"Eu estou com a cestinha, mas não sou a chapeuzinho não, viu?" O mais popular vendedor de castanhas de Jenipabu não perde o bom humor nem o alto astral em nenhum momento do seu árduo trabalho. E coloca dificuldade nisso: quem disse que é fácil vender os frutos secos na beira da estrada que leva a uma das praias mais cobiçadas do litoral Norte completamente fantasiado de Homem Aranha? Há quem diga que Josenílton Costa, de 45 anos, é o próprio personagem, uma vez que cativa quem passa pela rodovia e vem se transformando numa atração turística da região.
A característica cesta recheada de castanhas secas, cristalizadas e naturais é apenas um pequeno atrativo diante das inúmeras informações visuais presentes no ponto de venda. Há cerca de um mês que o vendedor se estabeleceu em um ponto adquirido com recursos do seu patrão, o funcionário público Cláudio Sousa, de 37 anos. E quão chamativo é esse lugar: uma barraca simples feita de madeira e palha deu lugar a um quiosque colorido e recheado de produtos, com desenhos do personagem da Hollywood nas paredes ao redor.
"É um trabalho digno no qual eu já estou trabalhando há oito meses. Faz muito calor dentro dessa fantasia, mas você consegue vender muito mais do que se estivesse parado, esperando o cliente vir até você. A ideia não é minha. É do meu patrão e está sendo um sucesso", afirma Josenílton, o Homem Aranha, também conhecido por Zagueiro. De acordo com Cláudio, proprietário do quiosque, já faz dois anos que a sua família trabalha com essa atividade, e todos os vendedores sempre trabalharam disfarçados do personagem.
"Zagueiro é o quarto Homem Aranha que já passou pelo nosso quiosque. Desde a chegada dele as coisas só têm melhorado. Ele tem carisma, chama a atenção por ser moreno e ter uma barriguinha. É bem diferente do convencional e está sendo um sucesso de vendas", se anima Cláudio. Segundo ele, em períodos de grande movimento, as vendas de castanha alcançam até R$ 500 por dia. O Carnaval foi, para ele, o período mais lucrativo até agora em 2012.
Para os turistas, a idéia é divertida, criativa e hospitaleira. "Quem resiste de parar para comprar essas castanhas é um tolo. Quando a gente se depara com uma pessoa completamente vestida de Homem Aranha, debaixo de um sol quente desses, fazendo uma dancinha engraçada e lançando a teia sobre os carros, é impossível não tirar o sorriso do rosto e interagir com essa figura", comenta a turista carioca Simone Barros, de 41 anos.
Já Marcelo Barros, 43, esposo de Simone, se apaixonou pelas belezas de Natal e já considera o Homem Aranha das castanhas um ponto turístico da capital potiguar. "Que hospitaleiro e que agradável. Comprar castanhas nunca foi tão divertido. Você prova rindo, come rindo e vai embora sorrindo", afirma o turista. "E ainda sai com um gostinho de 'quero mais' na boca", completa.
Por trás da máscara, a luta contra o vício
Mas quem vê máscara, não vê coração. Por trás de toda alegria, carisma e bem-estar do Homem Aranha das castanhas, vive um homem simples, separado da esposa e dos oito filhos por não ter conseguido vencer um grande inimigo: a bebida. A família Sousa o acolheu para trabalhar como vendedor de castanhas e ofereceu-lhe um lugar para repousar a cabeça e poder sonhar com um futuro melhor.
"Ele morava nas ruas, já não tinha quem o amparasse. Sabemos que a bebida é um veneno que vai matando um indivíduo lentamente. Se deixasse ele naquela situação, seria bem pior. Ninguém vence esse vício sozinho", afirma Valéria Sousa, 30, esposa de Cláudio. Além do leito, um salário em torno de R$ 600 é pago para o trabalhador, que tem autonomia sobre como gastá-lo. Segundo a família Sousa, eles sempre o aconselham a procurar ajuda e tratamento médico para se libertar das toxinas do álcool, mas reconhecem que esse processo é gradativo.
"Não podemos obrigá-lo. Ele saberá quando parar", acreditam. Para Josenílton, é difícil viver longe da família. Saber que existe uma droga que o separa dos seus oito filhos é doloroso, porém um dia sem beber significa ter que passar por um martírio ainda pior, pois a falta da substância o faz tremer e enlouquecer. "É uma vontade absurda. Todo dia de manhã eu preciso tomar o meu 'toddynho', senão eu não consigo chegar nem às 9h da manhã vivo", confessa.
Sempre amoroso e prestativo, o Homem Aranha das castanhas vai vivendo sua vida à procura da alegria e já se sente satisfeito com os bons corações que apareceram na nela há oito meses. "Se não fosse o senhor Cláudio e sua esposa eu não estaria tão feliz quanto estou hoje. Tenho dores, mazelas, desejos e anseios, mas estou aprendendo a ultrapassá-los. O incentivo deles irá me tirar dessa situação de vício e dependência um dia e eu serei ainda mais agradecido por toda a confiança depositada sobre mim", afirma Josenílton.
Enquanto reúne forças para abandonar o vício e restaurar o relacionamento com a sua família, o mais popular vendedor de castanhas de Jenipabuvai vencendo as dores e o sofrimento escondendo o rosto sofrido por trás da máscara do Homem Aranha, fazendo os outros felizes e esperando a sua vez de conhecer a alegria de viver.
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Vendedor de castanha fantasiado de Homem Aranha faz sucesso em Natal
Apesar da alegria nas ruas, personagem esconde drama por trás da máscara
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