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Estado de Minas Justiça

Acusados de matar João Alberto continuam presos; crime reforça debate sobre racismo

Morte do soldador, agredido por dois seguranças numa loja do Carrefour, em Porto Alegre, comove o Brasil. Criminosos serão indiciados por homicídio, e polícia apura motivação racial. Hipermercado diz que rompeu contrato com empresa terceirizada


21/11/2020 09:57 - atualizado 21/11/2020 10:13

(foto: Reprodução/Redes Sociais)
(foto: Reprodução/Redes Sociais)

O Dia da Consciência Negra foi marcado pela dor da luta diária, pelas insistentes perdas. Ontem, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, representou a triste realidade da população preta no Brasil.

O assassinato dele, por dois homens brancos, numa unidade do Carrefour, em Porto Alegre, causou comoção e revolta no país. Beto, como era conhecido, foi brutalmente espancado, na quinta-feira à noite. Um dos agressores o imobilizou apertando o joelho contra as costas dele. O laudo médico aponta morte por asfixia. Os dois estão presos.

Os suspeitos do assassinato são Magno Braz Borges, 30, e o policial militar temporário Giovani Gaspar da Silva, 24, que faziam a segurança do estabelecimento.

(foto: Reprodução/Redes Sociais)
(foto: Reprodução/Redes Sociais)

“Agredido bruscamente por facínoras. Chamar aquilo de segurança é desmerecer os verdadeiros seguranças”, lamentou o pai da vítima, João Batista Rodrigues Freitas, 65. “As únicas coisas que podemos esperar é por Deus e pela Justiça. Não há mais o que fazer. Meu filho não vai mais voltar”, afirmou ele, classificando o crime como tendo motivação racista.

As investigações preliminares apontam que João Alberto se desentendeu com uma funcionária, e a segurança foi chamada. O soldador foi levado para a entrada da loja e teria dado um soco no PM. Passou, então, a ser espancado.

Ao sogro, a esposa de Beto, Milena Borges Alves, 43, relatou o episódio. “Ela me contou que o segurança apertou o meu filho contra o chão, e ele já estava roxo. Fazia sinal com a mão para ela fazer alguma coisa, tirar o cara de cima, mas um outro segurança empurrou a Milena”, contou João Batista. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Milena reiterou a versão.

Nas imagens, é possível ver pessoas gritando para que as agressões ao soldador cessem. “Vamos chamar a Brigada (Militar)”, disse alguém, ao fundo. Em uma das gravações, o homem é derrubado e atingido por, ao menos, 12 socos.

“Tentamos intervir, mas não conseguimos. A gente gritava ‘tão matando o cara’, mas continuaram até ele parar de respirar. Fizeram a imobilização com o joelho no pescoço do Beto, tipo como foi com o americano (George Floyd, morto por policiais, neste ano, nos Estados Unidos)”, relatou um vizinho da vítima, Paulão Paquetá, que estava no local.

João Alberto deixa quatro filhos e uma enteada. Segundo a polícia, ele tinha antecedentes criminais por violência doméstica, ameaça e porte ilegal de arma.

Investigação

Responsável pela apuração do homicídio, a delegada Roberta Bertoldo declarou que o caso não é, inicialmente, tratado como racismo. “Até o presente momento, não se vislumbra que a cor de pele desse indivíduo tenha sido, de alguma forma, a causa ou tenha atuado decisivamente para que se desenvolvesse essa ação”, disse.

Os homens foram detidos em flagrante, e a polícia ainda vai apurar a responsabilidade de outros servidores do próprio supermercado “que estavam no local, presenciaram a cena e deixaram que aquela situação se desenvolvesse”, afirmou Bertoldo. O caso está sendo tratado como homicídio triplamente qualificado.

Em nota, a Brigada Militar afirmou que prendeu os envolvidos, “inclusive o PM temporário, cuja conduta fora do horário de trabalho será avaliada com todos os rigores da lei”.

Já o Grupo Vector, empresa de segurança responsável pelos funcionários envolvidos, lamentou o ocorrido e disse não tolerar “nenhum tipo de violência, especialmente as decorrentes de intolerância e discriminação”. Ressaltou que os colaboradores recebem treinamento e que iniciou o procedimento de apuração interna.

O Carrefour manifestou-se por nota. Considerou o episódio “inexplicável”, classificou a morte como “brutal” e disse que “adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos”.

Segundo o comunicado, o contrato com a empresa responsável pelos seguranças foi interrompido, e o funcionário que estava no comando da loja durante o crime, desligado. O Carrefour afirmou, ainda, que doará o lucro de todas as lojas do Brasil, obtido ontem, a entidades que combatem o racismo.

O posicionamento, no entanto, foi insuficiente para conter a onda de críticas e protestos contra a rede de supermercados. Entre os assuntos mais comentados nas redes sociais estava a organização de um boicote contra o grupo. “

Não compre. Não frequente. Justiça a João Alberto”, dizia a postagem que circulou amplamente ontem.

A revolta não ficou restrita ao caso. Isso porque não é a primeira vez que o nome da empresa é associado a episódios de agressões e atos considerados desumanos. Diferentemente da interrupção das atividades em solidariedade à morte de João Alberto, o mesmo não ocorreu quando um representante de vendas morreu numa loja Carrefour, no Recife.

Manoel Moisés Cavalcante, 53, teve um infarto no local. O corpo foi escondido por guarda-sóis, tapumes, papelão e engradados de cerveja. O estabelecimento continuou funcionando normalmente, com circulação de clientes.

Em dezembro de 2018, uma cadela de rua foi morta a pauladas por funcionário do Carrefour de Osasco. Fotos do animal sangrando viralizaram nas redes e geraram revolta nos internautas e de organizações protetoras de animais.

* Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa


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