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Não investir em ciência é investir em pobreza

Não investir em ciência e tecnologia é como investir na pobreza a longo prazo, na dependência de tecnologia de quem investe


15/09/2022 04:00

Renato de Mendonça
Bacharel em física e doutor em engenharia pela Ufop,  
especialista em história da ciência pela UFMG 
 
É quase imperceptível a velocidade com que as coisas se transformam. Uma pessoa, séculos atrás, praticamente nascia e morria no mesmo mundo. Hoje, mudanças significativas ocorrem rapidamente. A modernização e inovação são puxadas pelas descobertas da ciência. Do acordar com o smartphone e beber um cafezinho, é tudo ciência. O smartphone é composto de uma rede de semicondutores e o café é proveniente de plantas cuidadosamente selecionadas. Boa parte da ciência envolvida é desconhecida da sociedade, a qual usufrui de estudos de anos e décadas. Acontece que essa ciência despercebida no dia a dia constitui um patrimônio de uma nação e uma de suas fontes de riqueza.

Produtos, técnicas e processos empregados hoje são resultados de sucessivas pesquisas do passado. Os novos conhecimentos científicos geram tecnologias que ao ser introduzidas no mercado criam produtos que levam a benefícios econômicos. Atualmente, existem produtos diversos que são frutos de experimentos e conhecimentos acumulados em uma ou mais áreas da ciência. A energia elétrica que chega às residências é resultado do trabalho de muitos operários. Mas é também um produto acabado, proveniente das descobertas de Hans C. Oersted (1777-1851), o qual observou a capacidade que a corrente elétrica em um fio tem de criar um campo magnético. Uma descoberta realizada em um pequeno laboratório que hoje possibilita a existência de usinas hidrelétricas e termelétricas, as quais são capazes de gerar impostos, empregos e bem-estar.

Infelizmente, o Brasil tem histórico de perdas de oportunidades tecnológicas. Entre tantas pesquisas, no contexto da floresta amazônica, o potencial da borracha foi encontrado pelo europeu ao observar indígenas empregando a seiva da seringueira na confecção de bolas e utensílios. Rapidamente, a extração do látex se tornou acelerador econômico da Região Norte do país no século 19. Mas, apesar da importância, o apogeu econômico da borracha no Brasil durou pouco, a seringueira foi adaptada pelos ingleses nas suas colônias na Ásia. Enquanto no Brasil a coleta da seiva era realizada em seringueiras na floresta, na Ásia, as coletas eram feitas em florestas de seringueiras que contavam com um ambiente livre das pragas naturais existentes na Amazônia. Ainda hoje, a borracha natural é uma matéria-prima de produtos como pneus e luvas, e acredite, o Brasil a importa. É considerada material estratégico no último relatório da Comissão Científica do Parlamento Europeu, e material importante na economia de países como Malásia e Indonésia. 

Diferentemente do que ocorreu com a borracha, o café fez a rota contrária. Proveniente da África, o café foi principalmente adaptado em terras de Minas Gerias e Espírito Santo. Com muita pesquisa, o país consegue se manter como o maior produtor mundial de café. Conforme a Web of Science, o Brasil é um dos países que mais publicam sobre o tema. E esses estudos, muitos deles realizados em universidades públicas como as de Lavras e Viçosa, apoiam a formação de profissionais especializados e constituem um acervo de conhecimento sobre o café. Eles compõem tópicos como fertilizantes mais adequados, pragas e sustentabilidade. Pesquisas que mostram como o conhecimento científico pode diminuir perdas, aumentar lucros e criar riquezas. 

Apesar da complexidade do tema – afinal, ciência é mais que geração de benefícios econômicos –, não existe muito segredo. Países como os Estados Unidos e Israel apostam na pesquisa como um caminho para um futuro promissor. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os EUA investiram em 2020 cerca de 600 bilhões de dólares em pesquisa e inovação. Em 2022, só a Nasa teve um orçamento de US$ 7,9 bilhões. Para se ter uma ideia, neste ano, uma das principais fontes de financiamento da pesquisa no Brasil, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações teve um orçamento em torno de US$ 2,9 bilhões. 

Fato é que a realidade brasileira tem muitas urgências, tais como saúde e educação, porém os investimentos em ciência e tecnologia podem ser considerados relativamente baixos para um país que deseja e precisa de crescimento. Resultados de pesquisas constituem um patrimônio imaterial gerador de riquezas. Portanto, esse tema necessita entrar no debate eleitoral de 2022. Não investir em ciência, ou retirar os financiamentos dela, é um desinvestimento em um futuro mais competitivo, sem inovações. Não investir em ciência e tecnologia é como investir na pobreza a longo prazo, na dependência de tecnologia de quem investe. Oportunidades de novos produtos, metodologias, empregos e impostos são perdidas. 


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