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Estado de Minas

Israel partiu em silêncio


16/11/2020 04:00

Fábio P. Doyle
Da Academia Mineira de de Letras
Jornalista

Mais um do grupo que se reunia sempre, nos anos 50, 60, 70, para curtir um scotch amigo no Automóvel Clube, partiu na viagem sem volta. Israel Pinheiro Filho, ex-deputado do velho PSD, morreu em Salinas, para onde se mudou, certamente desiludido com a política, para se transformar em fazendeiro e produtor de cachaça.

Filho do engenheiro Israel Pinheiro, fundador e primeiro presidente da Vale do Rio Doce, construtor de Brasília, governador de Minas Gerais, deixando em todos eles a marca da ética, da competência, da honestidade. Seu avô, João Pinheiro, foi presidente do Estado. Todos nascidos em Caeté. A política fazia parte do DNA da ilustre família.

Dos irmãos de Israelzinho, nosso contato maior sempre foi com suas irmãs Gigi e Cecy, sempre presentes, inteligentes, atuantes.

Entre os amigos de Israelzinho, um dos mais constantes era o jornalista Odin Andrade, com Gilda. Inteligência brilhante e bem-humorada, Odin era filho do grande poeta Djalma Andrade. Outro, o seu colega na Assembleia Legislativa Aécio Ferreira da Cunha, com Inês Maria, filha de Tancredo Neves. Israel, do PSD, Aécio, do PR. Convivíamos todos os dias na Assembleia, eu era redator e cronista parlamentar do Estado de Minas. Naquele tempo, anos 50/60, todos os jornais davam cobertura ao Legislativo estadual, tínhamos a "Bancada da Imprensa" dentro do plenário.

Bons tempos bem antigos e nunca esquecidos. Os deputados ficavam conhecidos e famosos, ocupavam manchetes de capa ou das páginas de política, as galerias estavam sempre cheias. José Augusto Ferreira Filho era o austero presidente da casa e Pio Canedo o líder de sua bancada pessedista.

Israel e Aécio eram dos mais presentes e atuantes. Frequentar a AL era um bom programa para as tardes então tranquilas da cidade ainda em formação. Fomos sócios, os três, na incorporação do Edifício Paranoá, que está lá na Rua Luz, junto da Praça do Papa, no alto da Afonso Pena. O lote era do deputado José Augusto; o projeto do escritório de Oscar Niemeyer, modificado com o fechamento da área de pilotis; a construção, da empresa de Charles Simão. Foi nossa única obra. Em 1963, com a eleição de Israel e Aécio para deputados federais, o sonho dos três rapazes chegou ao fim.

Éramos companheiros no Rio, em Copacabana, liderados pelo inesquecível Senna Neto, com a companhia de Raul Bernardo e João Nelson, filhos do advogado famoso pelo rigor que impunha a seus filhos e a si mesmo, dr. Caio Nelson de Senna, casado com uma filha de João Pinheiro, logo, irmã do velho Israel e tia do Israelzinho, o que agora nos deixou.

Em Brasília, ou no Rio, Israel Filho conheceu, depois namorou e casou com uma bonita, suave, elegante, extremamente educada moça, Vera Chaves, filha do engenheiro Juca Chaves, empreiteiro de obras na nova capital em construção.

Acompanhamos, eu, Rachel e nossos amigos comuns, no Rio, depois aqui, o romance do agitado namorado, depois noivo, com a doce e bela mocinha loura. Casados, vieram morar em BH, em um apartamento, conseguido por Rachel, no mesmo quarteirão de nossa casa, no alto do Santo Agostinho. O que nos aproximou mais ainda. Vera, sem parentes na cidade, amiga de minha família, frequentava nossa casa ou levava meus filhos, ainda crianças, para seu apartamento. Para eles, até hoje, ela continua a ser a "tia Vera".

Israel, nascido em 1931, tinha 89 anos. Era filho do ex-governador Israel Pinheiro e de d. Coracy Uchôa Pinheiro e deixa do casamento com Vera Chaves Pinheiro uma filha, Ana Paula Chaves Pinheiro. Era engenheiro civil formado na PUC do Rio de Janeiro em 1953. Especializou-se em construção de pontes, túneis, hidrelétricas, de 1954 a 1956, nos Estados Unidos, estagiando na empresa Morrison-Knudsen. Seu primeiro mandato foi o de deputado estadual, de 1959 a 1963. De 63 a 1999, foi eleito seis vezes deputado federal. Ocupou diversos cargos importantes, como secretário de estado de Transportes por duas vezes, diretor da Vale do Rio Doce, secretário municipal e presidente da Sudecap, em BH.

Talvez decepcionado, ou cansado, com a política brasileira, resolveu abandonar tudo para começar vida nova. Contra minha opinião e conselhos meus e de quase todos os seus amigos, pois achávamos que ele deveria seguir a tradição política deixada pelo pai e pelo avô, um dia ele nos comunicou estar de mudança para Salinas, norte de Minas. Havia comprado de nosso também amigo Clemente Medrado Filho, o Kelé, a fazenda da família dele em Salinas, famosa pela cachaça de qualidade, para quem gosta, que lá era fabricada.

E lá foi ele, certamente feliz com a nova aventura. Nunca mais eu o vi. Recebia, esporadicamente, mensagens, telefonemas. Um para comunicar, eufórico, o nascimento (ele se casara em Salinas, sem comunicar aos amigos) de Israel Neto, que era um de seus velhos desejos. Tempos depois, outra ligação para contar, também alegre, que nascera Coracy, filha batizada com o nome da avó. E foi só. Nunca mais conversamos. Soube que estava doente. Que estaria internado. E outras notícias preocupantes.

No primeiro dia de novembro, a comunicação triste. Meu velho e bom amigo partiu em silêncio. Foi descansar. Qual teria sido seu último pensamento? A cortina se fechou.


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