
Na sua primeira viagem ao exterior, desde sua eleição, Francisco demonstra que adotará a mesma postura que o caracteriza. Antes da viagem ao Brasil, o papa destacou a vontade de estar perto da população. Às vésperas de partir para o Rio de Janeiro, ele reiterou que, na chegada à cidade, faz questão de um passeio em carro aberto, no papamóvel.
O Vaticano confirmou hoje (21) que Francisco sairá de Roma às 8h45 de amanhã (22) e chegará ao Rio por volta das 16h. Após o desembarque, ele fará um passeio pelo centro da cidade.
Ao escolher o nome Francisco, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio decidiu também assumir para si a marca do santo de Assis: a simplicidade e a proximidade com as pessoas. Francisco dispensou o apartamento papal para ficar na Casa de Santa Marta, na qual ficam hospedados, em geral, os cardeais que vão ao Vaticano. Ele também substituiu o crucifixo de ouro pelo de prata e abriu mão do sapato vermelho para usar um comum, na cor preta.
Antes de celebrar sua primeira missa, o papa desfilou em carro aberto entre os fiéis: beijou crianças, abençoou pessoas com deficiências e sorriu. Em 16 de março, ao receber jornalistas, Francisco falou em italiano e, pouco antes de se despedir, em espanhol, ele disse: “Sei que muitos de vocês aqui [referindo-se aos jornalistas] não são católicos. Mas isso não importa. Eu abençoo a todos”.
Francisco reitera que é assim que quer a Igreja: de portas abertas. No dia seguinte à sua eleição, ele foi rezar, na Basílica Santa Maria Maior, no centro de Roma, e proibiu que as portas ficassem fechadas porque ele estava lá. Na ocasião, o papa cumprimentou os presentes, sem cerimônia, e abençoou os que beijaram sua mão. Além disso, dispensou o carro oficial e seguiu em um veículo comum do Vaticano.
Em poucos dias, o estilo do papa se tornou conhecido. Sem cerimônia, Francisco procurou o antecessor, o papa Bento XVI, o primeiro na história recente a renunciar, para rezarem juntos. Vários encontros semelhantes ocorreram afastando as hipóteses de divergências. No passado, contou Francisco, foi Bento XVI que o impediu de se aposentar como ele deseja, segundo relato feito pelo porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
Ações
O papa Francisco assumiu o pontificado com vários desafios a enfrentar: os escândalos envolvendo a Igreja Católica Apostólica Romana, com desvios de recursos e pedofilia, a conquista de fiéis e a aproximação da religião com os dias atuais. Ele sinalizou que pretende vencer os obstáculos. Francisco nomeou, há dois dias, uma comissão de laicos (não religiosos), exceto um padre que será o coordenador, para avaliar a situação econômica e administrativa do Vaticano.
Desde o ano passado, há denúncias de desvios de recursos do Banco do Vaticano e dúvidas sobre a aplicação do orçamento da Santa Fé. Francisco quer um diagnóstico preciso da situação. Ele disse que o relatório será submetido a cardeais para, assim, definir as mudanças. A ideia é impedir irregularidades financeiras e econômicas envolvendo os recursos da Igreja.
No último dia 11, em meio às denúncias de pedofilia envolvendo padres, o papa modificou o Código Penal da Igreja Católica, o Motu Proprio, fixando penas mais duras para crimes contra crianças e adolescentes, assim como lavagem de dinheiro. A legislação é válida para a Santa Sé e como regulamento do Vaticano.
O papa também aumentou o rigor sobre os crimes contra a humanidade, como genocídios, denunciados com frequência em países em conflito armado, e medidas de segregação racial. Modificado conforme as orientações de Francisco, o Motu Proprio passará a valer a partir de 1º de setembro.
Com a preocupação crescente sobre a redução de católicos, inclusive no Brasil, Francisco apelou aos cardeais para que conquistem as pessoas usando “sabedoria” e “maturidade”. Mas também ressaltou que o exemplo em atitudes é que atrai. Para ele, a igreja deve ser para todos, inclusive, para os pobres. “Como eu gostaria de ter uma igreja pobre para os pobres”, disse ele, no primeiro encontro com jornalistas, em 16 de março deste ano.
O papa lembrou que a escolha do nome Francisco, inspirado no “santo dos pobres”, foi uma sugestão do cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, que é arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação de Bispos. “Não se esqueça dos pobres”, contou o papa, ao lembrar a recomendação feita por dom Cláudio Hummes.
