Pela câmera de segurança da portaria, assistimos a Eduardo Coutinho atravessar o portão gradeado e entrar com sua equipe. A liberação do acesso é a primeira imagem de Edifício Master (2002), um dos filmes que consagraram o seu estilo austero, avesso à espetacularização da realidade. Fazer do mínimo o máximo. Eis a fórmula de um cineasta que abominava fórmulas, que estava para as imagens como Graciliano Ramos para as letras. “Coutinho sempre inovava. Só ele sabia fazer o que ele fazia: seus filmes eram sempre uma revelação, uma novidade”, lembrou o diretor gaúcho Jorge Furtado.
Em obra pontuada por sucessivos acertos, as incursões do cineasta por temas sociais – da estreia tardia e assombrosa em Cabra marcado para morrer (1984) às reminiscências desencantadas de antigos metalúrgicos em Peões (2004) – e religiosos (Santo forte, outra obra-prima, vencedor do Festival de Brasília de 1999) mostraram um documentarista compromissado com o seu país.
“Não há ninguém no Brasil que possa ocupar o lugar do Coutinho. Fica o vazio. Esse era um mestre”, comentou Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus, poucas horas depois de saber do assassinato do colega. Sim, Coutinho foi único na arte de narrar, mas, acima de tudo, um mestre na arte de escutar: tudo porque, antes de ligar as câmeras, ele enxergava as pessoas.
Conheça as obras-primas de Eduardo Coutinho
Cabra marcado para morrer

Edifício Máster

O documentário conta histórias de vida de 37 moradores do Edifício Master, na Rua Domingos Ferreira, 125, em Copacabana
Jogo de cena

