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Estado de Minas editorial

O livro liberta

É absurdo considerar o livro um artigo de luxo. Artigos de luxo são iates, jatinhos, helicópteros, casacos de pele


25/12/2021 04:00 - atualizado 24/12/2021 14:11

Em meio à tragédia da pandemia, que já matou mais de 600 mil brasileiros, provocou a falência de empresas, desempregou milhões de chefes de famílias, mergulhou o país em uma crise econômica sem precedentes e elevou fake news e o culto à ignorância a patamares nunca imaginados, é possível destacar um aspecto alentador e surpreendente: a retomada do prazer da leitura. Com o isolamento social, parte dos brasileiros teve mais tempo disponível e pôde, como havia tempo não acontecia, se reencontrar com o universo ultradimensional dos livros. Capazes de abrir portas tanto para as mais diversas formas de entretenimento quanto para o conhecimento sem fronteiras, ilimitado.

O primeiro momento da crise sanitária foi de caos, muitas livrarias físicas tiveram que paralisar as atividades ou simplesmente quebraram. Mas, em uma segunda etapa, os livros passaram a ser comprados pela internet, e as vendas cresceram, contra todas as expectativas pessimistas. Segundo pesquisa divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), entre janeiro e setembro deste ano foram vendidos 36,1 milhões de exemplares de livros, aumento de 39% em comparação ao mesmo período de 2020.

É preciso considerar que as aquisições foram baixas em 2020, ponto de referência para a comparação. No entanto, mesmo assim, o aumento de 2021 é significativo em relação a 2019, antes da pandemia, com todo o desestímulo e prejuízo que o culto à ignorância, tão em voga nos tempos atuais, impõe à cultura. O Ministério da Economia chegou a acenar com a possibilidade de considerar o livro um artigo de luxo e eliminar a isenção de impostos. Isso representaria um aumento de cerca de 20% no preço dos livros para o consumidor.

É absurdo considerar o livro um artigo de luxo. Artigos de luxo são iates, jatinhos, helicópteros, casacos de pele, grandes fortunas escondidas em paraísos fiscais para ficarem livres de impostos. Que o luxo inalcançável a 99% dos brasileiros seja taxado, mas deixem o livro em paz. Ser leitor é uma pré-condição imprescindível para a educação e para a cidadania. O mundo do trabalho na era da informação é fundado no conhecimento. Se o Estado dificulta o acesso dos seus cidadãos ao conhecimento, a consequência é um aumento ainda maior da desigualdade social.

A proposta de taxar livros feita pelo ministro Paulo Guedes vai na contramão do liberalismo que ele próprio diz defender. Afinal, apesar de, no Brasil, a agenda liberal ser rotulada de direita e, em tese, contrária aos interesses sociais, no mundo inteiro, praticamente, é associada à esquerda ou ao centro, como nos Estados Unidos e em países europeus de longa tradição democrática. Aliás, são eles os pais da democracia, da liberdade de expressão e do Estado democrático de direito, numa época em que conservadores e comunistas censuravam livros e obras de arte e viam o homossexualismo como doença. Até hoje, em alguns países ditos comunistas e socialistas, grupos LGBTQIA+ continuam a ser discriminados e perseguidos.

Reforçando: a decisão de taxar livros afetaria a educação, a cultura, o trabalho e a economia. Prejudicaria alunos de graduação, de pós-graduação e professores. Facilitar o acesso ao livro é um item essencial de uma agenda para o desenvolvimento sustentável. Parece que o ministro Guedes quer que os pobres sejam também pobres de espírito. Veja, por exemplo, três obras que se confrontam diretamente com as mazelas políticas da atualidade: “1984”, de George Orwell, “O rinoceronte”, de Eugene Ionesco, e “O inimigo do povo”, de Henrik Ibsen.

Na ficção distópica “1984”, um dos clássicos mais vendidos durante a pandemia, a novilíngua do regime despótico reza: “guerra é paz”, “liberdade é escravidão” e “ignorância é força”. Parece um pesadelo real. O negacionismo também está no cerne da peça “O inimigo do povo”, que coloca em cena o drama de um cientista execrado publicamente porque denuncia o envenenamento de um balneário que garante a sobrevivência de uma cidadezinha do interior. Ele se torna um inimigo público. E, finalmente, na peça “O rinoceronte”, temos cidadãos respeitáveis, fascinados pelo efeito manada, que se transmutam em paquidermes ferozes. Como se vê, a leitura de livros é um dos principais antídotos contra o negacionismo da ciência, a ignorância, a manipulação das fake news e a servidão voluntária, pragas que assolam o país e o planeta.


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