rebelião foi conduzida, em especial, pelo PMDB. Depois de deputados do partido assinarem manifesto com críticas e cobranças ao governo, parte da bancada no Senado decidiu usar a indicação de Figueiredo para revelar a insatisfação, aproveitando a votação secreta, que permite as dissidências sem eventuais retaliações do governo.
Além da questão política, parte da base era favorável à derrubada da recondução do diretor da ANTT por ele ser acusado de uma série de irregularidades – entre elas a suspeita de que teve ações de empresas privatizadas na época em que presidiu a Associação de Empresas Ferroviárias do Brasil.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) foi um dos articuladores da derrubada da indicação, com acusações contra Figueiredo.
Retirada estratégica
Depois da derrota do governo na indicação de Bernardo Figueiredo para a ANTT, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) pediu ontem o adiamento da votação de duas indicações de diretores do órgão na Comissão de Infraestrutura do Senado. O governo ganhou prazo de uma semana para costurar a aprovação das indicações na Casa ou reavaliar os nomes. Ainda ontem, a presidente Dilma Rousseff anunciou a nomeação da engenheira Magda Maria de Regina Chambriard para o cargo de diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em substituição a Haroldo Lima. Como já havia sido sabatinada quando assumiu o cargo de diretora, ela não precisará ser novamente referendada pelo Senado.