Janaína Fidelis
psicóloga e especialista executiva de RH
O brasileiro passa nove horas e trinta e dois minutos diariamente em frente às telas. O número é maior do que a média global, que é de quase sete horas por dia. Os números foram publicados em um relatório em janeiro pela agência We Are Social, em parceria com a Meltwater. O Brasil está em segundo lugar, atrás apenas da África do Sul, perdendo por seis minutos diários a menos.
Checar o celular é o primeiro e o última atividade do dia para muitas pessoas. Ativar ou desligar o alarme e já emendar essa etapa com a conexão nas redes sociais virou um hábito. Estamos o dia inteiro conectados. Esse comportamento foi intensificado durante a pandemia, quando a conexão virou um aliado para combater o tédio do isolamento ou atender as diversas demandas de trabalho. Os dados da We Are Social mostram que os anos de 2020 e 2021 foram marcados pela maior quantidade de horas gastas na internet por usuários entre 16 e 64 anos.
Muitas empresas que trabalhavam em regime presencial, migraram para o remoto ou pelo menos, para o híbrido. Isso aumentou a quantidade de horas que o funcionário passa em frente à tela que precisa acompanhar demandas profissionais que chegam a todo tempo por e-mail, grupos de mensagens instantâneas e reuniões online. Um estudo encomendado pela VOCÊ RH à Fiter, feito com 101 entrevistados, revelou que 63% deles relacionam o excesso de exposição a dispositivos eletrônicos a estresse e ansiedade. 77% afirmaram que a maior quantidade de tempo que passam em frente à tela acontece no período de expediente.
Diante de tantas demandas do trabalho e agora com intensificação do online, atualmente fale-se sobre o Burnout. O Burnout é uma síndrome ocupacional reconhecida pela OMS e relacionada com o esgotamento no trabalho, seja por estresse, condições inadequadas, competitividade e/ou pressão por resultados. O Burnout "digital” é um termo que está sendo atribuído quando as fontes de pressão no trabalho acontecem em função da tecnologia. Não é uma categoria de Burnout, mas uma forma de alerta para chamar atenção sobre os aspectos relacionados ao adoecimento emocional no trabalho decorrentes da intensificação do uso do digital no trabalho. Há pesquisas que mostram a dificuldade de se desconectar das funções corporativas fora da jornada de trabalho. É preciso mudar essa tendência antes que os sinais de fadiga provada pelas exposições de eletrônico/telas comecem a aparecer.
Quanto mais tempo de tela, mais prejudicado fica o sono, maior é a tendência ao sedentarismo e maior é a produção de cortisol, o hormônio do estresse. Os resultados são: diminuição da concentração, do foco e da motivação; cansaço visual devido à superestimulação da retina; sono curto ou insônia desencadeados pelo efeito da luz das telas, que prejudicam a produção de hormônios do sono; falta de criatividade, baixa produtividade e enorme esforço para concluir tarefas simples do dia a dia, que você fazia de forma quase automática no trabalho.
Para não chegar ao ponto do Burnout, estabeleça uma rotina de higiene do sono. Isso inclui interromper o uso de telas de duas a uma hora antes de deitar. Não deixe o celular na cama, para não cair no risco de “dar uma olhadinha” e acabar se distraindo por horas, consumindo seu tempo de descanso nas redes sociais. Quando acordar, estabeleça uma rotina básica de autocuidado, como lavar o rosto e fazer alongamentos, antes de pegar no celular. Ao fim do expediente e durante os dias de descanso semanal desative notificações de grupos de serviço e faça logoff de e-mails e sistemas do trabalho que possam estar conectados ao seu celular e computador de uso pessoal. Por fim, limite o uso do celular nas próprias configurações do seu aparelho, a maioria de nós não tem noção de quanto tempo passa conectado a ele por dia.