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Gilberto Dimenstein: 'Vida após a morte? Se for igual a esta, prefiro que não exista'

Em 30 de dezembro do ano passado, o jornalista publicou um artigo no jornal Folha de S. Paulo sobre o câncer, o tratamento e as mudanças em sua forma de enxergar a vida e as relações humanas


postado em 29/05/2020 17:45 / atualizado em 29/05/2020 18:14

(foto: Reprodução/Twitter)
(foto: Reprodução/Twitter)
O escritor e jornalista Gilberto Dimenstein morreu nesta sexta-feira (29), aos 63 anos. Ele vinha travando uma batalha contra um grave câncer no pâncreas e que evoluiu com metástase para o fígado. Dimenstein era fundador e responsável pelo site Catraca Livre. Em 30 de dezembro do ano passado, o jornalista publicou um artigo no jornal Folha S Paulo e contou sobre a doença, o tratamento e as mudanças em sua forma de enxergar a vida e as relações humanas. Em meio às declarações, o escritor chegou a admitir que não se sentia mais o mesmo.

No texto escrito para o jornal, Dimenstein conta que sonhou com uma mulher dizendo que ele estava com câncer. Amante da ciência, o jornalista se considerava “super-racional” mas admitiu que se sentiu incomodado com a ídeia. “Fui aos médicos, fiz colonoscopia, endoscopia, ultrassonografia, não achavam nada, mas eu continuava impressionado”, conta. Foi depois de uma dúvida médica que o câncer foi detectado. “No dia seguinte, já estava no hospital. Tirei o tumor bem no comecinho, o que aparentemente era boa notícia.”

Apesar disso, depois de três semanas o câncer já havia atingido o fígado. Daí em diante, o jornalista conta que só teve más notícias. “Câncer é algo que não desejo para ninguém, mas desejo para todos a profundidade que você ganha ao se deparar com o limite da vida. Não queria ter ido embora sem essa experiência”, conta.

Gilberto relata que, depois da doença, deixou de dar valor ao que ele chamou de “culto a bobagens”. “Quando você tem um câncer, ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas, um tipo muito agressivo, não há alternativa. Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno.”
 
Ele conta que, durante o ciclo da doença, acabou se redescobrindo. Começou a andar de bicicleta, conversar mais com o neto e começou a dar mais valor para a vida simples. “Nós vivemos nos meios digitais a era da indelicadeza, 500 mil pessoas criticando. Eu acabei entrando no mundo das gentilezas. Cada pessoa tem uma palavra, um chá, uma dica de oração, um olhar gentil. O outro mundo vai ficando ridículo”, diz.
 
Dimenstein tratou a doença com canabidiol. O composto químico é derivado da maconha, liberado para uso medicinal. “Com ou sem câncer vamos todos morrer, e se pudermos antecipar essa sensação, vamos evitar várias bobagens. A clareza maior da morte é uma dádiva. Não é o fim, mas um começo.”
 
O jornalista relata o sentimento de estar morrendo. Flertando com a morte, ele questiona o sentido da vida. “Não é que eu ache que morrer é bom, mas você começa a questionar por que existe, e a conclusão é que, se não podemos escolher como entramos na vida, podemos decidir como sair dela.”
 
Ao falar sobre o jornalismo, o que ele diz ser sua paixão, Dimenstein relata que certos arrependimentos. “Mudei minha carreira para fazer um jornalismo que não é de filantropia nem altruísmo, mas de empoderamento, de usar a comunicação para promover causas”, contou. Ao falar sobre seu papel na profissão, o escritor apenas diz: “Não inventei nada, o comunicador não faz o vinho. Mas tira a rolha.”
 
Em uma metáfora, o escritor chega a comparar o mundo com o corpo humano e brinca com as “infecções” (cultura do ódio) criadas pelo presidente norte-americano Donald Trump e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro.  
 
“O mundo é como um corpo humano. Há pessoas que espalham infecções, se xingam, se odeiam. O presidente dos EUA, Donald Trump e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, não criaram isso, mas sintetizam essa cultura da infecção, do ódio, do confronto. E há os glóbulos brancos, as pessoas que não deixam o mundo acabar, que inventaram a anestesia, o antibiótico, descobriram a hélice dupla do DNA.”
 
O jornalista termina o relato conversando sobre a vida após a morte. “Vida após a morte? Se for igual a esta, prefiro que não exista. Se eu acordasse e estivessem lá Trump, Bolsonaro, primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, não sei se queria, não [risos].”
 
Autor de mais de 10 livros, Dimenstein lutava desde 2019 contra o câncer no pâncreas. Segundo divulgado pelo portal Catraca Livre, ele morreu às 9h, enquanto dormia. O jornalista deixa dois filhos, Marcos Dimenstein e Gabriel Dimenstein, a esposa, Anna Penido, e um neto.
 
Para ler o artigo completo na Folha de S.Paulo clique aqui.
 
* Estagiária sob supervisão da editora Liliane Corrêa 


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