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A relação entre as artes e a medicina

Pouco se ensina nos cursos de medicina sobre a abordagem do paciente, a interpretação dos sinais emocionais, a ética


postado em 14/12/2019 04:00


Jair Raso
Neurocirurgião, escritor, dramaturgo, diretor teatral 
e curador do Teatro Feluma
 
 
Os avanços tecnológicos aplicados à medicina têm revolucionado os processos de diagnóstico e o tratamento de doenças, trazendo inúmeros ganhos para a área da saúde. No entanto, à medida que as estruturas hospitalares vão ficando mais robustas e os procedimentos técnicos padronizados e automatizados vão ganhando espaço, a relação médico-paciente vai ficando mais fria e objetiva.

É preciso lembrar que cerca de 70% de todos os diagnósticos são advindos da anamnese, ou seja, das informações que o paciente fornece ao médico. Por isso, é preciso sensibilidade e cuidado para que as relações humanas não sejam sobrepostas por números e estatísticas. A medicina humanizada promove a união entre o tratamento técnico de qualidade e a relação de cooperação entre médico e paciente.

Em todo o processo diagnóstico e terapêutico, a familiaridade, a empatia, a confiança e a colaboração estão altamente implicadas na relação médico-paciente. Saber ouvir, respeitar o sofrimento e a dor, as diferentes culturas e formas de compreensão das palavras: tudo isso, também, deve fazer parte da formação do médico. E, infelizmente, em geral, pouco se ensina nos cursos de medicina sobre a abordagem do paciente, a interpretação dos sinais emocionais, a ética, a participação nas decisões sobre sua saúde e seu corpo.

Ao ingressarem na faculdade, os jovens alunos se deparam com uma quantidade enorme de informações, se deslumbram com a ciência, mas não são, em sua grande maioria, preparados para lidar com seu dia a dia de futuros médicos. Se recorrermos à literatura, bastante extensa e complexa sobre o assunto, as definições e conclusões são descritivas, pouco fiéis à realidade e quase na sua totalidade frias.

Com a vivência dos consultórios e plantões, alguns conseguem perceber que é possível amenizar a dor e oferecer conforto e alento a quem sofre. Mesmo com tantas dificuldades, são capazes de criar um ambiente agradável e propício para receber o doente e interagir com ele. Outros seguem analisando quadros e exames, colocando pacientes em máquinas para enxergá-los por dentro.

A tecnologia avançada, a despeito dos seus benefícios, acabou colaborando para o esfriamento dessa importante interação. Ao buscar a formação em artes cênicas, ainda nos meus tempos de faculdade, pude perceber que o contato com a arte ampliou os horizontes da interpretação do comportamento e sofrimento humanos. E por acreditar, profundamente, nisso, tenho, pessoalmente, procurado fomentar a discussão desse tema no ambiente acadêmico e profissional. 

O interesse pela integração das artes e das ciências humanas na formação médica não é nenhuma novidade. Apesar de que poucos estudos avaliaram formalmente o efeito desse tipo de capacitação, especificamente na competência clínica, vários programas em diversos países, agora, oferecem (ou exigem) que os estudantes de medicina tenham aulas em disciplinas de artes ou ciências humanas para ajudar a adquirir as aptidões fundamentais para o bom atendimento clínico, como a observação, o pensamento crítico e a empatia. 

Uma das docentes da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e assessora de política e avaliação, Maria Inês Fini, já visitou instituições de ensino pelo mundo e observou a importância dada às artes e à cultura nas universidades. Além de investir em pesquisas científicas, também são grandes incentivadoras das atividades culturais, especialmente o desenvolvimento artístico. Associa-se à arte o pensamento criativo e o desenvolvimento da inteligência não só cognitiva, mas socioemocional.

Sob essa perspectiva, a Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, desenvolve projetos voltados à promoção da cultura, da educação, da saúde e do bem-estar social. Este ano, inaugurou o Teatro Feluma, projeto financiado com recursos próprios, tendo como objetivo entregar à comunidade acadêmica, à sociedade e à classe artística um espaço cultural a custo zero para os produtores e artistas mineiros, buscando ampliar a visão de que a cultura exerce papel fundamental, também, como matriz social e educacional. Com isso, pretendemos fazer da cultura e das artes um instrumento a mais para a formação humanística do profissional de saúde.


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