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Estado de Minas CARNAVAL 2022

Alma lavada com a cara limpa

Sob a bênção dos indicadores de recuo da COVID, rostos sem máscara e garra para desafiara crise econômica deram tom de vitória às escolas do Rio


24/04/2022 04:00

O Salgueiro desfilou com samba-enredo sobre histórias de superação ligadas à comunidade negra
O Salgueiro desfilou com samba-enredo sobre histórias de superação ligadas à comunidade negra (foto: Mauro Pimentel/AFP)

Rio de Janeiro - Foi difícil ver algum rosto coberto por máscara no sambódromo da Marquês de Sapucaí durante os desfiles das escolas de samba. No Rio de Janeiro (RJ), o uso da proteção facial em espaços abertos é dispensado desde março. Entre os componentes das seis escolas de samba que abriram o Grupo Especial do carnaval, na noite de sexta e madrugada de ontem, a sensação era de vitória. O primeiro triunfo: conseguir desfilar ainda em meio a uma pandemia, mas com a bênção de indicadores científicos; a segunda conquista: poder colocar as agremiações na rua em um momento de crise econômica.

A segurança oferecida pelos números da COVID-19 pode ser vista a partir dos dados hospitalares da doença. Ontem, por volta das 17h, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, havia, nos ambulatórios da prefeitura, apenas oito pessoas internadas com sintomas que indicavam coronavírus; não existia fila de espera por vaga.

Na pista, onde as notas dos julgadores valem tanto quanto as estatísticas da COVID-19, o mote era resistência. A palavra norteou o desfile do Acadêmicos do Salgueiro, uma das atrações da primeira noite. O enredo do Salgueiro, originalmente, era sobre histórias de superação ligadas à comunidade negra. O tema, no entanto, ganhou "tempero" que reflete os dois anos sem folia. "Foram muitas coisas contrárias à nossa festa e à nossa cultura. Resistimos bastante – profissionais e os apaixonados por carnaval", disse, ao Estado de Minas, o cantor Emerson Dias, um dos intérpretes oficiais salgueirenses.

As alegorias vistas pelo público eram, em sua maioria, imponentes no tamanho. Embora bem feitas e ricas em detalhes, como uma enorme ave levada pela Beija-Flor de Nilópolis, não tinham a opulência e o luxo de tempos idos. Com as limitações no campo financeiro, a solução foi tirar da cabeça o que o bolso não oferece. "Houve problemas financeiros. Toda escola tem. Mas, graças a Deus, temos patrocinadores e parceiros que ajudam a escola. Nossa quadra é a maior fonte de renda do Salgueiro", explicou André Vaz, presidente da escolha vermelha e branca.

CHORO E EMOÇÃO A Mangueira abusou do verde e do rosa para retratar três de seus ídolos. Os rostos de Jamelão, Delegado e Cartola apareceram em vários pontos da apresentação – o compositor, inclusive, foi visto em fotos ao lado de Zica, seu grande amor. Integrantes da comissão de frente utilizaram maquiagens parecidas aos homenageados. Os bailarinos levantaram o público durante trocas de roupas em pouquíssimos segundos.

Na Beija-Flor, a intelectualidade negra foi exaltada a todo tempo. Livros dos escritores Milton Santos e Carolina de Jesus –"Por uma Outra Globalização" e Quarto de Despejo", respectivamente – foram expostos em um dos carros. Uma ala trouxe, ainda, rostos de atores como Mussum, Lázaro Ramos e Grande Otelo.

O carro de som comandado por Neguinho da Beija-Flor deu um show à parte. Antes de a sirene tocar, ele cantou sambas famosos da escola. "São 46 carnavais (completados) neste ano. Não fosse a pandemia, seriam 47", lamentou o intérprete.

E, se houve uma escola a incorporar, de fato, a tese de que esta é a folia do recomeço foi a Viradouro. O enredo sobre o carnaval de 1919, o primeiro após o surto de Gripe Espanhola, teve surpresas. No fim do desfile, bailarinos levantavam peças de um quebra-cabeça que formava a letra do samba da escola. O movimento levou as arquibancadas ao delírio, porque a canção, escrita como se fosse uma carta, foi cantada por todos os setores da Sapucaí. A escola, no entanto, lamentou quando o mestre-sala Julinho perdeu um de seus sapatos – o incidente pode gerar perda de pontos no julgamento. Um dos compositores do samba, Felipe Filósofo se emocionou. "Em desfiles importantes assim, trago chá de erva cidreira", contou, atribuindo o ritual à "sabedoria ancestral".

Na São Clemente, houve muitas menções ao mais famoso personagem do homenageado Paulo Gustavo. Por isso, Dona Hermínia, a mãe da trilogia "Minha mãe é uma peça", foi a grande estrela. A bateria e o time de canto da escola vieram, inclusive, trajados de Hermínia. "Ele (Paulo Gustavo) foi irreverência, alegria e descontração", explicou Maninho, um dos cantores clementianos.

