(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Presos provisórios custam mais de R$ 600 mi por mês

Atualmente, eles representam mais de 40% dos detentos no país. Presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, e especialistas na questão carcerária defendem mudanças no sistema


postado em 05/10/2015 06:00 / atualizado em 05/10/2015 09:05

Presidente do STF, Ricardo Lewandowski, considera que a estrutura de encarceramento é
Presidente do STF, Ricardo Lewandowski, considera que a estrutura de encarceramento é "chaga nacional" (foto: Felipe Sampaio/SCO/STF)


O Brasil tem hoje 222.190 presos provisórios, o que representa 41% de todas as pessoas privadas de liberdade no país, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Em pelo menos sete estados da federação (MA, BA, PI, PE, AM, MG e MT), os presos provisórios são a metade ou às vezes até mais da metade dos condenados. O custo médio mensal de cada preso, calculado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é de cerca de R$ 3 mil. Fazendo uma conta simples, cada mês que eles passam detidos representa uma despesa de R$ 666,5 milhões para os cofres dos estados e do governo federal. E depois de meses e meses presos, aproximadamente 37,2% deles são soltos pela Justiça porque foram inocentados ou porque as penas foram convertidas em prestação de serviços à comunidade. Os dados são de um levantamento feito pelo Ministério da Justiça e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em Minas Gerais, onde 50% dos presos são provisórios, o custo é de R$ 116,8 milhões por mês, já que cada detento consome mensalmente dos cofres do estado R$ 3,5 mil, segundo dados da Secretaria de Defesa Social.

Mas muito além do prejuízo financeiro de manter presas por longos períodos pessoas que não foram julgadas, está o dano moral. “Esse é irreparável”, afirma Bruno Langeani , coordenador da área de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, que lançou, com o Centro de Estudos e Segurança em Cidadania (Cesec), uma campanha pelo fim das prisões sem julgamento no Brasil.

Segundo ele, o que deveria ser uma exceção, no Brasil, virou regra. “Prender uma pessoa antes que ela seja julgada é muito grave e só deveria acontecer em casos extremos, como está na lei”, afirma Bruno. A Justiça só pode decretar prisão preventiva quando houver provas de que o acusado esteja ameaçando testemunhas ou destruindo provas, voltaria a cometer crimes ou em caso de risco de fuga e de abalo à ordem econômica. Mas, de acordo com ele, no Brasil, alegando manutenção da ordem pública, pessoas ficam presas durante meses à espera de julgamento. No Rio de Janeiro, afirma Bruno, o tempo médio de prisão provisória é de sete meses, prazo que antecede o primeiro julgamento.

O encarceramento provisório no Brasil já foi denunciado pelo Grupo de trabalho da ONU sobre prisão arbitrária e também em Relatório da Human Rights Watch, publicado em janeiro deste ano, que, além das torturas e condições desumanas dos presídios brasileiros, também criticou o excesso de pessoas presas sem condenação.

Para resolver esse problema, a campanha defende a aprovação pelo Congresso Nacional do Projeto de Lei do Senado PLS 554/2011, que institui a audiência de custódia, que nada mais é do que a apresentação do preso ao juiz em até 24 depois da prisão em flagrante para que ele decida se o detido deve ou não permanecer encarcerado até o julgamento. O projeto foi aprovado em comissão, mas precisa ainda passar pelo Senado e depois pela Câmara. As regras contidas na proposta já são previstas em tratados internacionais, como a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San Jose da Costa Rica, assinada pelo Brasil em 1992.

(foto: EDITORIA DE ARTE/EM/D.A PRESS)
(foto: EDITORIA DE ARTE/EM/D.A PRESS)
Elas também são defendidas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, crítico do encarceramento provisório. "A chaga nacional é a estrutura de encarceramento: 40% dos presos são provisórios, ou seja, ficam por anos jogados no ergástulo sem contato com juiz, em frontal colisão com o princípio de inocência, que é um dos esteios das garantias do direito. Aqui, nós prendemos muito e prendemos mal", disse o ministro em solenidade recente de instauração de audiências de custódia, em Florianópolis (SC). O STF, em parceria com o CNJ, instituiu, em fevereiro, um projeto-piloto dessas audiências em 20 capitais do Brasil. Em média, nessas audiências, a decisão pelo não encarceramento é em torno de 50%. Segundo o STF, desde sua entrada em vigor, há sete meses, seis mil brasileiros deixaram de ser presos. Para alojá-los, seria necessário construir oito presídios.

Mas para o advogado da Pastoral Carcerária, Paulo Malvezzi, para reverter o problema, não basta apenas colocar em prática as audiências de custódia. É preciso, afirma ele, rever a política de encarceramento – que já deu provas de que não resolve a questão da segurança pública e só serve para realimentar o crime, provocar injustiças e desrespeito aos direitos humanos. “Muitas das pessoas presas provisoriamente contraem aids, sofrem achaques, são alvo de violência, ficam estigmatizadas Ainda que sejam inocentadas, levarão para sempre essa marca. E nem direito a reparação elas têm”, critica Malvezzi. O encarceramento no Brasil, segundo ele, aumentou 400% nas últimas duas décadas, trazendo custos sociais e financeiros elevados e sem resolver o problema da criminalidade.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)