
O drama da família Torres começou em 23 de dezembro de 2007. Dois dias antes do Natal, Alexandre assistia a uma missa quando se sentiu mal. O jornalista teve um pico de pressão e sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Uma tomografia computadorizada comprovou o problema e Alexandre passou por uma cirurgia de emergência, que drenou o sangue e conseguiu controlar a pressão. O procedimento foi realizado no Hospital da Unimed, na Asa Sul. O paciente permaneceu internado e em coma induzido — para reduzir as chances de lesões cerebrais.
Três dias depois, como a vítima apresentava sinais de melhora, os médicos determinaram a retirada da sedação para que Alexandre saísse do coma. À época, ele reagia bem aos estímulos visuais, auditivos e motores. Quando o efeito da sedação cessou, o jornalista involuntariamente retirou o tubo de oxigenação que estava sobre o seu rosto. Sem conseguir respirar por cerca de 15 minutos, surgiram as graves lesões cerebrais. Quando um cirurgião apareceu para fazer a traqueostomia, já era tarde: Alexandre Torres estava em um irreversível estado vegetativo.
Para a família do jornalista, a atuação dos profissionais responsáveis pelo paciente levou ao agravamento do seu quadro de saúde. Filha de Alexandre, a advogada Isabela Torres, 32 anos, afirma que é preciso acompanhar permanentemente as pessoas que saem do coma induzido. “Deveria haver alguém ao lado dele. Além disso, esses pacientes têm que ser contidos, amarrados à cama, porque arrancar o tubo é um reflexo normal de quem acorda do coma induzido. E isso não foi feito, o que para nós caracteriza a negligência”, conta Isabela. “Um perito judicial atestou que a conduta foi errada”, acrescenta.
Dignidade humana
Em julho de 2009, os familiares entraram na Justiça contra a Unimed, responsável pelo hospital que realizou o atendimento ao jornalista. Poucos dias depois, o juiz João Luís Fischer Dias, da 9ª Vara Cível do Tribunal de Justiça, concedeu uma liminar determinando que a Unimed colocasse “imediatamente à disposição do autor o tratamento médico-hospitalar que for necessário”. O magistrado alegou que Alexandre necessita de “cuidados médicos intensivos para manutenção de sua vida, sendo esse direito resguardado pela Constituição Federal, assim como o direito à dignidade humana”. O TJDFT fixou multa diária de R$ 2,5 mil em caso de descumprimento da decisão. Além da Unimed, o plano de saúde Medial também figura como réu no processo, já que é o convênio de Alexandre Torres.
Apesar da multa pesada fixada pelo magistrado, a empresa não cumpriu a decisão, e os custos ainda estão todos sob responsabilidade da família Torres. A estrutura de home care montada no apartamento da família, na Asa Sul, é enorme. São seis auxiliares de enfermagem, três fisioterapeutas e uma fonoaudióloga. A alimentação especial custa R$ 900 mensais e o paciente depende de 12 medicamentos, muitos deles de alto custo. Sem receber nada, apesar da decisão judicial, a família entrou com um novo processo de execução para pagamento da multa e dos valores devidos.
Mulher de Alexandre Torres, a procuradora federal Ana Maria Bermudez Torres, 54 anos, diz que ainda tem expectativas de que a decisão da Justiça seja cumprida. Ela quer levar o marido na cadeira de rodas na próxima audiência, marcada para o próximo dia 16. “Vamos mostrar que não se trata apenas de processos e números. Queremos que vejam qual é a situação dele. A família espera uma saída para amenizar o sofrimento”, explica Ana Maria.
O assessor jurídico da Unimed Brasília, Eduardo Navarro, não quis dar detalhes sobre a estratégia de defesa da empresa, que só será apresentada na próxima audiência. “Tudo será discutido na audiência, não posso adiantar. O que devo dizer é que foram adotadas todas as providências cabíveis para salvar a vida do autor do processo”, explica o advogado. A assessoria de imprensa Medial informou que a empresa não vai se manifestar antes do fim do processo, que ainda tramita na Justiça.
