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Estado de Minas HOSPITAIS DO RIO EM XEQUE

Relatório aponta situação caótica na saúde do Rio a menos de duas semanas para a Olimpíada

Vistoria do Conselho Regional de Medicina do estado aponta a situação caótica na rede de saúde pública da capital fluminense às vésperas dos Jogos. Superlotação preocupa


postado em 24/07/2016 06:00 / atualizado em 24/07/2016 08:00

Entrada do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio: sala de emergência na área destinada aos casos de média e alta gravidade está lotada(foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Entrada do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio: sala de emergência na área destinada aos casos de média e alta gravidade está lotada (foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Rio de Janeiro - A menos de duas semanas da abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro, a eficácia do atendimento na rede de saúde pública e as simulações e maior número de treinamentos dos profissionais envolvidos, sobretudo em caso de múltiplas vítimas, são postos em xeque. Relatório do Conselho Regional de Medicina (Cremerj) aponta situação caótica, com superlotação, falta de medicamentos e improviso no atendimento a feridos graves, nos cinco hospitais escolhidos para serem referência durante os Jogos Olímpicos. O Ministério da Saúde precisou disponibilizar 135 leitos de retaguarda nos hospitais federais e contratar 2,8 mil profissionais para tentar amenizar a situação. “Todos os dias, no Rio de Janeiro, 150 pedidos de internamento em Centros de Terapia Intensiva (CTI) são negados. Em todas as unidades de saúde que fomos, havia superlotação”, declarou o vice-presidente do Cremerj, Nelson Nahon.


Os hospitais referência visitados pelo Cremerj foram o Souza Aguiar, Salgado Filho, Miguel Couto, Lourenço Jorge e Albert Schweitzer. Nahon afirmou que a rede pública não está preparada para o aumento da demanda em razão do evento internacional. “O que encontramos é uma situação extremamento delicada. Numa sala amarela, por exemplo, com capacidade para sete pacientes, contamos 40. Havia outros 17 no corredor. Em todos os hospitais, a taxa de ocupação era de 100%”, explicou. No Souza Aguiar, no Centro do Rio, por exemplo, a fiscalização, realizada um mês antes da data de abertura das Olimpíadas, encontrou pacientes internados de forma improvisada em cadeiras e macas de transporte. “Algumas macas de ambulâncias do Corpo de Bombeiros estavam retidas no serviço de emergência, sendo utilizadas para internação de pacientes. Foram identificadas falta de alguns medicamentos e equipamentos para monitoramento de pacientes graves”, atesta o relatório de vistoria.

Na data da visita, a sala de emergência da unidade, destinada a pacientes adultos com média e alta gravidade, estava superlotada. No local destinado aos casos de média e alta gravidade pediátrica, não havia leitos vagos.

No Miguel Couto, a inspeção diagnosticou que o Centro de Terapia Intensiva (CTI) e a Unidade Coronariana (UCO) apresentavam todos os leitos ocupados. “No CER Leblon, unidade anexa ao Miguel Couto, fiscalizada no mesmo dia 7, a sala de emergência para pacientes adultos de média gravidade estava superlotada, já a emergência para pacientes de alta gravidade estavam com todos os leitos ocupado”, apontou o documento.

“Nossa maior preocupação é com um atendimento de múltiplas vítimas, que pode chegar a mais de 50 pacientes. Eles vão ser colocados onde? Essa foi a nossa constatação. Naquele momento, não tinha condições”, declarou Nelson Nahon. Ele salientou que uma das soluções é a liberação de verbas emergenciais para a saúde. “O repasse atual é de 4% dos 12% do orçamento obrigatório”, informou.

Em nota, o Cremerj garantiu que levou o resultado das fiscalizações, bem como todos os relatórios técnicos, para o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. No entanto, de acordo com o órgão, “o secretário recebeu os diretores do conselho de forma desrespeitosa e não chegou a analisar os relatórios. Apesar do descaso, o Cremerj protocolou os relatórios na Secretaria Municipal de Saúde”.

SALA AMARELA  Além da precariedade, o Cremerj relatou a falta de treinamento dos médicos. “Nessas vistorias, conversamos com os platonistas. Eles informaram que tinham todo o planejamento, mas, quando fomos fiscalizar se o treinamento já havia sido feito, informaram que só em 1º de agosto, na semana de abertura”, disse. No Salgado Filho, em caso de múltiplas vítimas, a vistoria foi comunicada que os pacientes da sala amarela seriam relocados para uma cantina desativada. “É muito improviso. Na Barra, onde ocorre 50% dos eventos, a referência é o Lourenço Jorge. Feridos mais graves teriam que ser colocados em ambulâncias e levados para outro local.”

O médico Luis Fernando Correia, que foi coordenador-geral da área médica da Copa do Mundo em 2014, realizada no Brasil, cobrou a realização de simulações. “A informação oficial da Secretaria Municipal é de que fizeram apenas os chamados simulados de mesa. É um exercício onde pegam todas as pessoas responsáveis, colocam numa mesa e alguém ler um cenário para saber o que fazer. É importante, mas é papel. Não simula uma situação real. Estamos cobrando isso há dois anos”, declarou. “Também não fizemos na Copa do Mundo, mas era para ter feito. Deveríamos ter aprendido”, disse. Ele reconheceu que é um treinamento complicado devido à superlotação dos hospitais, mas que é possível. “Claro que não vamos deixar de atender pacientes para fazer simulações, mas é possível utilizar uma área do hospital com menos demanda. Isso é feito em outros hospitais do mundo. Existe a movimentação de abertura dos espaços.”

 

 

Secretário pede união

 

Rio de Janeiro - O secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, afirmou que a cidade está completamente preparada do ponto de vista de atendimento de múltiplas vítimas para receber os jogos. “Começamos a nos preparar há quatro anos. A Prefeitura do Rio gastava 15% do seu orçamento. A gente elevou para 21%. Assumimos hospitais estaduais de grande porte. Não há superlotação nos hospitais e, mesmo assim, temos 135 leitos de retaguarda dos hospitais federais”, comunicou.

Ele assegurou que foram realizados diversos treinamentos. “O último deles foi há uma semana. Agora, não podemos parar o atendimento nos hospitais para fazer simulações. Houve treinamentos, mas não se paralisa as atividades de um hospital. Nenhum país faz isso. Vamos sediar um grande evento e precisamos nos unir”, comentou.

Em nota, a Secretaria de Saúde elevou o tom. Afirmou que “o Cremerj faz uma oposição política à prefeitura e suas declarações não têm outro objetivo senão denegrir a imagem da rede pública.” A prefeitura reafirmou que a rede está preparada para a Olimpíada. “Os cinco hospitais de referência olímpica estão preparados e que todas as demais unidades da rede (150 delas inauguradas a partir de 2009) estão aptas a auxiliar no atendimento durante o período dos jogos. A rede municipal tem experiência e competência para o atendimento em eventos de massa, com tanto ou mais público que as Olimpíadas, o que vem mostrando ao longo dos anos em eventos como o carnaval, o réveillon, a Jornada Mundial da Juventude, entre tantos outros”, conclui.


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