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Estado de Minas SEM LUZ

Com comida estragando e usando água da chuva, moradores do Amapá relatam desespero: 'Estamos abandonados'

Uma explosão seguida de incêndio atingiu transformador de subestação de Macapá, segundo o Ministério de Minas e Energia. Incidente de causa ainda desconhecida deixou 85% da população do Estado sem energia


06/11/2020 17:19 - atualizado 06/11/2020 18:21

Apagão levou moradores de Macapá a buscarem água em posto de gasolina(foto: Luccas Cavalcante)
Apagão levou moradores de Macapá a buscarem água em posto de gasolina (foto: Luccas Cavalcante)

Moradores de Macapá, capital do Amapá, relataram à BBC News Brasil uma situação caótica no quarto dia sem energia elétrica na cidade: comida estragando na geladeira, falta de água nas torneiras e filas quilométricas para sacar dinheiro vivo e abastecer o carro.

 

 

 

"Estamos abandonados e desesperados. Não tem como esperar 10 ou 15 dias para essa situação se resolver", diz Luccas Cavalcante, de 20 anos, estudante de Direito.

A queda de energia, provocada por um incêndio em uma subestação na capital, ocorreu na noite de terça-feira (03/11) e atingiu 13 das 16 cidades do Estado.

Em pronunciamento na sexta-feira (06/11), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o restabelecimento dos 100% de energia elétrica no Amapá é "complexo" e deve demorar pelo menos dez dias.

Fotos enviadas à reportagem e publicadas em redes sociais mostram enormes filas para a compra de água, comida e gasolina em bairros da capital.

Além disso, como máquinas de cartão de crédito e débito estão desligadas no comércio, milhares de pessoas esperam horas em frente aos poucos estabelecimentos com caixas eletrônicos que funcionam por meio de geradores — um deles está no aeroporto internacional de Macapá, lotado de pessoas em busca de dinheiro.

Calor e falta d'água

No bairro Jardim Marco Zero, zona sul da capital, a energia de algumas ruas foi retomada, mas a área onde vive o universitário Luccas Cavalcante segue às escuras. Ele tem ido a casas de amigos para conseguir carregar os celulares de sua família, além de buscar água e alimentos.

"Em casa nós perdemos toda a comida que havia na geladeira. Estamos usando água da chuva ou pegando de alguns moradores que têm poço artesiano. Também há uma única torneira funcionando, da empresa de saneamento, mas a água vem barrenta e não dá para beber", explica.

O estudante conta que, na noite de ontem, ficou duas horas na fila de um dos poucos postos de gasolina que estão abastecendo veículos. "Mas, em outros postos, mais centralizados, há pessoas esperando até oito horas para conseguir abastecer", diz.

Já no bairro Renascer, o estudante Adelton Almeida Filho, de 20 anos, conta que sua família está buscando água potável em uma loja próxima, onde há uma torneira em funcionamento.

É com ela que a família toma banho, cozinha e mata a sede. "Temos poço em casa, mas, como não tem energia, não conseguimos bombear a água", diz.

Segundo ele, moradores do bairro que têm energia elétrica fornecida por geradores, estão disponibilizando água a vizinhos. "Os supermercados aumentaram muito o preço da água mineral, para lucrar. Um galão de cinco litros está custando R$ 12, e antes custava R$ 5 ou R$ 6", reclama.


Sem energia nos bancos da cidade, houve longas filas nos caixas eletrônicos do aeroporto da capital do Estado(foto: Luccas Cavalcante)
Sem energia nos bancos da cidade, houve longas filas nos caixas eletrônicos do aeroporto da capital do Estado (foto: Luccas Cavalcante)

O estudante conta que vários moradores de Renascer estão dormindo nos carros à noite, em virtude do calor. "Está muito quente na cidade e muita gente não está conseguindo dormir dentro de casa, sem ar-condicionado", explica.

O bancário Edson Azevedo dos Anjos, 57, enfrenta o mesmo problema. "Nossa comida comida já estragou, jogamos fora. Uma parte que ainda estava boa, dividimos com os vizinhos para não estragar também. Graças a Deus aqui temos um vizinho com poço artesiano, e ele consegue passar de vez em quando alguma água para nós", explica.

Ele conta que ontem ficou cinco horas na fila do posto de gasolina para conseguir abastecer o carro. "Também ficamos sem comunicação, os celulares e a internet não estão funcionando bem, oscilam muito. Não conseguimos fazer transações bancárias pela internet, e os bancos estão fechados", conta.

Moradora do centro de Macapá, Ana Karen Santos da Silva tem ajudado vizinhos, pois sua casa é uma das poucas da região que ainda têm energia elétrica e água potável no poço artesiano.

"Alguns amigos meus estão vindo de bairros distantes só para pegar água aqui em casa. Ou para carregar o celular. Estou tentando ajudar as pessoas como posso. Precisamos ficar unidos enquanto a situação não se resolve", diz.

O que aconteceu?

Na noite de terça-feira, uma explosão seguida de incêndio atingiu um transformador de uma subestação de Macapá, segundo informou o Ministério de Minas e Energia. O incêndio inutilizou o transformador e ainda danificou outro.

As equipes de emergência levaram horas para combater o fogo, afirmou o ministro Bento Albuquerque, em coletiva de imprensa na quinta-feira (5/11).

"Foi reportado um incêndio no transformador 1 da subestação de Macapá, de propriedade da Linhas de Macapá Transmissória de Energia (LMTE), tendo sido registrado perda total na unidade", informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por monitorar o fornecimento de energia em todo o Brasil), em nota.

A causa do fogo ainda não é conhecida, e o ONS abriu uma investigação com prazo de 30 dias para apurar as causas e responsabilidades.

O Estado do Amapá tem cerca de 860 mil habitantes, segundo projeção do IBGE para 2020. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, 85% dessa população foi afetada pelo apagão, ou seja, cerca de 730 mil pessoas.

Três planos foram divulgados pelo Ministério de Minas e Energia para o restabelecimento de energia no Estado. O primeiro deles prevê que cerca de 60% a 70% da carga volte a ser atendida até o fim da tarde desta sexta-feira. Os outros dois estabelecem um prazo de 15 a 30 dias para a normalização.


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