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Estado de Minas CHECAMOS

Facebook restaurou post sobre hidroxicloroquina, mas mantém política contra desinformação contra covid

Não é verdadeira a afirmação de publicação compartilhada mais de 40 mil vezes em redes sociais de que o Facebook teria admitido erro por censurar postagem


15/02/2021 19:33 - atualizado 15/02/2021 19:33

Captura de tela feita em 12 de fevereiro de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 12 de fevereiro de 2021 de uma publicação no Facebook

 

Publicações alegando que o Facebook admitiu um erro por ter censurado conteúdos sobre o uso de hidroxicloroquina para tratar a covid-19 foram compartilhadas mais de 42 mil vezes desde pelo menos o último dia 30 de janeiro.

Essa afirmação, entretanto, é enganosa. Um comitê independente formado pela rede social, de fato, solicitou a restauração de uma publicação feita por um usuário na França, alegando que ela não incentivava as pessoas a comprar ou tomar medicamentos sem receita, o que foi aceito pelo Facebook. Mas a empresa garantiu que mantém suas políticas contra a desinformação sobre o novo coronavírus

“Facebook reconhece que ‘cometeu um erro’ ao censurar hidroxicloroquina", aparece em uma das imagens amplamente compartilhadas na rede social (1, 2, 3) e em sites (1, 2, 3). 


Mas não foi bem assim. 

 

A rede social realmente restaurou uma postagem específica feita por um usuário da França em outubro de 2020 com críticas ao governo francês, que havia se recusado a autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina com azitromicina para o tratamento da covid-19. No entanto, essa decisão não alterou a postura da plataforma em relação à desinformação sobre a covid-19.

 

Por meio de um porta-voz, o Facebook informou ao projeto Comprova que seguiu a recomendação feita pelo Comitê de Revisão - um grupo de especialistas criado e financiado pela empresa para analisar de forma independente alguns casos de remoção de conteúdo da rede social - e restaurou a postagem, mas reafirmou ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas durante a pandemia.

O que dizia a postagem removida

Em outubro de 2020, um usuário do Facebook na França denunciou em um grupo público sobre a covid-19 o que chamava de “escândalo da Agence Nationale de Sécurité du Médicament” (agência francesa responsável pela regulamentação dos produtos para a saúde), que se recusou a autorizar no país o uso combinado da hidroxicloroquina com a azitromicina no tratamento da covid-19, ao mesmo tempo em que havia autorizado e promovido o remdesivir.

 

O remdesivir é um antiviral aplicado por via intravenosa, usado originalmente para combater o ebola, que foi bastante citado no início da pandemia como promissor no tratamento da covid-19. Mas em novembro do ano passado, a OMS informou que não recomendava o uso do medicamento contra a covid-19 por falta de evidências de que ele tivesse efeitos significativos.

 

Já a hidroxicloroquina é um medicamento usado no tratamento de doenças reumáticas, como lúpus, e também contra a malária. A OMS informou, em outubro do ano passado, que a hidroxicloroquina também não funciona contra a covid-19.

 

A postagem do usuário francês foi removida pelo Facebook com base na política de combate à desinformação contra a covid-19 da rede social, considerando que contribui para o “risco de dano físico iminente”. A empresa explicou ao Comitê de Revisão que removeu a postagem porque ela afirmava que existiria uma cura para a covid-19, fato negado pelas principais autoridades sanitárias do mundo, e concluiu que isso poderia levar as pessoas a ignorar as orientações de saúde ou a tentarem se automedicar.  

O que disse o Comitê de revisão

Contudo, no dia último dia 28 de janeiro, o Comitê decidiu anular a remoção do conteúdo. Para o Comitê, na postagem o usuário criticava uma política governamental na França – a de não autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina e azitromicina – e pretendia mudá-la.

 

“A combinação de medicamentos que o post afirma constituir uma cura não está disponível sem receita na França e o conteúdo não incentiva as pessoas a comprar ou tomar medicamentos sem receita”, afirma o texto publicado pelo comitê.

 

Para os membros do comitê, o Facebook não demonstrou que a postagem elevaria o risco de dano iminente, exigido pela própria regra dos Padrões da Comunidade. Eles também apontaram que a decisão do Facebook não está em conformidade com os padrões internacionais sobre a liberdade de expressão. O comitê questiona, ainda, por que a empresa, que tem uma ampla gama de ferramentas para lidar com a desinformação, não escolheu uma punição menos invasiva do que remover o conteúdo.

 

O grupo de especialistas também considerou vaga a regra sobre desinformação e dano iminente, tornando difícil para os usuários entenderem o que podem e o que não podem postar. 

 

Na decisão, o grupo determinou que o Facebook restaurasse a postagem que foi removida e recomendou que a empresa crie um novo Padrão da Comunidade sobre desinformação em saúde; adote meios menos invasivos para aplicar as políticas de desinformação em saúde; e aumente a transparência sobre como modera a desinformação em saúde.

O que disse o Facebook

No mesmo dia 28 de janeiro, o Facebook se pronunciou sobre a decisão tomada pelo Comitê de Supervisão e informou que a postagem havia sido restaurada. A vice-presidente de Políticas de Conteúdo do Facebook, Monika Bickert, comentou o caso da hidroxicloroquina em uma publicação na Newsroom do Facebook:

 

“O comitê corretamente levanta preocupações de que podemos ser mais transparentes sobre nossas políticas de desinformação em relação à covid-19. Concordamos que essas políticas podem ser mais claras e pretendemos publicar políticas de [combate à] desinformação de covid-19 atualizadas em breve”.

Procurado pelo Comprova, do qual o AFP Checamos faz parte, o Facebook reafirmou a importância de as pessoas terem acesso a informações precisas no atual contexto de pandemia:

 

“Seguindo o compromisso com o Comitê de Supervisão, restauramos o post sobre covid-19. Porém, acreditamos ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas na nossa plataforma e sabemos que isso é ainda mais crítico durante uma pandemia. Mantemos nossa abordagem de remover desinformação sobre coronavírus que possa levar danos às pessoas no mundo real, com base em extensas consultas a grupos científicos como o Centro de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e a Organização Mundial da Saúde”.

 

Em resumo, é enganoso o conteúdo das publicações viralizadas com a afirmação de que o Facebook reconheceu que cometeu um erro ao “censurar” a hidroxicloroquina. A rede social realmente restaurou a postagem removida que mencionava o medicamento depois que seu Comitê considerou que ela não incitava as pessoas a comprar o antimalárico. O Facebook, entretanto, assegurou que manterá suas políticas de combate à desinformação em relação à covid-19.

 

Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do Estadão, do UOL, do Poder 360 e da Rádio Nordeste. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.


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