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Estado de Minas

Juiz de Fora se prepara para despedida com proposta de rebatizar via da cidade


postado em 03/07/2011 07:35 / atualizado em 03/07/2011 10:50

Juiz de Fora – "A cidade tem um amor inabalável por ele. Mas chegou a hora de ele descansar". O lamento da aposentada Maria Maria Margarida Martins, de 65 anos, foi repetido de conversa em conversa ontem no município da Zona da Mata. Ao saber da morte do ex-presidente Itamar Franco, moradores se reuniram na Praça Henrique Alfred, no Centro da cidade, para trocar informações sobre o velório. Entre as homenagens ao senador, prefeito de Juiz de Fora por duas vezes, a primeira já foi anunciada: a Avenida Independência, construída na gestão dele, deve ser rebatizada como Presidente Itamar Franco. A previsão é de que o corpo chegue de São Paulo às 8h, e o velório deve ocorrer na Câmara Municipal até a noite de hoje.

As primeiras coroas de flores chegaram no início da tarde de ontem em Juiz de Fora. Com a expectativa de que o corpo chegasse ainda ontem, moradores encheram a Câmara Municipal, no Centro da cidade. No local, a Polícia Militar e o cerimonial da prefeitura passaram o dia programando o velório. O corpo deve passar o dia todo em Juiz de Fora e seguir para Belo Horizonte na segunda-feira de manhã.

Itamar cresceu na cidade da Zona da Mata, onde também iniciou a vida política como prefeito, em 1966. Mas, antes de comentar a trajetória que o levou à Presidência da República, moradores fazem questão de destacá-lo como um cidadão comum da cidade.

"Quando Itamar era estudante, ele frequentava a minha pizzaria. Era muito simples e simpático. Não gostava de se exibir e nos tratava com muito carinho", afirma o aposentado Domingos Silva, de 72. Segundo ele, mesmo nos tempos em que Itamar exerceu cargos públicos em outros locais, sempre visitava Juiz de Fora, mantendo apartamento no Centro da cidade.

"A cidade não enxergava Itamar como prefeito, senador, governador ou presidente. Ele sempre foi um amigo de Juiz de Fora", comenta o prefeito Custódio Mattos. Ele pretende enviar à Câmara Municipal projeto de lei para rebatizar uma das principais vias da cidade. De acordo com Mattos, uma das ações de Itamar como prefeito foi canalizar córrego no local, que alagava o Centro da cidade em períodos chuvosos, construindo a Avenida Independência.

Sem conter as lágrimas, a aposentada Maria Margarida Martins se lembra de que Itamar ajudou sua mãe em momento difícil. "Ainda era muito novinha, quando meu pai foi encontrado morto. Minha mãe tinha outros três filhos e passou muito aperto. Procurou o Itamar na prefeitura e ele nos socorreu", relata. Segundo ela, Itamar nunca permitiu ser chamado de "senhor". "Gostava de nos tratar como pessoas amigas."

Longe dos holofotes, perto de bons ideais

Um topete imponente que fazia a alegria dos cartunistas. Uma personalidade polêmica que dividia opiniões. Uma mineirice simples, mas ao mesmo tempo forte o suficiente para enfrentar leões. Personagem marcante na história política do país, o senador Itamar Franco deixou lembranças. E ontem, nas principais ruas da capital, cada belo-horizontino tinha algo a dizer sobre ele. Seja defendendo a sua forma particular de fazer política, ou dando risadas sobre o momento em que Itamar advogou o relançamento de um carro ultrapassado, o Fusca. Houve quem lembrasse até de quando ele se transformou no único chefe de Estado do mundo fotografado em público ao lado de uma mulher sem calcinha. Apesar de se lembrarem das polêmicas, os belo-horizontinos ouvidos pela reportagem defenderam que o senador nunca foi de holofotes e carregava consigo o típico mineiro: político, do bem e defensor dos bons ideais.

Mas são o Plano Real, lançado em 1994, quando ele assumiu a Presidência, depois do impeachment de Fernando Collor de Melo, e também o lado honesto do político que estão mais vivos na memória do povo de BH. Pedro Servo, de 76 anos, diz que conheceu bem o ex-presidente. Foi advogado do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), do qual Itamar era integrante e fazia a oposição à ditadura militar (1964-1983). Mais tarde, deu origem ao PMDB. “Nessa época, como filho único, lembro que para qualquer decisão ele dizia que iria consultar a mãe, dona Itália Franco”, recorda, divertido. Pedro também conta que o Café Nice, no Centro da cidade, era frenquentado por Itamar. “Ele tinha uma personalidade contraditória, mas uma coisa não podemos negar: não se envolveu em corrupção e era uma boa pessoa. Pode ter errado no governo de Minas. Mas na Presidência formou uma boa equipe, com ministros competentes, e acabou com a inflação”, diz.

Também no Centro da cidade, na Avenida Afonso Pena, o funcionário público Robson Tadeu se lembrou de Itamar em desfile na avenida no período em que era governador. “Foi a única vez que o vi de perto. Aquele topete e o cabelo branco lhe davam um ar de seriedade. Era honesto e de coragem para enfrentar e impor seus ideais. Seus protestos e ações contra as privatizações foram bons exemplos para todo o Brasil, mas ele era um exército de um homem só. Nas tribunas, defendia os nossos interesses”, diz. Outro fato importante lembrado por Robson é o outubro de 1999, quando, então governador, Itamar deslocou efetivo de 2, 5 mil homens da Polícia Militar para a área da unidade de Furnas, para evitar a privatização da empresa.

Na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, um grupo de mulheres relembrou os bons momentos do político. “Quando penso nele, penso na honestidade e integridade. O Plano Real foi seu maior presente ao povo brasileiro, pois sobre os nosso ombros havia o peso da cruz, do Cruzeiro e Cruzado. Quando veio a nova moeda, tornou-se realeza”, destacou Cléo Santos. As amigas concordaram, e Maria do Carmo Teixeira não tem dúvidas: “Políticos como ele não existem mais. Foi um grande exemplo.”

Foi ali na praça, ponto turístico da cidade, que em 200, por causa de uma briga com Fernando Henrique Cardoso (FHC), Itamar reforçou a segurança com do Palácio com militares fortemente armados, carros blindados e atiradores de elite, uma cena inesquecível para muitos. “Foi um governador que tratava a coisa pública como pública. Meu pai trabalhou com ele em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e o adorava. Sempre vi nele um homem de coragem”, comentou a bióloga Mônica Maia. E o odontólogo Roberto Wagner arrematou: “Vamos sentir saudades. Na sua era, a saúde e a educação melhoraram. Se ele estivesse ainda no poder, o Brasil seguiria o caminho da ordem e do progresso.”


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