(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Policiais africanos participam de capacitação profissional no Brasil


postado em 09/11/2008 10:55 / atualizado em 08/01/2010 04:04

(foto: Fotos: Kleber Lima/CB/D.A Press )
(foto: Fotos: Kleber Lima/CB/D.A Press )
Trinta policiais de países africanos de língua portuguesa – Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe –, apostam na informação de qualidade e capacitação para o trabalho para ajudar na reconstrução do Estado, desfigurados por lutas pela independência de Portugal e longas guerras civis. Alguns dos policiais de Guiné-Bissau nunca dispararam um único tiro e não sabem manusear arma ou têm viaturas para o trabalho policial. Laudos técnicos para apuração de crimes comuns representam uma sofisticação muito distante da realidade de São Tomé e Príncipe. A informática agora é que começa a bater à porta das força de segurança de Moçambique. Realidade que o grupo espera começar a alterar, a partir do curso de 426 horas que está sendo oferecido a eles pelo Brasil, na Academia Nacional de Polícia Federal (PF), em Brasília.

Durante dois meses, os policiais africanos, entre eles duas mulheres, vão aprender com a PF desde o básico da atividade policial, como técnicas de abordagem, tiro e direção defensiva, até a montagem de um serviço de inteligência para enfrentamento da criminalidade. “Só tenho uma vontade: adquirir conhecimento para colocá-lo a serviço do bem da nossa comunidade”, afirma Eurico Estêvão Daniel Jonas, de 44 anos, da Polícia Judiciária de Moçambique há 26 anos. O mesmo sentimento é demonstrado por Alfa Umaro Bari, um muçulmano de Guiné-Bissau, que não se preocupa com o alto nível de degradação do Estado em seu país e consegue ver um horizonte melhor a partir de uma melhor formação. “Esse treinamento é de importância capital. Não tenho palavras para descrever o que significa para nós”, confessa, com a voz embargada pela emoção.

A dureza dos treinamentos oferecidos pela PF também não assusta a policial da Interpol de São Tomé e Príncipe, Litícia da Graça Espírito Santo e Silva, de 25. Há três anos na polícia, ela revela, sem qualquer constrangimento, que passa por grandes dificuldades para conter crimes de pouca complexidade, como homicídios e furtos nas ruas, já que um laudo de perícia exige o envio do material para ser analisado em Lisboa, capital de Portugal. São apenas 100 policiais para uma população de 150 mil pessoas. “Não temos recursos materiais e nossa sorte é que, até o momento, temos poucos registros da ação da criminalidade organizada no tráfico de drogas e de pessoas. Estamos apostando na força de vontade, na superação, para alterar este quadro”, afirma Litícia.

ONU


Essa é a segunda turma de policiais africanos formados no Brasil este ano e a iniciativa, além de uma política do governo Lula de aproximação com países africanos, tem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de seu programa contra drogas e crimes – Undoc. No ano passado, o projeto fez um alerta para a necessidade de auxílio internacional para os africanos, diante da constatação de que cerca de 40 toneladas de cocaína foram traficadas para a Europa, via Oeste africano, e que um quarto de toda cocaína consumida no Velho Continente chega pela África, por um valor estimado em US$ 1,8 bilhão.

A diretora da Undoc, Sandra Valle, reafirma a posição estratégica do continente para a criminalidade organizada e lembra que pelo menos três países – São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde – falam português, o que viabiliza o treinamento no Brasil. “A Polícia Federal tem longa e vasta experiência no combate ao trafico de drogas e falamos a mesma língua. É quase impossível treinar agentes policiais tendo de usar intérpretes e tradutores”, diz. Para ela, o primeiro treinamento oferecido pela PF trouxe motivação para as forças de segurança e “mesmo sabendo que os países deles têm menos recursos do que o Brasil, se sentem responsáveis pela luta contra o trafico e sabem que, nesse tipo de trabalho, só mesmo com a cooperação internacional vão vencer”. “Essa aproximação faz com que eles tomem a liberdade de telefonar a qualquer hora e pedir por ajuda à policia brasileira”, conclui.

Mil tiros


Alinhado com o pensamento da ONU, o policial Bari confirma que as forças de segurança de seu país não têm “meios policiais para vencer as organizações criminosas” e vai mais longe: “Hoje, somos apenas 43 homens na ativa para cuidar de 1,5 milhão de habitantes. Na verdade, somos apenas a Polícia Judiciária da capital do país. Não temos condições de deslocamento rápido à parte insular de nosso território”. O embaixador do Brasil em Guiné-Bissau, Jorge Geraldo Kadri, explica que a força de segurança local passa por uma profunda reforma, já que atualmente há pelo menos nove polícias, com distintas funções. “Alguns homens nunca manusearam um revólver. Imaginem a importância de ser capacitado com a oferta de mais de mil tiros em apenas dois meses”, ressalta o embaixador.
Kadri anuncia que, além do treinamento presencial pela PF, o Brasil está montando na embaixada também um telecentro para capacitação a longa distância, com 20 computadores, o que possibilita o treinamento das demais forças de segurança. O diretor da Academia de Polícia Federal, delegado Anísio Soares Vieira, explica que o curso de formação foi montado especificamente para atender as necessidades dos policiais e antecipa que, para o próximo semestre, pelo menos outros 50 homens das forças policiais africanas vão ser recebidos pelo Brasil. Para ele, mesmo com a diferença cultural, o grupo demonstra determinação e empenho na qualificação profissional.

São Tomé e Príncipe

História: É o menor país de língua portuguesa e composto por duas ilhas – São Tomé, ao Sul, e Príncipe, ao Norte, além de pequenas ilhotas. Elas foram povoadas pelos portugueses a partir do início do século 15 e usadas como local para deportação de prisioneiros. Escravos eram usados para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. Tornou-se independente em 1975.

População: 169 mil habitantes

Efetivo policial: 130 homens (100 em formação)


--------------------------------------------------------------------------------
Moçambique

História: É um país da costa oriental da África Austral e porta de entrada para seis países. A história do país está registrada desde o século 10, mas a chegada dos portugueses ao país teve início no século 16. Entretanto, somente no século 20ocorreu a ocupação militar. A independência foi em 1975, depois de 10 anos de luta, estabelecendo o regime socialista com partido único. Depois da abertura, ele enfrentou ainda uma guerra civil de 1976 a 1992

População: 20 milhões de habitantes

Efetivo policial: não informado


--------------------------------------------------------------------------------
Guiné-Bissau

História: Localizado na costa ocidental da África e composto por 80 ilhas além de seu território continental, foi colônia de Portugal desde o século 15 até sua independência, em 1974. Durante 10 anos foi controlado por um conselho revolucionário. As primeiras eleições foram realizadas em 1994, mas dois golpes de estado mergulharam o país numa guerra civil

População: 1,5 milhão de habitantes

Efetivo policial: 43 homens e 100 em formação


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)