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Estado de Minas covid-19

Morre mais gente do que nasce no Sudeste

Pandemia traz impactos para a estrutura populacional brasileira. Dados de abril mostram fenômeno demográfico inédito entre estados da região


12/04/2021 04:00 - atualizado 11/04/2021 22:38

Sepultamento na Grande BH: país registra disparidade entre mortes e nascimentos pela primeira vez, o que só era esperado para meados do século (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Sepultamento na Grande BH: país registra disparidade entre mortes e nascimentos pela primeira vez, o que só era esperado para meados do século (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Nos seis primeiros dias de abril, o número de mortos superou o de nascimentos no Sudeste do Brasil – algo inédito. Foram 12.181 óbitos, ante 11.744 nascimentos, um indicativo de como a pandemia de COVID-19 pode alterar a estrutura populacional brasileira. O país já computa mais de 351 mil mortes e 13,4 milhões de casos confirmados da doença.

A letalidade excessiva fez o país adiantar em mais de duas décadas, ainda que de forma provavelmente temporária, um fenômeno demográfico previsto para acontecer apenas em meados do século 21.

Segundo dados preliminares do Registro Civil Nacional/Portal da Transparência, nos três primeiros meses deste ano, o número de mortes excedeu o de nascimentos no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Em abril, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste já registram mais mortes, embora os dados ainda tenham de ser consolidados.

Segundo especialistas, mesmo que haja represamento dos registros de nascimento, não seria suficiente para aproximar tanto as duas curvas se não houvesse excesso de mortalidade. Em geral, o número de nascimentos no Brasil anualmente é mais que o dobro do número de mortes.

Mesmo que a tendência não se confirme para todo o Brasil até o fim do mês, dizem, é significativo que o país tenha registrado tais números pela primeira vez em sua história. Normalmente, o número de mortes só excede o de nascimentos em países muito desenvolvidos. É o caso do Japão, por exemplo, onde a taxa de natalidade é extremamente baixa.

Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontavam que a população brasileira só alcançaria esse patamar e pararia de crescer em 2047. Daqui a 26 anos, o Brasil chegará a 233 milhões de pessoas.

HISTÓRICO 
O fenômeno, no entanto, já foi registrado de forma excepcional e pontual em momentos de tragédia e profunda desestruturação social. Foi o que ocorreu com a Segunda Guerra Mundial, a epidemia de Aids em alguns países da África e o colapso da antiga União Soviética.

No caso atual do Brasil, além das mortes provocadas diretamente pela pandemia, há uma elevação do número de óbitos por outras causas. Isso ocorre diante do colapso do sistema de saúde, causado pela pandemia. Para especialistas, é normal também que as pessoas tenham menos filhos em um momento de crise.

“Evidentemente, o eventual decrescimento vegetativo atual é excepcional e se deve ao agravamento da pandemia”, afirmou o demógrafo José Eustáquio, funcionário aposentado do IBGE. "Controlar o vírus e reduzir as mortes é essencial para que as pessoas possam decidir ter filhos em um ambiente saudável e para que a transição demográfica possa seguir o seu ritmo menos traumático."

PROJEÇÃO 
Na análise de Miguel Nicolelis, neurocientista e professor catedrático da Duke University (EUA), o número total de mortos pode superar o de nascimentos em abril. O total de óbitos causados pela COVID-19 pode ultrapassar os 500 mil em julho, avalia. "No pico da primeira onda já houve um crescimento enorme de mortes", disse. "Agora, em março, chegaram a 174 mil. A expectativa de óbitos de abril já passa de 100 mil no mês. Nas minhas contas poderemos ter 200 mil ou mais mortes totais, somando todas as causas. Nesse sentido o Brasil estaria no negativo. Está difícil fazer previsão, mas falar em 500 mil mortos até julho talvez seja conservador agora."

Eustáquio concorda com o colega. "Não é improvável que em algum mês de 2021 o número de óbitos supere o de nascimentos. Isso seria um fato absolutamente inédito na história brasileira, que é marcada por um crescimento muito consistente e acelerado ao longo dos tempos", afirmou. "Embora as taxas de fecundidade estejam caindo desde a década de 1960, as projeções do IBGE e da ONU indicam que o número de habitantes do Brasil vai continuar crescendo até a década de 2040 e só deve começar a diminuir na segunda metade do século."

A demógrafa Márcia Castro, do Centro de Estudos para População e Desenvolvimento da Universidade de Harvard, não acredita que vá haver redução da população no Brasil. Considera, porém, que os números são muito significativos. "Não é que a população vá diminuir, claro que é algo temporário", afirmou. "Mas é uma mudança inédita, algo que nunca tinha acontecido, considerando o nosso estágio de transição demográfica. Mas nunca tínhamos visto um crescimento do número de mortes desse jeito e quando comparamos com os anos anteriores, e olhamos para os estados, vemos claramente relação com a pandemia."

