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Estado de Minas

Maturidade política

Cabe aos três poderes da República baixar a temperatura da ganância política pessoal


postado em 13/06/2020 04:00



João Dewet Moreira de Carvalho
Engenheiro agrônomo
 
 
 
 
A maturidade em uma pessoa é como uma luz que lhe torna mais fácil andar pelos misteriosos caminhos da vida. E, com isso, os tropeços futuros tornam-se mais raros. O mesmo ocorre com as nações. Pois, por mais irresponsável que tenha sido, durante anos, a condução de qualquer país, há que se chegar um dia em que todo o acúmulo de arbitrariedades cometidas passará a servir como uma luz de alerta sinalizando caminhos futuros a serem evitados.

Por isso, recordo uma velha história familiar de quase 100 anos. Quando um dos meus bisavôs paternos, próspero fazendeiro e comerciante na região de Jussiape, na Bahia, foi vítima do cangaceiro Lampião.

Minha centenária bisavó Dinha contava-nos do terror provocado pelo cangaceiro, quando ele passou por aquela região, desencadeando fuga em massa da população. Pois a fama das crueldades praticadas pelo sanguinário e seu bando já era, há muito tempo, o principal assunto entre todos. Por isso, ela, com a maior parte dos agregados, fugiu e foi se esconder bem longe.

No entanto, seu velho e intrépido esposo, juntamente com seu inseparável agregado Zé Gavião, permaneceu na fazenda, em sua bem sortida venda. Logo, o bando de cangaceiros chegou e realizou o saque, se abastecendo sem cerimônia. Meu bisavô assistiu impávido ao assalto. E, ainda, se mostrou solícito quando requisitado. No final da pilhagem, o cangaceiro chefe, saindo da venda, avistou a mula preta do meu bisa amarrada sob a sombra de uma árvore. Ela era a menina dos olhos do velho, além de ser considerada a montaria mais preciosa de todo o sertão. Lampião logo cobiçou a marchadeira e, sem reservas, se apossou da afamada Amaralina. Colocando nela seus arreios, montou-lhe suntuosamente. E, com todos os alforjes da imensa tropa fornidos de mantimentos, vestuários e diversas outras mercadorias roubadas, seguiu viagem com seu bando sertão adentro.

Ao se ver fora de perigo, meu bisavô fez mentalmente a contabilidade do prejuízo material sofrido e, virando-se para Zé Gavião, disse-lhe: "Zé, saímos no lucro!". Zé Gavião retrucou: "É, eu sei! Estamos vivos! Mas, e quanto a Amaralina?". O velho bisa, sorrindo, lhe revelou: "Zé, a vida é feita de estratégias. Além de muita paciência, sabedoria e coragem. Quem as detém não as expõem, imaturamente, em bravatas. Ao contrário. Só deve demonstrá-las nos momentos cruciais. Senão, elas deixam de ter a relevância e serventia que as dão distinção. Por isso, para sobreviver na vida, cabeça fria é o que mais importa! Portanto, vamos deixar o passar do tempo relaxar a vigilância do bando. Afinal, Amaralina vale muito mais do que todas as outras coisas que eles levaram. E ela vai voltar!".

Passados alguns dias, o velho chamou Zé Gavião para uma conversa secreta. Logo, após alguns conselhos e estratégias combinadas, o experiente Gavião foi despachado em busca de sua valiosa presa. Retornando, calmamente, poucos dias depois, com a missão cumprida. A preciosa Amaralina foi escondida no estreito canal da roda d'água que movia o engenho do alambique da fazenda. Ali, A mula preta permaneceu a salvo dos olhos de todos. Ninguém desconfiava do retorno dela.

Quando parte dos cangaceiros veio, dias depois, atrás da fugitiva. Pois eles pensavam que a mula tivesse fugido por si mesma, retornando à antiga moradia. Então, inquiriram ao meu bisavô se ele não a havia visto. E desconfiados, diante da negativa dele, vasculharam, exaustivamente, toda a propriedade atrás da mula. Só não foram ao canal da roda que movia o engenho do alambique. Como nada acharam, partiram para novas diligências em outras distantes paragens.

Alguns dias depois da partida dos cruéis cangaceiros, meu bisa e Zé Gavião trouxeram a preciosa mula preta para que todos a contemplassem. E soubessem que para sobreviver nessa vida é mais recomendado ser racional do que filho intempestivo das emoções.

Por isso, maturidade é imprescindível. E aí a ponderação e o equilíbrio se destacam. Pois, só assim, sobressairão virtudes como as do exímio estrategista nas tomadas de decisão; da invulgar sabedoria nos inúmeros momentos espinhosos; da imprescindível coragem nas lutas inadiáveis; além de paciência nas constantes negociações políticas. Afinal, são essas virtudes presentes nos estadistas de uma nação que geram estabilidade social; promovem o sadio crescimento econômico, por motivar a melhoria do ambiente de negócio, responsável direto pela criação sustentada de empregos; apoiam a segurança pública através do respeito ao Judiciário e ao dar exemplo do exercício da legalidade constitucional; além da permanente preocupação em capacitar toda a população escolar para a existência futura através de uma educação eficiente e eficaz.

Portanto, para tornar possível a manifestação de todas essas virtudes no atual nocivo ambiente político do Brasil, cabe aos três poderes da República baixar a temperatura da ganância política pessoal e passar a pensar na sua imensa e intransferível responsabilidade frente ao reerguimento do país. Em vez de continuar tumultuando o já tão atribulado ambiente social da nação. Pois, para isso, basta o estrago provocado pela atual pandemia do coronavírus. Afinal, já passou da hora de se forjar um novo entendimento sobre a real função do setor público. E, dessa forma, poder resgatar o Brasil da imaturidade política que, até então, tem predominado e travado o país de ser uma nação promissora para seu povo e predestinada a se sobressair entre as maiores potências mundiais. Caso contrário, a falência será o único destino da nação brasileira.



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