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Estado de Minas

Boate vendeu mais ingressos do que o local suportava

Advogado de dono da boate admite que entradas vendidas superavam capacidade do local e critica atuação dos bombeiros no resgate. Depoimento de barman complica situação de sócios


postado em 31/01/2013 07:00 / atualizado em 31/01/2013 10:51

Quatro dias depois da tragédia em Santa Maria (RS), onde 235 jovens morreram em um incêndio na Boate Kiss, o advogado Jader Marques, defensor de um dos sócios da casa, Elissandro Spohr, o Kiko, confirmou que foram vendidos mais convites do que a capacidade do local. Segundo Marques, foram colocados à venda 850 ingressos, sendo que 700 foram entregues aos universitários que promoveram a festa, apesar de a capacidade    da danceteria ser de apenas 691 lugares. Marques garantiu, no entanto, que não havia mais de 650 pessoas na boate no momento do incêndio. Ontem, o Ministério Público estadual anunciou que também instaurou inquérito para apurar as responsabilidades cíveis sobre a tragédia, independentemente da área criminal, o que deve se estender à atuação do Corpo de Bombeiros, acusado pela Prefeitura de Santa Maria e por Jader Marques de negligência na vistoria e concessão do alvará de funcionamento.


Depoimento do barman da boate, Érico Paulo Garcia, complicou ainda mais a situação dos sócios da casa, Mauro Hoffmann e Kiko Spohr, que estão presos temporariamente desde segunda-feira. Apesar de Hoffmann negar que tivesse responsabilidade na administração, o barman afirmou que os dois davam ordens. “Eles eram donos”, declarou Érico. De acordo com o funcionário, que trabalhava havuia três anos na danceteria, as luzes de emergência do local estavam funcionando perfeitamente, mas que a cor escura da fumaça impediu a visualização da saída. “A fumaça se espalhou muito rápido e em 10 e 15 segundos já tinha gente passando muito mal”, contou. Érico conseguiu sair rapidamente e ajudou no resgate aos sobreviventes. Após algumas horas, o barman se sentiu mal e foi internado, mas já recebeu alta. Rebatendo as conclusões preliminares da polícia, o advogado Jader Marques garantiu que a Boate Kiss tinha condições de funcionar e a documentação da casa estava regular.

Veja como ficou a boate após o incêndio


O delegado regional da Polícia Civil, Marcelo Arigony, que coordena as investigações, disse já ter certeza de que o funcionamento do estabelecimento era irregular. Segundo ele, uma série de circunstâncias possibilitaria “até a uma criança” concluir que a casa não deveria estar funcionando. Arigony disse ainda que as investigações iniciais apontam a existência de irregularidades nos extintores, na iluminação do banheiro, na largura da porta, na disposição da casa e na lotação do estabelecimento. O promotor César Carlan, que também acompanha o inquérito, esclareceu que os elementos de prova produzidos pela polícia serão úteis para o inquérito civil instaurado pela Procuradoria Geral de Justiça.

Metralhadora

O advogado do sócio da boate admitiu que o licenciamento dos bombeiros estava vencido desde agosto, mas, em outubro, a casa pagou a taxa para pedido de renovação. “A casa aguardava a vistoria. Os bombeiros encontrariam lá a mesma situação do ano anterior”, afirmou. Defendendo essa tese, o advogado disparou contra o trabalho dos bombeiros. Para ele, os bombeiros pediram ajuda às pessoas que estavam na rua e que a primeira ligação para relatar o incêndio não foi atendida. “O trabalho de salvamento dos bombeiros foi desastroso. Não tinham equipamentos adequados nem treinamento. Um bombeiro não pode colocar um civil numa atividade de salvamento. Eles ainda jogaram um jato d’água na rota de saída das pessoas e isso pode ter feito com que elas se dirigissem para o outro lado”, acusou. Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que, mesmo com o alvará vencido, a boate poderia funcionar, pois não há previsão legal para interdição imediata, mas não comentaria as acusações de Marques.

JOGO DE EMPURRA O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, que também criticou o trabalho dos bombeiros, amenizou ontem o tom das críticas. “Não vou entrar em jogo de empurra-empurra com o Corpo de Bombeiros. Tudo o que eu quero é uma investigação séria. Não é meu papel dizer que o culpado é esse ou aquele”, afirmou. Segundo o prefeito, quando ele recebe uma denúncia, a prefeitura age rapidamente para investigar irregularidades.

Ele citou o caso de uma boate recentemente fechada pelos agentes. “Nós fechamos a boate do DCE após uma denúncia do Ministério Público sobre falta de acessibilidade e excesso de barulho. No caso da Kiss, não houve denúncia e apenas fizemos a vistoria anual, como manda a lei, sem encontrar problemas”, explicou. O prefeito disse não ter como fiscalizar as casas noturnas a todo momento. “A lei diz para não matar, mas homicídios acontecem. Não dá para colocar um policial ao lado de cada um para evitar isso", comparou. Schirmer também disse que não tem medo de ser investigado. “Eu não temo nada. Todos os documentos, em relação à prefeitura, estavam em dia”, falou.

Enquanto isso...

… Prorrogação das prisões


Além dos dois sócios da Boate Kiss, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, estão presos temporariamente, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor Luciano Augusto Bonilha Leão, que teriam contribuído para a tragédia ao acender um sinalizador no interior da casa. Caso não seja renovada a prisão temporária, eles devem ser liberados amanhã. O delegado Marcelo Arigony, responsável pela investigação, confirmou, porém, ter encaminhado à Justiça um pedido de prorrogação. Ele alegou ser necessária a continuidade da prisão temporária – de cinco dias, prorrogável por mais cinco – após “possibilidade de adulteração de provas e intimidação de testemunhas”, já que os donos do estabelecimento são chefes dos músicos e funcionários da Kiss. O promotor criminal Joel Oliveira Dutra, que integra a equipe responsável pelas investigações, afirmou, no entanto, que não há no momento justificativa para pedir a prorrogação da prisão temporária dos donos da boate e dos integrantes da banda. “Clamor público não justifica prisão de ninguém”, disse o promotor. Anteontem, Kiko , que está internado sob escolta em um hospital de Cruz Alta, no interior do estado, tentou se enforcar com a mangueira do chuveiro.


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