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Estado de Minas

Olhar a Igreja e o mundo

Um desafio enorme: fazer com que a voz da Igreja seja cada vez mais ouvida, considerando a disputa de outros sons pela atenção das pessoas


16/04/2021 04:00



Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. 
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
 
 
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 58ª Assembleia Geral, tratou do importante exercício de “olhar” a Igreja e o mundo. Realizada de 12 a 16 de abril, no ambiente digital, a Assembleia foi emoldurada também por momentos de oração, reunindo quase 400 participantes, entre bispos, bispos eméritos, presidentes de organismos da Igreja, assessores, diáconos e padres, cristãos leigos e leigas, consagrados e consagradas. “Olhar” a Igreja e o mundo, exercício da Assembleia, integra a missão de cada bispo junto ao seu povo, na sua diocese, em cumprimento ao mandato do Senhor Ressuscitado. Cristo, antes de subir ao céu, dá aos primeiros apóstolos a responsabilidade de ir pelo mundo inteiro pregar o Evangelho a toda criatura, fazendo com que todos se tornem discípulos e discípulas de Jesus, o único mestre e senhor.

O exercício espiritual de “olhar” a Igreja e o mundo, no contexto das Assembleias da Conferência Episcopal, se alicerça na comunhão e na fraternidade. Os bispos se unem em colegialidade para fecundar seus caminhos no exercício da missão, sempre com autonomia e no horizonte dos valores inegociáveis do Evangelho, dos tesouros da doutrina e da tradição da Igreja. A congregação dos bispos da CNBB em Assembleia é o vértice de um caminho missionário percorrido e vivenciado em diferentes realidades de um mundo plural, a ser banhado com a luz de Cristo. As largas vias deste itinerário missionário incluem, pelo anúncio da Palavra de Deus, luz para o caminho, lâmpada luzente para os pés – conforme canta o salmista –, participar das alegrias e tristezas, vitórias e derrotas do Povo de Deus, a caminho, neste mundo, rumo ao reino definitivo.

A ação missionária da Igreja – que é servidora, sinal e sacramento de salvação – se efetiva a partir do compromisso insubstituível com a vida, primeiro e maior dom de cada pessoa. A Igreja se dedica à defesa e à promoção da vida desde o momento primeiro, na concepção, até o último, com o declínio na morte natural. Por isso mesmo, os pastores do Povo de Deus têm o permanente dever de olhar a Igreja e o mundo. Trata-se de compromisso missionário, exercício desafiador que cada integrante do episcopado assume quando pastoreia, com autonomia, a porção do Povo de Deus que lhe foi confiada, incluindo grupos, segmentos, colaboradores. O exercício de “olhar” a Igreja e o mundo é também experiência de comunhão, de partilha, de fortalecimento e solidariedade, em tudo, congregados como Conferência Episcopal. Uma experiência alicerçada na consciência de que todos pertencem à Igreja, presente no mundo inteiro.
 
 
 
 
 
A CNBB está a serviço da comunhão solidária, das experiências e partilhas que fortalecem e consolidam a missão de anunciar Jesus Cristo a cada pessoa. Não constitui instância de governo da Igreja em nível nacional. A força da comunhão colegial entre os bispos tem o Papa Francisco como referência primeira. O Papa é o chefe do Colégio dos Bispos do mundo inteiro, sucessor do apóstolo Pedro, constituído pelo próprio Cristo para essa missão.

A Assembleia Geral Ordinária da CNBB é um evento culminante de caminhos, práticas, serviços, partilhas, articulações, troca de experiências, escolhas fortalecedoras e correção de rumos para que a Igreja cumpra, na sua missão, o desejo de Jesus, seu Mestre e Senhor. Um desafio que requer dedicar atenção ao mundo e à própria Igreja, movimento com exigências relevantes e necessidades urgentes. A Assembleia Geral é o órgão máximo da CNBB, considerando as suas muitas instâncias constitutivas, que fortalecem sempre mais a comunhão, a participação e os serviços evangelizadores. A realização da Assembleia oferece aos bispos todos do Brasil a possibilidade de aguçar continuamente o olhar sobre o conjunto da Igreja. Uma oportunidade rica de avaliações, compartilhamentos de experiências, revisões e ajustes. Investimento na unidade que promove riquezas pastorais e espirituais, fontes de autonomia e de qualificação contínua no exercício do pastoreio. É clara a consciência da importância dessa comunhão sinodal, fecundando a missão de cada pastor junto ao seu rebanho, uma prática iluminada pelo Evangelho de Jesus – todos são aprendizes e servidores.

A importância da Igreja, com a sua voz e compromisso, no coração da sociedade, cumprindo, obedientemente e de modo profético, a missão recebida do seu Senhor, é reconhecida. Sublinhe-se que o mandato desta missão, há mais de 2 mil anos, constitui serviço evangelizador essencial e indispensável, merecendo sempre respeito irrestrito nos parâmetros democráticos de todas as sociedades. Um serviço que está para além de novas legislações e decretos. A Igreja, presente na humanidade, sempre a serviço da vida, “olha” o mundo e desempenha seu papel educativo ao anunciar o Evangelho, contribuindo para a construção da sociedade, da cultura da paz e da solidariedade. Um desafio enorme: fazer com que a voz da Igreja seja cada vez mais ouvida, considerando a disputa de outros sons pela atenção das pessoas, incluindo desvarios de interpretações e posicionamentos marcados por extremismos.

A voz da Igreja, mantendo o uníssono que ecoa de seus tesouros inesgotáveis, continua a inspirar a formação de coros capazes de impulsionar o surgimento de um novo tempo, marcado pelo humanismo integral e pelo reconhecimento de que a vida é dom precioso, inviolável, semeando a solidariedade dedicada especialmente aos pobres e sofredores. A voz da Igreja, articulada nas Conferências Episcopais de diferentes nações, jamais é ecoada com a pretensão descabida de regência totalitária do mundo. Ao invés disso, a Igreja busca congregar, pela força da atração, prestando, de modo irrenunciável, o seu serviço essencial, por saber que tem o melhor para oferecer: Jesus Cristo, o Salvador e Redentor de seu povo na Igreja e no mundo. 


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