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Estado de Minas COVID-19

Sem vacinação expressiva dos brasileiros, país deve manter precaução

O alerta é de Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul


08/08/2021 06:00 - atualizado 08/08/2021 08:12

(foto: Sérgio Lima/AFP - 23/1/20)
(foto: Sérgio Lima/AFP - 23/1/20)
O número de hospitalizações e mortes por COVID-19 está em queda no Brasil, sobretudo nas localidades que sofreram com a doença respiratória no primeiro semestre deste ano, como Amazonas, Porto Alegre e Santa Catarina. O declive se deve ao avanço na vacinação no país, embora com atraso, que faz brasileiros imginarem um Natal e um Réveillon melhores do que no ano passado, mas o cenário é instável. O perigo, agora, está na circulação da variante Delta, cepa do coronavírus que surgiu na Índia.
 
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência dos Estados Unidos, informou que a variante Delta é responsável por 83% dos novos casos confirmados de COVID-19 naquele país. Trata-se de número alto se comparado àquele divulgado no começo de julho, quando 50% dos casos sequenciados geneticamente estavam ligados à nova cepa. Além disso, o órgão divulgou documento no qual alerta que a Delta é mais transmissível, por exemplo, que ebola e catapora.
 

"Temos uma parcela grande da população que ainda não foi imunizada no contexto de uma nova variante que está chegando, e que é mais transmissível. Isso pode, ainda, trazer impactos importantes"

 
 
Outro alerta também foi ligado no Boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado no mês passado. Pesquisadores da instituição identificaram transmissão comunitária no nível mais preocupante de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em Belo Horizonte e outras oito capitais. A SRAG pode ser um indício de COVID-19.
 
Para analisar o cenário atual e os novos riscos da pandemia da COVID-19 no Brasil, o Estado de Minas conversou com Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. O especialista destacou a queda importante no número de mortes, internações e casos no país, mas chamou a atenção para uma quantidade grande de pessoas que ainda não foram imunizadas completamente, o que pode provocar impacto no sistema de saúde em função da variante Delta.
 

"Assistimos à redução importante de óbitos, internações e casos, mas nos grupos que já têm imunização completa, acima de 70 anos."

 
 
“Temos uma parcela grande da população que ainda não foi imunizada no contexto de uma nova variante que está chegando, e que é mais transmissível. Então, pode, ainda, trazer impactos importantes, pois ainda não temos uma grande parcela da população imunizada com duas doses da vacina”, alertou. Para quem já planeja festas de fim de ano, ele diz que ainda é cedo para pensar em reunir a família e os amigos. Nesta entrevista, Julio Croda detalha como é a variante Delta e diz não acreditar numa terceira onda da COVID-19 ainda em 2021. Confira os principais trechos da conversa com o pesquisador e professor.
 
A despeito da tendência de queda no número geral de mortes no Brasil, é possível ver que os óbitos aumentam entre pessoas abaixo de 60 anos. Como o senhor analisa a situação da pandemia?
Temos redução importante de óbitos, internações e casos, mas nos grupos que já têm imunização completa, acima de 70 anos. Era importante que a gente já tivesse avançado na vacinação, ou seja, as doses que poderiam ter sido compradas no passado estivessem disponíveis neste momento. Perdemos muito tempo e estamos retomando essa caminhada. Existe uma aceitação muito boa da população com relação à vacina – 94% aceitam –-, temos muita dificuldade por medidas restritivas. Então, realmente, a vacina se torna um caminho mais viável para controlarmos a pandemia. Só que temos uma parcela grande da população que ainda não foi imunizada no contexto de uma nova variante que está chegando, e que é mais transmissível. Isso pode, ainda, trazer impactos importantes, pois ainda não temos uma grande parcela da população imunizada com duas doses da vacina.

Com a queda de mortes e de internações, a maior parte das capitais está retomando a “vida normal”, com uma maior flexibilização de setores da economia, como eventos. É hora de liberar mais atividades?
Acho que é importante a gente entender que não é a taxa de cobertura que vai determinar a flexibilização das atividades, e sim o nível de transmissão e impacto no sistema de saúde. O indicador epidemiológico é mais importante que a taxa de cobertura. Temos que flexibilizar com calma, com prudência e com responsabilidade, sempre utilizando os indicadores epidemiológicos – taxa de ocupação de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e de leitos hospitalares, além do número de casos de COVID – e programar essa flexibilização com mais cuidado, no contexto de uma nova variante, para não precisar de, novamente, medidas restritivas que trazem impactos econômicos muito severos. Toda precaução é importante neste momento, enquanto não temos uma cobertura expressiva de vacinação. Temos que ter precaução até a gente ter indicações similares às do Reino Unido, por exemplo, que está com sua população 70% vacinada com duas doses.

O país já identificou a circulação de novas variantes, como a colombiana, além da Delta, que chegou no Brasil recentemente. Como o senhor definiria essa nova variante?
É mais transmissível. A maioria dos pacientes que estão hospitalizados não receberam nenhuma dose de vacina ou estão com esquema vacinal incompleto. No Reino Unido e nos Estados Unidos houve um pequeno aumento de hospitalização nesse grupo, com 99% dos pacientes hospitalizados que não receberam a vacina. Então é mais transmissível, pode gerar maior impacto no sistema de saúde, principalmente por ser mais transmissível, porque se tem mais casos, mais hospitalizações e mais óbitos. Mas existe uma grande diferença em países que têm uma elevada cobertura, com aumento de casos e aumento proporcional de hospitalizações e óbitos. Em países com baixa cobertura e que têm circulação da variante Delta, você vai ter um aumento de hospitalizações, casos e óbitos.
O que a gente sabe é que ela é mais transmissível, mas em termos de sua patogenicidade, ou seja, que agrava a doença, provavelmente não.

Faltando pouco mais de cinco meses para o fim do ano, os brasileiros começam a pensar nas festas de Natal e Réveillon. É hora para programar as comemorações de dezembro?
É cedo porque há muitas incertezas pela frente. Não sabemos quando teremos grande parte da nossa população vacinada com duas doses. Não sabemos se vão surgir novas variantes. Por enquanto todas as vacinas funcionam para prevenir casos de hospitalização e óbito, para todas as variantes. O mais importante é que os indicadores epidemiológicos sejam seguidos. Existe uma tendência de queda de hospitalizações e óbitos. Permanecendo essa tendência em dezembro, a situação estará mais tranquila, com cobertura vacinal maior, com vacinas funcionando contra variantes. Não há como dar nenhuma certeza de que vamos chegar ao Natal e ao Réveillon já com o controle da pandemia. Podemos ter esperança, pensar em programar algo, mas existe uma grande incerteza até neste momento. Se tudo correr bem, continuar como está indo - em termos de vacinação e de circulação de variantes -, sim, teremos um Natal e Réveillon muito melhor do que em 2020/2021.

É possível que ocorra uma terceira onda no Brasil ainda em 2021?
Difícil acontecer uma terceira onda na magnitude do que vivemos entre março e abril. Acho improvável, porque já vacinamos pessoas acima de 60 anos e pessoas com comorbidades. Como foi em março e abril, acho que não viveremos, no contexto da variante Gama e sem uma vacinação expressiva da população naquele momento. Acho que não viveremos uma terceira onda neste ano. Pode ocorrer aumento de número de casos ainda em 2021, principalmente no contexto da variante Delta, mas o que a gente viveu entre março e abril talvez não, porque estamos avançando com a vacinação, principalmente nos grupos de maior risco.


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