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Estado de Minas

Livro aponta maiores arrependimentos de pacientes à beira da morte

Publicação lançada por enfermeira que lida com doentes terminais, conta que excesso de trabalho e distância de amigos estão entre os arrependimentos


postado em 31/01/2012 11:13 / atualizado em 30/11/2013 20:10

Crianças costumam agir com naturalidade sem ligações com convenções sociais(foto: Sxc.HU)
Crianças costumam agir com naturalidade sem ligações com convenções sociais (foto: Sxc.HU)


"Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Nao tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda, do que já tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria. Mas, seu eu pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos(... ) Isso se tivesse outra vida pela frente, mas como sabem tenho 85 anos e estou morrendo".

Este é um trecho do livro de Rubem Alves onde ele parafraseia Jorge Luís Borges. Uma  obra que retrata os arrependimentos de quem está à beira da morte, o mesmo assunto abordado em "The top five regrets of the dying" (Os cinco principais arrependimentos de pacientes terminais. A autora, Bronnie Ware, é enfermeira com longa experiência em cuidados com doentes terminais.

Em seu site oficial, a escritora explica que, com base na sabedoria compartilhada por pacientes terminais, ela consegue contar sua história pessoal e explica como teve a vida transformada por meio da tristeza das pessoas que morriam à sua volta. Os principais arrependimentos listados no livro são:

1. Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim
2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto
3. Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos
4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos
5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz

Para a geriatra Ana Cláudia Arantes, médica especialista em cuidados paliativos do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, é comum que os pacientes revejam os caminhos traçados ao longo dos anos quando sabem que a morte é uma realidade próxima. Sobre o primeiro item da lista "Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim" a médica destaca que é um sentimento muito frequente nessa fase. "É como se, agora, pudessem entender que fizeram escolhas pelas outras pessoas e não por si mesmas. Na verdade, é uma atitude comum durante a vida. No geral, acabamos fazendo isso porque queremos ser amados e aceitos. O problema é quando deixamos de fazer as nossas próprias escolhas”, explica a médica.

No segundo item da lista aparece a lamentação "Eu gostaria de não ter trabalhado tanto" . De acordo com a geriatra, essa sensação não acontece somente com os doentes, pois a vida moderna exige muito trabalho de todo mundo. “Mas o mais grave é quando se trabalha em algo que não se gosta. Quando a pessoa ganha dinheiro, mas é infeliz no dia a dia, sacrifica o que não volta mais: o tempo, e este sentimento fica mais grave no fim da vida porque as pessoas sentem que não têm mais esse tempo, por exemplo, pra pedir demissão e recomeçar”, argumenta.

Já o terceiro item da lista vem "Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos". Segundo a especialista, esse sentimento aparece porque quanto mais próximas da morte, mais as pessoas tendem a ficar mais sinceras e assumir o que sentem . “À medida que uma doença vai avançando, não é raro escutar que a pessoa fica mais carinhosa, mais doce. A doença tira a sombra da defesa, da proteção de si mesmo, da vingança. No fim, as pessoas percebem que essas coisas nem sempre foram necessárias e ainda, a maior parte das pessoas não quer ser esquecida, quer ser lembrada por coisas boas. Nesses momentos finais querem dizer que amam, que gostam, querem pedir desculpas e, principalmente, querem sentir-se amadas. Quando se dão conta da falta de tempo, querem dizer coisas boas para as pessoas”, explica a médica.

(foto: sxc hu)
(foto: sxc hu)
O quarto item da lista é um arrependimento que poderia ser evitado talvez se não fosse a falta de tempo "Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos". Isso também porque nem todas as pessoas têm boas relações com familiares e os amigos ajudam a ocupar este espaço. Até acontece de existir nessas relações familiares a culpa ou outros problemas. " Por isso, quando se tem pouco tempo de vida, muitas vezes o paciente quer preencher a cabeça e o tempo com coisas significativas e especiais, como os momentos com os amigos e dependendo da doença, existe grande mudança da aparência corporal. Muitos não querem receber visitas e demonstrar fraquezas e fragilidades. Nesse momento, precisam sentir que não vão ser julgados e essa sensação remete aos amigos”, afirma.

