Ana Martins Marques comenta o novo livro de Bruna Beber
Para poeta mineira, "Veludo rouco" tem poemas cheios de calor e eletricidade
23/09/2023 04:00
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atualizado 23/09/2023 05:56
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Ana Martins Marques: há em "Veludo rouco" um trabalho de escuta e escrita da língua falada, mas também um gosto intenso pelas palavras (foto: Rodrigo Valente/Divulgação)
Ana Martins Marques
ESPECIAL PARA O EM
Um dia, meio de brincadeira, meio a sério, um poeta me disse que todo bom poema precisava ter um nome de rua. Em “Veludo rouco”, novo livro da Bruna Beber, você vai encontrar muitíssimos nomes de ruas, porque a poesia da Bruna é também geografia, um passeio pelo Rio e a Barra Funda e Moçambique, em que as ruas se cruzam em diferentes tempos e países, e numa encruzilhada você pode topar com Mário de Andrade, Dolores Duran ou Juçara Marçal.
Existe um sentido forte de vizinhança nesse livro, de proximidade e encontro e reunião, talvez até de embaralhamento. Daí a profusão de objetos – cadeiras de praia, lápis mordido, rifa de batedeira –, de lugares – quintalzinho de cimento, rodoviária, o Rainha Center Caxias –, de personagens conhecidas e anônimas – Dona Landa, Tia Celi, o DJ Rogério, e, claro, Fernanda. Para Bruna, parece, “é fácil ver o mundo”. Mas aqui se trata de um mundo que se apreende antes de tudo “de ouvido”.
Há em “Veludo rouco” um trabalho de escuta e escrita da língua falada, mas também um gosto intenso pelas palavras, que às vezes parecem se livrar do sentido e roçar umas nas outras por puro gosto do contato, uma verdadeira erótica da língua. “Veludo rouco” é um livro cheio de calor e eletricidade, de amor & humor, de vozes e avós, e sobretudo de vizinhos de todas as espécies.