A apresentação contou com a participação de muitos famosos. Nomes como os atores Fábio Porchat, Marcelo Adnet, Betty Gofman e Marcos Veras figuraram na lista de participantes ilustres da apresentação. A São Clemente fez questão de mostrar, também, a luta de Paulo em prol dos direitos da comunidade LGBTQIA+. Momentos do casamento dele com Thales Bretas foram exibidos.

O sambista Arlindinho, filho de Arlindo Cruz, foi um dos cantores que auxiliou os intérpretes oficiais. Vestido a caráter, como mais um das centenas de Hermínias, ajudou a conduzir um samba escrito por ele próprio. Na letra, os principais fatos da carreira de Paulo Gustavo são narrados pela mãe dele, Déa Lúcia. Segundo Arlindinho, a escolha por compor uma música em primeira pessoa foi a forma encontrada de fazer um tributo à mãe do ator.

"Nada mais justo do que homenagear, tentar minimizar (a dor) e trazer um pouco de alegria a tudo que essa mulher viveu. Por isso, Dona Dea é tão maravilhosa". A força da mãe de Paulo Gustavo encantou os componentes clementianos. Déa passou pela avenida no topo de uma alegoria que passou apagada por causa de um problema no gerador de energia. "Ela merece um enredo. Ela é incrível", pediu Arlindinho.

O BRILHO DA MINEIRA 


O show do carnaval carioca foi, em parte, protagonizado por uma mineira. Natural de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a atriz Erika Januza ocupou, pela primeira vez, o posto de rainha de bateria. Ela desfilou à frente dos ritmistas da Viradouro.

Erika levantou o setor um da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro (RJ), assim que pisou na passarela. Ela chegou a chorar na avenida. A atriz vestiu uma fantasia que representava as rainhas do bloco Cordão do Bola Preta, que costuma sair pelas ruas da capital fluminense durante os dias de folia. É uma mistura de emoções e sensações. Alegria e gratidão: tudo ao mesmo tempo", assinalou ela, ao site "Sambario".

A relação entre Erika e a comunidade da escola de Niterói não poderia ser melhor. "O samba é uma família só. Não tem estado. Minas está muito bem representada com ela", afirmou o presidente da Viradouro, Marcelo Calil Filho.

Rainha da Furiosa do Salgueiro, Viviane Araújo não perdeu o samba no pé mesmo estando grávida. Aos 47 anos, ela está no quinto mês de gestação e espera pelo nascimento de Joaquim. Viviane desfilou como Cabocla Jurema, uma das principais entidades da Umbanda. Jurema é tida como a "rainha das matas". Já na Imperatriz Leopoldinense, quem roubou a cena foi Iza, cantora que ocupou, pelo segundo ano, o posto de majestade da agremiação.

BH também tem praia e folia

BH também tem praia e folia
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

O clima de folia tomou conta da Praça da Estação, na Região Central de Belo Horizonte, na tarde ontem. Depois de dois anos sem carnaval por causa da pandemia da COVID-19, a tradicional Praia da Estação reuniu um grande número de pessoas na comemoração fora de época.  Muitos foliões aproveitaram a tarde de sol na capital para se divertir ao som de marchinhas de carnaval. Para refrescar o calor, jatos de água (foto) eram lançados de um caminhão-pipa. A Praia da Estação é um dos primeiros movimentos que levantou a discussão da utilização dos espaços públicos em BH para o lazer. Em dezembro de 2009, a prefeitura publicou um decreto proibindo a realização de “eventos de qualquer natureza” na Praça da Estação. Em resposta ao decreto, no ano seguinte, foi criada a “Praia da Estação”. Após o primeiro encontro, o evento passou a se repetir em todos os verões e se tornou um movimento importante no calendário belo-horizontino.

Vacinação infantil

Segundo apurou o EM junto a interlocutores da prefeitura carioca, uma das estratégias adotadas pela cidade para aumentar a vacinação infantil, que preocupa gestores país afora, foi o envio de cartas aos pais de alunos da rede municipal. Os que enviassem o documento de volta com uma assinatura, permitiam que sua criança fosse imunizada dentro da escola. A aplicação de injeções no ambiente escolar acelerou o processo. No Rio, a cobertura vacinal dos pequenos acima de 5 anos ultrapassa 92%; entre os adultos, o índice é de 99%. Em Belo Horizonte, por exemplo, embora mais de 99% dos maiores de 12 anos tenham tomado a segunda dose, segundo dados de 20 de abril, a injeção de reforço foi aplicada em cerca de apenas 34% dos pequenos entre 5 e 11 anos. O baixo índice, inclusive, faz o prefeito Fuad Noman (PSD) segurar a liberação para a dispensa do uso de máscaras em ambientes fechados. "Fico muito preocupado em colocar essas crianças na escola sem máscara e a contaminação aumentar novamente. A questão é: se mais de 70% tomaram a primeira dose, por que não tomam a segunda?", disse ele ao EM na semana passada, em tom de apelo.





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