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Estado de Minas

Segundo turno das eleições pode sofrer influência do caso de racismo no Carrefour, avaliam especialistas

Estudiosos avaliam que caso de João Alberto pode influenciar o 2º turno da corrida às prefeituras e favorecer candidatos e partidos que têm no programa pautas voltadas para a igualdade. Mas, legendas de centro percebem a necessidade de trazer o tema para debate


23/11/2020 09:19 - atualizado 23/11/2020 09:28

(foto: Silvio Avila/AFP)
(foto: Silvio Avila/AFP)
O brutal assassinato do soldador João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e asfixiado por dois seguranças brancos em uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre, fez com que o debate sobre racismo tomasse conta da pauta nacional e se inserisse na curta campanha do segundo turno das eleições, que ocorre no próximo domingo. Para analistas políticos, o crime pode ter um efeito nas urnas, sobretudo em favor dos candidatos de esquerda, que têm o debate sobre igualdade racial como ponto programático.

A morte de Beto pode ter um efeito, ainda que em menor escala, semelhante ao caso de George Floyd, cujo assassinato por asfixia por dois policiais brancos foi decisivo para a mobilização do movimento antirracista nos Estados Unidos e ajudou a eleger o democrata Joe Biden –– sobretudo porque o presidente Donald Trump, em momento algum, se manifestou contrariamente à atitude agressiva dos dois agentes.

Reflexo nos jovens


Analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis afirma que as pautas identitárias, ligadas a direitos das mulheres, dos grupos LGBTQIA+ e de movimentos negros, foram muito incorporadas à política brasileira, especialmente nas eleições municipais. “Não tenho dúvida de que (a morte de João Alberto) tem um grande efeito (no segundo turno)”, salienta, ressaltando não ser possível fazer uma projeção exata dos efeitos nas urnas ou de mudanças de cenários que podem resultar do caso.

Coordenador do núcleo de estudos sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio afirma que já foi possível perceber o aumento de destaque das pautas identitárias no primeiro turno, e que a questão tende a pautar o sistema político. Para ele, os candidatos que ignorarem o assunto correm o risco de serem rejeitados por setores da sociedade.

“Aqueles que, consultados sobre a questão tiverem discursos negacionistas, tendem a ter uma reação desses segmentos que não aceitam mais essa postura”, disse, acrescentando que legendas de centro, centro-direita não serão “ponta de lança” no debate antirracismo –– que continuará a ser pautado pelas de centro-esquerda.

Impacto nos indecisos


Professora e coordenadora do programa Diversidade da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, Lígia Fabris afirma que o episódio pode mudar cenários quando se pensa em especial nos indecisos. Para ela, aqueles que não decidiram o voto, mas se sensibilizam com o debate sobre racismo e o assassinato de Beto, podem decidir seus votos com base nas melhores propostas para as questões igualitárias.

“Isso pode levar os indecisos a decidirem por aqueles prefeitos que se colocam de maneira mais contundente, firme, e que consigam articular essa injustiça como uma transformação que o seu governo vislumbra”, afirmou.

Cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernanda Barros ressalta que pode ser que os partidos de centro adequem suas falas “com mesclas discursivas de adesão e mitigação da agenda racial”. “Apresentarão sensibilidade em torno dos protestos negros, porém sem grandes ações políticas que modifiquem as assimetrias sociais entre negros e brancos. Os de centro-direita também poderão se aproximar da questão racial a partir do uso simbólico da imagem de políticos negros, com a retórica de meritocracia e Estado cego à cor e seus efeitos”, afirmou.


Evento discute racismo estrutural 

Com o objetivo de colocar em pauta temas como combate ao racismo e espaço dos negros na sociedade, o evento Democracia e Instituições: Crises e Desafios promove a live Consciência Negra e Racismo Estrutural. A discussão será hoje, a partir das 17h, com transmissão na página do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). De acordo com a organização, a abertura do evento fica por conta do ministro do Supremo Tribunal Federa (STF) Gilmar Mendes. O debate on-line contará, ainda, com a participação do desembargador Ney Bello; do professor do IDP, Rodrigo Mudrovitsch; do especialista em Direito Constitucional Marco Antônio Delfino; a promotora do Ministério Público do Rio de Janeiro, Roberta Ribeiro; do ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça, Marivaldo Pereira; e da especialista em relações raciais e segurança pública do sistema prisional, Deise Benedito. A mediação será de Haderlann Cardoso, especialista em direito constitucional.

Três perguntas para Beatriz Della Costa Pedreira
“Representatividade está ganhando tração”


Além do número recorde de candidaturas negras em 2020, uma pesquisa encomendada pelo Instituto Update mostrou que os brasileiros estavam mais dispostos a votarem em mulheres e em negros nas eleições municipais. Entre as mulheres, as negras são o grupo visto como o mais eleitoralmente viável — inclusive em comparação aos homens. Ao Correio, a cientista social e diretora do Instituto Update, Beatriz Della Costa Pedreira, explicou como as projeções destas eleições poderão refletir no cenário eleitoral de 2022.

O movimento de candidaturas de representatividade deve avançar ainda mais em 2022?
A visão de uma política representativa começa a brotar de forma muito tímida, é algo que está ganhando tração. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda não capturou isso, mas as candidaturas coletivas, por exemplo, estão trazendo essa percepção da sociedade que procura por uma representatividade e não por uma identidade. Eu, enquanto mulher branca, posso votar num coletivo de mulheres por me sentir representada por aquela bandeira. Precisamos ter um pouco de paciência, pois a história não é tão rápida, mas sociedade já caminha para tais mudanças.

As candidaturas representativas estão mais atreladas aos partidos de esquerda. Existe algum movimento dos partidos de centro ou até direita para abarcar esse movimento?
Pensando em 2022, essas candidaturas nascerão muito dos movimentos da sociedade civil organizada, mas que terão que buscar as legendas para se candidatarem. Não vejo espaço nesses grandes partidos de centro, pois eles são movidos pelo fisiologismo e não irão mexer em time que está ganhando. Claro que, no interior, existem algumas candidaturas independentes nesses partidos, mas nas capitais as bandeiras da diversidade não ganham espaço. Se eles aderirem ao movimento, será de maneira eleitoreira e oportunista. Tais partidos são uma herança da política que sempre houve no Brasil, não há muito o que se fazer.

Unidos e acabou favorecendo o candidato Joe Biden. Você acredita que o assassinato do João Alberto, no Rio Grande do Sul, deverá impactar as urnas no segundo turno do próximo domingo?
Mesmo que as comunidades estejam mobilizadas, o Brasil é mais complexo que os Estados Unidos. Infelizmente, temos uma fragmentação muito grande. Tivemos uma comoção muito grande entre os ativistas, e os que já lutam por essa causa. Mas, não vi isso expandir para fora da bolha. (WO)

O assassinato de George Floyd teve grande impacto nas eleições dos Estados Unidos e acabou favorecendo o candidato Joe Biden. Você acredita que o assassinato do João Alberto, no Rio Grande do Sul, deverá impactar as urnas no segundo turno do próximo domingo?
Mesmo que as comunidades estejam mobilizadas, o Brasil é mais complexo que os Estados Unidos. Infelizmente, temos uma fragmentação muito grande. Tivemos uma comoção muito grande entre os ativistas, e os que já lutam por essa causa. Mas, não vi isso expandir para fora da bolha. (WO)



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