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Estado de Minas CHECAMOS

A história por trás da foto: jovens guepardos aprendiam com sua mãe como capturar presas

As publicações, que já haviam circulado amplamente em 2019, continuaram a ser compartilhadas no Facebook e no Instagram ao longo de 2020 e de 2021


27/07/2021 20:31 - atualizado 27/07/2021 20:31


 

Captura de tela feita em 26 de julho de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 26 de julho de 2021 de uma publicação no Facebook
“Esta foto ganhou o prêmio de ‘Melhor Foto da Década’ e levou o seu fotógrafo a uma grande depressão”, começam postagens amplamente compartilhadas de 2019 a 2021. As legendas indicam que a fotografia retrata como uma mãe cervo se entregou a guepardos para proteger os seus filhotes. Contudo, a história da imagem é bem diferente: segundo declarou a fotógrafa responsável à AFP, a imagem mostra guepardos aprendendo com sua mãe como capturar presas, neste caso uma impala e não um cervo. Embora tenha sido premiada, ela não foi catalogada como a “Melhor Foto da Década”.


A descrição que acompanha as imagens continua: “Os guepardos perseguiram uma mamãe cervo e seus dois filhotes (bebês cervos). A mãe poderia ter escapado facilmente dos guepardos, mas, no lugar disso, se ofereceu, mansamente, a eles para que seus filhos pudessem escapar com completa segurança. Na foto, ela é vista olhando seus bebês correndo a salvo bem longe, enquanto ela estava a ponto de ser destroçada em pedaços pelos guepardos... ‘O sentimento de amor e sacrifício de uma mãe não é só um sentimento humano’”.

 

As publicações, que já haviam circulado amplamente em 2019, inclusive em inglês, continuaram a ser compartilhadas no Facebook e no Instagram ao longo de 2020 (1, 2, 3) e de 2021 (1, 2).


Por meio de uma busca reversa foi possível encontrar uma matéria publicada no site DNA India em fevereiro de 2017 sobre a fotografia e o contexto em que foi tirada. Intitulado “A história real por trás da foto viral de guepardos atacando um impala”, em tradução livre do inglês, o artigo cita a fotógrafa - e não o fotógrafo, como dizia a postagem viralizada - que fez o clique: Alison Buttigieg, nascida em Malta. 

No texto é explicado que o site entrou em contato com a responsável pela imagem questionando se ela sabia sobre a viralização, ao que ela respondeu: “Sim, eu sei. Centenas de pessoas estão me enviando mensagens sobre a minha falsa depressão e [perguntando] o porquê eu não salvei o veado. Foi horrível. Eu não tenho ideia de quem começou isso, eu gostaria de saber”.

No site de Alison é possível ver a fotografia e o seu verdadeiro contexto: tirada na reserva nacional Masai Mara, no Quênia, em 2013, o registro - que integra uma série de fotos - mostra uma mãe guepardo ensinando seus filhotes a capturar presas. 

Na descrição da imagem pode-se ler, em tradução livre do inglês: “O que é incomum nessa sequência de fotos é o quão calma está a impala. Está, provavelmente, em choque e, portanto, paralisada pelo medo. É perturbador como parece estar posando em algumas fotos (...) como se estivesse determinada a ficar bonita e orgulhosa até o fim”.  

Em 2019, o AFP Checamos entrou em contato com Buttigieg, que mora em Helsinque, na Finlândia, que contou que, já naquele ano, a fotografia viralizava “há mais de dois anos e meio - sempre com a mesma história falsa. Apesar de esclarecer muitas vezes qual é a verdadeira história, as pessoas preferem espalhar a versão falsa - já que sensacionalista - e receber um monte de ‘curtidas’”.

Em fevereiro de 2017, a fotógrafa, cujo trabalho é focado em registrar o comportamento animal, explicou em seu perfil no Facebook que a imagem estava sendo usada erroneamente. 

Buttiegieg ainda disse à AFP: “Tenho sido assediada por algumas destas páginas quando me atrevi a denunciá-las para que a imagem fosse retirada. Vergonhoso”.

Ela também confirmou que não sofreu de depressão após fazer as fotografias, como dizem as postagens virais: “Sobre a depressão, não tenho palavras para isso. Usar uma falsa declaração de doença mental para tornar uma história viral é insensível comigo (isso me causou problemas no meu local de trabalho) e com as pessoas que sofrem desta doença”.

Anteriormente, pelo Twitter, a fotógrafa já havia desmentido algumas afirmações de que teria sofrido de depressão e, em sua conta no Instagram, publicou a fotografia juntamente com a explicação.


Em 2020, a fotografia fez parte do Remembering Cheetahs, um projeto em fotolivro com o objetivo de arrecadar fundos para a conservação dessa espécie.

A publicação viralizada também fala da suposta “mãe cervo” vista na foto, mas se trata de um impala. As duas espécies têm diferenças consideráveis, começando pelo fato de que a primeira faz parte da família Cervidae e a segunda, da Bovidae. Os cervos também costumam ser chamados de veados e os impalas genericamente de antílopes.

Em 2016, Alison ganhou o prêmio “Remarkable Award” no Siena International Photo Awards pela foto que viralizou. Segundo contou em seu site, ela concorreu com mais de cinco mil inscritos e a categoria na qual venceu foi a de “Vida selvagem”.


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