Para Márcia Castro, mais do que nunca seria importante a realização do censo. Para Nicolelis, mudanças demográficas de longo prazo poderão ser sentidas no futuro, com a redução da população economicamente ativa, por exemplo. Segundo os especialistas, um lockdown rigoroso e mais longo é necessário para deter a escalada das mortes.

"É uma mudança inédita, algo que nunca tinha acontecido, considerando o nosso estágio de transição demográfica. Nunca tínhamos visto um crescimento do número de mortes desse jeito e quando comparamos com os anos anteriores, e olhamos para os estados, vemos claramente relação com a pandemia"

Márcia Castro, demógrafa, do Centro de Estudos para População e Desenvolvimento da Universidade de Harvard


Infectados devem esperar 30 dias para se imunizar

No momento em que a vacinação contra a COVID-19 está sendo realizada no país, uma das dúvidas mais comuns é o que muda no caso de quem já teve a doença quando da aplicação da vacina. Segundo o infectologista Hemerson Luz, quem já teve a COVID-19 deve esperar ao menos um mês antes de tomar a vacina contra a doença. Esse intervalo é contado a partir de 14 dias depois do diagnóstico positivo, quando foi convencionado que a pessoa se livra do vírus.

Ele explica que ainda não há publicações e estudos demonstrando efeitos, mas que médicos têm adotado esse tempo mínimo para evitar potenciais efeitos adversos.

Se a pessoa tiver com a doença aguda, com febre e com sintomas da COVID-19, ela não deve se vacinar. Antes disso, deve procurar um médico para receber orientações e ter um diagnóstico se está ou não com o novo coronavírus.

"Se tiver com sintomas vou esperar encerrar o meu quadro. Se eu tiver com sintomas, tenho que procurar o médico para verificar o diagnóstico. Se tiver infectado, tem que aguardar até resolver o quadro e aí depois de 30 dias", explica o infectologista.

Luz lembra que a vacina pode causar efeitos adversos, em geral no local da aplicação, como inchaço, vermelhidão, febre ou indisposição. Mas essas reações não duram mais de 48 horas e podem ser tratadas com remédios como analgésicos e antitérmicos.

O infectologista alerta que quem já foi infectado pode contrair a COVID-19 novamente, mas o quadro deve ser brando. "A (vacina) CoronaVac tem eficácia de 50% para pegar a doença, mas é 100% eficaz contra o caso grave. A (vacina) Oxford/AstraZeneca é um pouco mais efetiva, a 70%, mas mesmo assim existe possibilidade de ficar doente", disse.

O infectologista ressalta a importância da vacinação mesmo para quem já teve a COVID-19. E acrescenta que não é preciso ter receio, pois não há chance da vacina causar doenças. Mesmo aquelas que utilizam vírus inativados não têm qualquer possibilidade de replicação do vírus no organismo.

O intervalo deve ser contado a partir de 14 dias depois do diagnóstico positivo (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O intervalo deve ser contado a partir de 14 dias depois do diagnóstico positivo (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Minas registra mais de 28 mil vidas perdidas

Minas Gerais passou das 28 mil mortes pela COVID-19 ontem, após atualização divulgada em boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Desde o início da pandemia, são 28.004 vidas perdidas pelo coronavírus em território mineiro.

Desses óbitos, 386 foram registrados entre sábado e ontem. Já o total de casos confirmados em Minas chegou a 1.225.818 desde o início da pandemia, com 5.180 confirmações nas últimas 24 horas.

O governo de Minas também informa que 87.782 pacientes seguem em acompanhamento e que 1.110.032 conseguiram se recuperar da COVID-19. Também de acordo com a SES, 2.156.274 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a COVID-19. Dessas, 666.437 conseguiram tomar a segunda. Ao todo, 4.631.172 foram distribuídas pelo governo.

AGLOMERAÇÃO No momento em que a pandemia está recrudescendo no estado e em BH, um churrasco com cerca de 100 pessoas foi interrompido pela Polícia Militar (PM) na tarde de ontem em uma sede da torcida organizada Galoucura, que fica no aglomerado Sovaco das Cobras, na Região Noroeste de Belo Horizonte.
De acordo com a PM, a corporação foi até o local após a suspeita de aglomeração. Por causa da pandemia de COVID-19, eventos que gerem tumulto estão proibidos. Embaixo de uma escada, do lado de fora da sede, foram encontrados: 12 bombas caseiras, uma porção de maconha, 12 bombas caseiras, uma caixa foguete 32. Em um dos carros estacionados na porta da casa também foram encontrados 24 bastões. Todo o material foi apreendido.
Ainda segundo a PM, a suspeita era que o grupo tinha a intenção de se ir para as imediações do Mineirão, onde estava sendo realizada a partida entre Cruzeiro e Atlético. Três pessoas foram conduzidas pela PM. Os outros foram dispensados para não gerar aglomeração na delegacia. (Matheus Muratori)


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