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Estado de Minas EDITORIAL

Violência contida

As forças de segurança de estados e da União se articularam, juntaram inteligências, trocaram informações


postado em 05/09/2019 04:00

"Voo de galinha" é expressão usada inicialmente por economistas. Depois, caiu na boca do povo. As três palavras descrevem fenômeno de melhora que não consegue sustentar-se ao longo do tempo. Em poucos anos, míngua como pneu furado. Opõe-se ao voo de águia – constante, estável e duradouro. Começa no chão, ganha as alturas e plana na imensidão com leveza e segurança. Sem limite.

A imagem vem a propósito dos números divulgados pelo Sistema Nacional de Informações da Segurança Pública (Sinesp). De janeiro a abril de 2019, houve queda de homicídios em 22 unidades da Federação. Comparado ao mesmo período do ano passado, o registro de mortes violentas caiu 20%. A redução de barbáries como homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de óbito é notícia alvissareira e merece aplauso. Mas o esforço deve prosseguir para que, de um lado, não haja retrocessos e, de outro, ocorram avanços indispensáveis para alcançar índices civilizados.

Significativa a cifra quadrimestral correspondente a um quinto do total de vítimas – mais que necessária num país cujas estatísticas são alarmantes. No Brasil, a violência mata mais do que guerras. São 65 mil homicídios por ano. Na Síria, país deflagrado desde março de 2011, houve 20 mil mortes em 2018. Nos sete anos de confronto, a nação árabe perdeu 350 mil vidas. A média anual, 50 mil pessoas, é inferior à brasileira.

As razões para o êxito de abrangência quase nacional (apenas cinco estados amargaram aumento da violência) são várias. Uma delas vai ao encontro do que Millôr Fernandes costumava repetir com irônica lucidez: "Não existe crime organizado. Existe polícia desorganizada". Ao conjugar o verbo somar em vez de dividir, as forças de segurança de estados e da União se articularam, juntaram inteligências, trocaram informações. Em português claro: passaram a integrar a equipe da sociedade em vez de fazer gol contra.

Espera-se que os governos tenham feito a leitura correta do tempo. A segurança é demanda da população talvez mais premente que saúde, educação ou mobilidade urbana. O cidadão quer sair de casa com a certeza de que retornará. Quer que o filho volte vivo da escola. Quer que o Estado esteja nas mãos das autoridades competentes, não de milícias ou de líderes de facções bandidas que ditam sentenças do interior de presídios.

Uma das bandeiras de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral foi o combate ao crime, que rouba até o direito de ir e vir de adultos e crianças. As urnas disseram sim à promessa. Daí por que é bem-vinda a notícia de redução da barbárie. Mas não é suficiente. Os índices precisam cair. Muito. Até chegar aos percentuais de nações desenvolvidas. Para atingir a meta, impõe-se continuar a ascensão do êxito do bom combate. Galgar degraus superiores pressupõe, necessariamente, manter o orçamento da segurança pública. Reduzi-lo ou contingenciá-lo é apostar no voo de galinha.


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