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Estado de Minas BOA NOTÍCIA

Coronavírus: Pfizer quer oferecer vacina ainda em 2020

Intenção da empresa é produzir milhares de doses até outubro ou novembro, com fabricação em larga escala a partir de 2021


postado em 02/06/2020 16:11 / atualizado em 02/06/2020 16:34

(foto: Javier Zayas Photography/Getty Images)
(foto: Javier Zayas Photography/Getty Images)

A pandemia pelo coronavírus ocasiona uma corrida mundial para desenvolver formas adequadas de tratamento e maneiras de prevenção, dentre elas o que seria a melhor opção para frear o contágio, a vacina. Algumas empresas estão otimistas em relação ao caminho encontrado em diferentes pesquisas. É o caso do laboratório Pfizer, que pretende desenvolver a vacina contra a COVID-19, ainda que no começo de forma mais tímida. A companhia já anuncia a realização de testes clínicos. Na fase inicial, a perspectiva é produzir milhões de doses até outubro ou novembro. Conforme a diretora médica, Márjori Dulcine, a produção em larga escala deve acontecer em 2021. Não deixa de ser uma boa notícia.

O trabalho é conjunto com a empresa alemã BioNTech, e começou a ser elaborado em fevereiro. Em março, a primeira aplicação da dose abarcou 12 participantes da pesquisa na Alemanha. No mês passado, teve início o emprego nos Estados Unidos. A vacina é chamada BNT162. Produtos desse tipo estimulam o organismo a produzir antígenos que possibilitam ao sistema imunológico combater a doença. A farmacêutica avalia ainda o potencial do tofacitinibe (remédio indicado para artrite reumatoide, entre outras doenças) e da azitromicina (antibiótico) para o tratamento da COVID-19.

O estudo está em fase avançada - já acontecem testes experimentais em pequenos grupos de humanos. "Esse estudo tem o objetivo de determinar a segurança e imunogenicidade, o que significa a capacidade do organismo de reagir à vacina e produzir anticorpos. E também a dose ideal", explicou Márjori Dulcine em entrevista ao site Poder 360. "Nós estamos falando de uma vacina poder ser produzida e estar disponível em meses, em menos de 1 ano", acrescentou. A diretora pontua que este seria um tempo recorde, uma vez que, geralmente, estudos e trabalhos para se criar uma vacina podem durar até 15 anos.

Ainda que a vacina seja disponibilizada, a busca por métodos assertivos de tratamento não pode ser descartada - nenhuma vacina é completamente segura, conforme a diretora da Pfizer. "É preciso ter tratamentos eficazes, porque a vacina não é 100% de garantia. Nenhuma vacina vai ser. Não existe. Há pessoas que não vão conseguir imunidade a partir da vacina. Então é importante que os tratamentos continuem sendo desenvolvidos. Os antivirais, os medicamentos que vão agir em fase ainda muito precoce, quando a pessoa teve os primeiros contatos com o vírus e começa a ter uma febre, por exemplo. Antes de ir para o hospital, quando entra no hospital. São fases diferentes da doença que precisam ter tratamento", pontuou Márjori Dulcine na declaração ao portal.

A pesquisa da Pfizer está entre os aproximadamente 120 projetos de desenvolvimento para uma vacina para a COVID-19 que estão mais avançados no mundo. O epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro é quem revela o dado. Segundo ele, o estudo está próximo de entrar na fase 3, uma parte mais demorada, quando são acompanhados dois grupos de pacientes, os que são vacinados e os que recebem remédio sem efeito nenhum, acreditando estarem vacinados. Pfizer e BioNTech divulgaram que dos ensaios iniciais participa um grupo de 200 pessoas saudáveis com idade entre 18 e 55 anos. Daqui para frente, no próximo passo a companhia deverá submeter a vacina à aprovação das agências reguladoras.

