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Estado de Minas artigo

Transplantados contra o descaso e o preconceito

É de suma importância a elaboração de uma lei que dê proteção e amparo aos transplantados e deficientes renais crônicos


03/02/2022 04:00




Kênia de Souza Missuti
Pedagoga, pós-graduada em psicopedagogia, 
portadora de lúpus eritematoso sistêmico, 
transplantada renal e imunossuprimida

Muitas vezes, é vendida erroneamente pela sociedade a ideia de que o transplante é uma cura definitiva da doença renal. Fato é que o transplante pode proporcionar melhor qualidade de vida para a pessoa e para a família. Em virtude da rigidez do tratamento hemodialítico, a realização do transplante renal representa, muitas vezes, a esperança de uma vida com mais liberdade e qualidade. No entanto, as pessoas se esquecem de que os transplantados continuam a ser portadores de uma doença crônica, que tem no transplante uma das modalidades terapêuticas, o que, portanto, exige cuidados e acompanhamento.

A doença crônica fragiliza a pessoa não só física, como mental e emocionalmente. O senso de valor e a autoestima dos pacientes também se fragilizam. Isso pode ser interiorizado não só pela pessoa, que pode passar a se sentir “menos” do que realmente é, mas também pela sociedade.

As dificuldades também existem no âmbito social, já que o convívio fica, muitas vezes, restrito à família ou a um cuidador, problema esse agravado ainda mais em tempos de pandemia. Quanto aos problemas na reinserção laboral, a dificuldade está associada ao preconceito de alguns empregadores em relação à capacidade do transplantado e a possíveis ausências/afastamento em virtude das consultas periódicas, que dependendo do estado clínico do transplantado podem ser frequentes e que, geralmente, ocorrem em localidade distante da residência do transplantado. Existem relatos de algumas associações de apoio sobre casos de preconceito em várias etapas do processo seletivo: na entrevista, no exame admissional e na conversa com o RH.

O descaso do poder público com os transplantados também é preocupante. A medicação imunossupressora de alto custo, apesar de ser fornecida pelo governo, muitas vezes atrasa ou até mesmo falta por longos períodos, colocando em risco a vida do transplantado. O não reconhecimento da incapacidade laborativa pelos próprios médicos peritos do INSS, que negam o benefício assistencial – que em muitos casos seria a única fonte de renda do transplantado não reinserido no mercado de trabalho – é revoltante e compromete a própria subsistência da pessoa, gerando mais desgaste físico e emocional.

Com base nessas constatações, acredito ser de suma importância a elaboração de uma lei que dê proteção e amparo aos transplantados e deficientes renais crônicos, e que ofereça programa de saúde, de assistência social, de educação e pesquisa, de capacitação, de recolocação profissional e de defesa de direitos. A sugestão tem como objetivo incluir os pacientes renais crônicos e transplantados na classificação de pessoas com deficiência (PCD), em consonância com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei 13.146/2015), pois os receptores de órgão continuam mantendo uma condição crônica.


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