Wagner Dias Ferreira
Advogado e vice-presidente da Comissão de
Direitos Humanos da OAB/MG
Não tem sido raro que o cidadão médio encontrado em uma situação rotineira seja interpelado com a pergunta: Por que as pessoas envelhecem?. E a resposta bate pronto com alegria: porque não morreram cedo demais. E essa resposta, habitualmente, desperta uma nova expressão facial no interlocutor, mais disposta e elevada.
Há um costume no Brasil, que é fazer uma efusiva festa de aniversário para criança de um ano. Isso ocorre porque, no país, a mortalidade infantil era muito grande até os anos 1980. De forma que, ao romper a barreira de um ano, tornava-se algo muito importante a ser comemorado.
Nos anos 1990, com o crescimento da violência direcionada à juventude, constituiu-se o marco temporal de idade entre 16 e 24 anos como uma barreira à vida das pessoas, com níveis alarmantes de mortalidade para esses jovens.
Quando o governo federal, na primeira década do século 21, empreendeu criar um Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte para alcançar o público infantojuvenil mais vulnerável a essa mortalidade precoce, um juiz de BH levantou a voz dizendo-se impressionado com a percepção de que muitos dos meninos que passaram por ele no Juizado da Infância e da Juventude ou estavam no sistema prisional ou mortos. Dando conta de que a situação era de urgência social absoluta.
As políticas de preservação da vida caminham muito lentamente, enquanto as situações de mortalidade vão a galope.
Passado o tempo, o discurso de preservação da vida no combate à mortalidade infantil e de defesa das crianças e adolescentes que vinham tombando ante a violência se transmutou para aqueles que precisam fazer a prova de vida. Esses estão vivendo mais e onerando os cofres da Previdência, e por isso o desenvolvimento das políticas restritivas à vida.
Questionamentos frequentes à vacinação, constantes reformas da Previdência, mercantilização da educação e da saúde, enfraquecimento e desmonte gradativo do SUS. Tudo para implantar um tipo de política de morte, contrária à tradição do povo que sempre festejou a vida e lutou para preservá-la.
Neste momento, é muito importante perceber como se quer viver. Como alguém que precisa provar a vida, como o personagem bíblico Abraão foi provado, ou como alguém que aprova a vida, como o povo brasileiro sempre fez ao cantar parabéns para uma criancinha de um ano que ainda nada entende.
A ação eleitoreira do governo federal buscando passar normas que permitam distribuição de dinheiro e benefícios, que mais tarde irão onerar todos, para se perpetuar no poder, praticando políticas que restringem a defesa da vida, significando para ela uma verdadeira prova.
Nas eleições, é muito importante estar atento a candidatos comprometidos e com história de aprovação da vida, do fortalecimento do SUS (potencializando a ciência, o acesso a medicamentos, tratamentos e à vacinação), da educação (proporcionando acesso à universidade) e de um sistema previdenciário e de assistência amplo e forte.
Esse olhar é fundamental. Um voto bem direcionado é imprescindível para barrar o retrocesso. E permitir ao povo voltar a cantar parabéns para recém-nascidos, crianças, adolescentes, jovens e idosos longevos.