Ter segurança quanto à vacina vai depender de como evolui a circulação do vírus. "São questões imponderáveis. Ainda não há como calcular se a vacina vai proteger ou não contra a doença, mas é uma pesquisa promissora. Pode acontecer, como com outros tipos de coronavírus, que o vírus simplesmente pare de circular, espontaneamente. Mas não podemos ser pegos de surpresa apostando nessa expectativa. Temos que estar preparados caso aconteçam uma segunda ou terceira onda de transmissão. É uma questão sobre a qual estamos aprendendo dia a dia", pontua o especialista.  

José Geraldo diz que a intenção é que a vacina seja disponibilizada até o início de 2020, em uma previsão otimista, mas, para ele, outro aspecto a considerar é a importância de que seja elaborada e fabricada por mais de um produtor. "Devemos ter um volume grande que possa garantir a cobertura da população em nível mundial."

O médico infectologista Guenael Freire lembra que estudos para criação de vacinas são demorados, muitas vezes podem levar décadas. São várias as fases importantes para avaliar sua eficiência. Na fase 1 , é considerada segurança e efeitos colaterais, se a vacina faz bem ou mal. Na fase 2, além desses pontos, também se observa a resposta imunológica e dosagens ideias para suprir a necessidade da imunidade e, na fase 3, a pesquisa é ampliada para se aplicar a um grande número de pessoas que recebem a vacina para teste, entre pessoas expostas ao agente, ou de áreas endêmicas, entre indivíduos vacinados e outros grupos que recebem placebo.

Em relação ao coronavírus, Guenael lembra que uma informação importante já divulgada é que, ao que parece, uma pessoa infectada não contrai a doença por uma segunda vez, o que foi aferido em estudos com macacos. "Mas ainda há várias perguntas no ar. Quanto tempo dura a imunidade, por exemplo? São questionamentos que vamos conseguir responder com o tempo", diz o médico. Ele também cita os modos de desenvolver uma vacina: seja a partir do vírus vivo, enfraquecido, ou sintetizando componentes do vírus, como proteínas ou material genético - em todo caso, o organismo deve ser induzido a reconhecer o agente invasor e apresentar uma resposta imune.  

Um grande desafio, de fato. Guenael pondera que, diante da correria para desenvolver meios de prevenção para a COVID-19, pode acontecer, por exemplo, de chegar a fase 3 e ver que o remédio não funciona. Existe ainda a situação quando a vacina é retirada de circulação. No caso da vacina da dengue, conta o infectologista, percebeu-se que aumentava o risco de febre hemorrágica. Pode acontecer de, depois de um tempo já no mercado, surgirem novas reações adversas.

Outra empreitada é conseguir produzir mais de 7 bilhões de doses para imunizar toda a população do planeta. "Há que se ter um esforço coletivo, a união de nações, de fábricas de vacinas pelo mundo. Vão ter que focar na produção. É um trabalho grande", diz. Ainda assim, Guenael acredita que, mesmo diante de uma árdua jornada, em 2021 deve estar disponível a vacina para o coronavírus, e de mais de um tipo.  

Por outro ponto de vista, Flávio da Fonseca, virologista vinculado ao departamento de Microbiologia da UFMG e ao CTVacinas/UFMG, vê com olhar desconfiado a projeção da pesquisa da Pfizer. "São estudos por muitas vezes com objetivos específicos, ainda mais quando de trata de empresas. Muitas pretendem, com isso, potencializar a marca", critica.

Para o estudioso, é inviável realizar a fase 3 em poucos meses, para que seja completa e totalmente segura. "É necessária a participação de milhares de voluntários, que devem ser acompanhados por meses, sem que se saiba se serão de fato expostos ao coronavírus, em que intervalo de tempo isso ocorreria e, assim, se serão ou não infectados, o que comprovaria a eficácia da vacina. É um alto grau de incerteza. Para mim, essa projeção é um pouco como um chute", avalia.  


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