A Ouvidoria das polícias de São Paulo exige uma investigação rigorosa sobre os métodos usados por policiais militares para prender um homem acusado de furto no domingo (4). O homem de 32 anos, negro, teve as mãos e os pés amarrados por policiais militares após ser detido acusado de roubar produtos em um supermercado na Vila Mariana, zona sul da capital.
![O homem é acusado de roubar produtos de um supermercado na Vila Mariana, zona sul da capital paulista(foto: Reprodução/Redes Sociais) Imagem do homem sendo carregado pelos pés e mãos por policiais](https://i.em.com.br/ukE6lfXjtofw1ts3hXa4cLYW5fo=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2023/06/07/1504094/imagem-do-homem-sendo-carregado-pelos-pes-e-maos-por-policiais_1_117549.png)
Enquanto é carregado, o homem grita de dor e afirma que está colaborando com a polícia. Segundo o ouvidor Claudinho Silva, serão solicitadas as imagens de monitoramento da UPA e uma apuração rigorosa por parte da Corregedoria.
"A gente não pode naturalizar esse tipo de tratamento", disse. "Aquilo é tortura, não é abordagem policial". Para ele, existiam outras condições para render o homem, pois o número de policiais era grande e, no limite, o acusado poderia ter sido algemado pelas pernas.
O ouvidor afirmou que a forma como o homem foi carregado lembra a de um "pau de arara". A expressão é usada para descrever um instrumento de tortura utilizado contra as pessoas que eram consideradas inimigas da ditadura militar brasileira (1964-1985).
"Aquele formato de carregamento, quando você vai fazer alguma analogia na história, é com o pau de arara", disse. Junto com o ativista Paulo Escobar, o padre Júlio Lancellotti, conhecido pelas ações sociais que realiza com os moradores de rua, publicou o vídeo em suas redes sociais e questionou o comportamento dos policiais.
"A pobrefobia institucional. A escravidão foi abolida?", perguntou. Em nota, a Polícia Militar lamentou o episódio e afirmou que a conduta dos policiais não é compatível com o treinamento e valores da instituição.
Foi instaurado um inquérito para apurar o ocorrido e os policiais foram afastados preventivamente das atividades operacionais.
"As ações estão em desacordo com os procedimentos operacionais padrão da instituição", diz a nota.
A Prefeitura de São Paulo afirmou que, ao tomar conhecimento da ocorrência, solicitou as autoridades competentes a completa investigação dos fatos nos termos da legislação em vigor.
O homem foi preso em flagrante junto a outras duas pessoas, sendo uma delas um menor de idade. O caso foi registrado no 27º DP, no Campo Belo, também na zona sul. A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) descreveu a cena como uma barbárie e questionou o fato de o episódio ter acontecido na maior cidade da América Latina e sob a vista de várias pessoas.
"Uma abordagem policial desumana contra uma pessoa em situação de rua, uma violação grave aos direitos humanos", afirmou. Ela informou que acionará a Corregedoria da Polícia Militar para apurar o caso e defendeu a punição dos envolvidos.