E o último item listado no livro é "Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz". Para a médica esse arrependimento é uma conseqüência das outras escolhas. É um resumo dos outros quatro para alguém que abriu mão da própria felicidade em nome do trabalho e da falta de tempo, do orgulho e da vergonha. “Não é uma questão de ser egoísta, mas é importante para as pessoas ter um compromisso com a realização do que elas são e do que elas podem ser. Precisam descobrir do que são capazes, o seu papel no mundo e nas relações. A pessoa realizada se faz feliz e faz as pessoas que estão ao seu lado felizes também”, explica.

“A minha experiência mostra que esse arrependimento é muito mais dolorido entre as pessoas que tiveram chance de mudar alguma coisa. As pessoas que não tiveram tantos recursos disponíveis durante a vida e que precisaram lutar muito para viver, com pouca escolha, por exemplo, muitas vezes se desligam achando-se mais completas, mais em paz por terem realmente feito o melhor que podiam fazer. Para quem teve oportunidade de fazer diferente e não fez, geralmente é bem mais sofrido do ponto de vista existencial”, alerta.

A especialista ainda dá duas dicas

1) “O que fica bastante claro quando vejo histórias como essas é que as pessoas devem refletir sobre suas escolhas enquanto têm vida e tempo para fazê-las”.

2) “Minha dica é a seguinte: se você pensa que, no futuro, pode se arrepender do que está fazendo agora, talvez não deva fazer. Faça o caminho que te entregue paz no fim. Para que no fim da vida, você possa dizer feliz: eu faria tudo de novo, exatamente do mesmo jeito”.

Dalva Guerra diz que faria tudo novamente
Dalva Guerra diz que faria tudo novamente
Dona Dalva Guerra, de 81 anos e mãe de 10 filhos é uma das raras pessoas que podem dizer isso. Ela relata que se tivesse a chance de viver novamente a sua vida repetiria todas as suas escolhas outra vez. "Eu faria tudo do mesmo jeito e não mudaria absolutamente nada até aqui."

Ela esteve à beira da morte aos 40 anos quando deu à luz um de seus 10 filhos. O médico disse que ela teria somente mais 15 dias de vida, mas ela não tem "guerra" somente como sobrenome e mesmo sem memória e sofrendo paralisia no lado esquerdo do corpo, ela se mostrou guerreira e, agora, vencedora e muita feliz. "O meu conselho para uma vida feliz e sem arrependimentos é que você seja sempre sincero, nunca humilhe ninguém, tenha amigos, mas seja bom amigo e, por fim, tenha fé em Deus".

Estudos confirmam o desejo de ser amado
Os itens 1, 3 e 5 da lista de arrependimentos poderia ser removida, caso as pessoas aprendessem a controlar a insegurança em relação ao amor. Em geral, o sentimento de que não é amado ou aceito contamina muito rápido uma pessoa, mesmo em se tratando de acontecimentos cotidianos e corriqueiros. Com esta insegurança as decisões são tomados tendo por base a opiniao alheia.

Ninguém gosta de se sentir deixado de fora, e um novo estudo mostra que até mesmo ser ignorado por um estranho dói. O estudo, publicado na revista Psychological Science, baseia-se na idéia de que as pessoas precisam se sentir conectados para se sentirem felizes, e estão sempre em busca dessa conexão. Por exemplo, uma pessoa pode ser afetada negativamente mesmo quando um estranho não reconhece a sua presença, disseram os pesquisadores.

Para testar essa idéia, pesquisadores da Purdue University, Ohio University e da Universidad Nacional de Mar del Plata, na Argentina realizaram um estudo fazendo contato visual com o que envolveu transeuntes. E o resultado foi que as pessoas que não eram "olhadas" pelos observadores, depois de questionadas, haviam se sentido inferior e rejeitadas. Isso prova que a tendência é tomar as decisões com vista nos outros, daí o excesso de trabalho, a preocupação com o status, a vergonha o medo, dentre outros.

Com assessoria Hospital Albert Einstein


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