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Estado de Minas CHECAMOS

É falso que bananas da Somália 'chegaram aos mercados' com verme

As publicações incluem um vídeo no qual se vê a mão de uma pessoa retirando um suposto verme de dentro de uma banana


30/11/2021 20:21 - atualizado 30/11/2021 20:21


 

Imagem com conteúdo falso
Captura de tela feita em 30 de novembro de 2021 de uma publicação no Twitter ( . / ) (foto: Reprodução)
Um vídeo em que um homem retira um suposto verme de uma banana circulou nas redes sociais em novembro de 2021 em diferentes países da América Latina com a afirmação de que a fruta fazia parte de um carregamento da Somália e que estavam infestadas pelo “verme chamado Helicobacter”. Embora não tenha sido possível chegar à origem do conteúdo, a região não é receptora de bananas da Somália, segundo o relatório do comércio mundial dessa fruta elaborado pela FAO e registros das exportações do país africano. Além disso, a Helicobacter é uma bactéria, não um verme.


“Banana perigosa. Por favor, divulgue este vídeo o máximo possível. Recentemente, chegaram aos mercados 500 toneladas de bananas da Somália, que contêm um verme chamado Helicobacter que libera veneno no estômago”, indicam as publicações compartilhadas no Facebook (1, 2) e no Twitter (1, 2) em português, mas que também viralizaram em países como México, Argentina, Peru, Colômbia e Venezuela.

De acordo com o texto, que foi igualmente enviado ao WhatsApp do AFP Checamos para verificação, esse suposto verme causa “diarreia, vômitos, náuseas, dor de cabeça” e, inclusive, pode provocar “morte cerebral”.

As publicações incluem um vídeo no qual se vê a mão de uma pessoa retirando um suposto verme de dentro de uma banana. 

Na sequência é possível, ainda, ouvir a voz de um homem falando em francês “tenham cuidado ao comer bananas”, mas sem fazer referência à Somália ou a um carregamento que teria sido encontrado em mercados.

Uma busca reversa por capturas de tela do vídeo obtidas por meio da ferramenta InVid-WeVerify mostrou que a gravação já circulou com a mesma alegação no Egito desde, pelo menos, o último dia 30 de outubro, assim como nas Filipinas e no Irã.

A sequência e o texto também foram encontrados em espanhol, francês, inglês, hindi e árabe.

Em 1º de novembro de 2021, as autoridades de Abu Dhabi desmentiram a versão das bananas somalis contaminadas. 

A equipe de checagem da AFP não conseguiu identificar a origem do vídeo.

Bananas importadas da Somália?


De acordo com o último Relatório de mercado da banana, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) em 2019, Equador, Filipinas, Guatemala e Colômbia são os maiores exportadores de bananas em nível global. 

Na África, os maiores exportadores são Camarões e Costa do Marfim, com destino ao mercado europeu. No documento não há qualquer menção à Somália. 

Esse país africano foi um importante exportador de bananas em nível regional até a explosão da guerra civil em 1991. Desde então, e durante anos, a fruta abasteceu unicamente o mercado local.

Atualmente, as principais exportações da Somália são ouro, ovinos, caprinos, bovinos, oleaginosas e resinas de insetos. Esses produtos são destinados principalmente para Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Índia, Japão e China. Na América Latina, Brasil, Argentina e Peru são receptores de mercadorias somalis, mas não de bananas.

Após décadas sem exportar a fruta, a Somália voltou a fazê-lo em 2019 para a Arábia Saudita e em 2020 para a Turquia. Entretanto, está longe de fazer parte das principais mercadorias exportáveis do país.
Homem perto de cachos de banana
Um homem empilha bananas no mercado de Hamarweyne, em Mogadíscio, Somália, em 17 de maio de 2018 ( AFP / Mohamed Abdiwahab) (foto: Reprodução)

Helicobacter, um verme?


“Não é um verme ou um parasita, a Helicobacter é uma bactéria”, disse à equipe de checagem da AFP o argentino Sixto Raúl Costamagna, especialista em bioquímica clínica na área de Parasitologia. “Sua infecção está associada a distúrbios digestivos, incluindo úlceras”, detalhou.

Ignacio Silva, infectologista do Hospital Barros Luco, no Chile, e acadêmico da Universidade de Santiago, explicou que a bactéria não pode ser vista a olho nu, como pretende mostrar o vídeo viral. “Só pode ser vista em microscópio”, disse à AFP.

Dentro da família das Helicobacter, a mais conhecida é a Helicobacter pylori. De acordo com os Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a infecção por esse patógeno é comum, sobretudo nos países em desenvolvimento, e sua forma de propagação mais comum é de pessoa para pessoa, por via oral. 

Estima-se que quase dois terços da população mundial tenha a Helicobacter pylori, mas a maioria das pessoas não apresenta sintomas. No entanto, é uma das principais causas de úlceras e gastrite em todo o mundo. 

Os sintomas dessas doenças incluem dor epigástrica aguda e, com menos frequência, náuseas, vômitos ou perda do apetite. 

As pessoas infectadas com Helicobacter pylori têm um risco entre duas a seis vezes maior de desenvolver câncer gástrico, o que, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, causa mais de um milhão de mortes no mundo por ano.

O que se vê no vídeo?


Fabricio Loyola, agrônomo equatoriano e membro do Colégio de Engenheiros Agrônomos de Pichincha, assistiu ao vídeo viralizado a pedido da AFP.

Para ele, esses supostos vermes ou larvas que a pessoa extrai da fruta e que não apresentam nenhuma mobilidade parecem mais com fibras em uma banana que teve um problema de maturação.

“Quando a banana é ‘amadurecida à força’ [quando o processo de maturação é acelerado], a parte branca e comestível da fruta não atinge seu grau adequado de açúcar e se transforma em tecido fibroso”, explicou Loyola.

Além disso, acrescentou que “uma larva tão gigante” não é realista.


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