"Você é um homem. Comporte-se como um!", diz uma das ações que têm o objetivo de dar um novo impulso ao alistamento - cada vez menor-, sem recorrer a uma nova mobilização forçada, um movimento impopular que o Kremlin adotou em setembro, após vários reveses militares.
Desde então, como forma de apaziguar a opinião pública, o governo lançou a maior campanha publicitária de recrutamento militar voluntário desde o início da ofensiva russa, em fevereiro de 2022.
Em Moscou, propagandas se espalham por outdoors em rodovias, vitrines e pontos de ônibus, todos promovendo um "trabalho honrado e salários decentes".
Embora as autoridades não tenham anunciado metas numéricas, a imprensa russa relata que o exército espera recrutar centenas de milhares de homens.
No site do município de Moscou, o salário prometido a um soldado enviado à Ucrânia é de 204.000 rublos (2.500 dólares ou 12.652 reais no câmbio atual), mais de 10 vezes o salário mínimo.
Aos que participarem da ação ofensiva, é prometido ainda um bônus diário de 8.000 rublos (496 reais) e outros 50.000 rublos (3.099 reais) por cada quilômetro conquistado em uma brigada de assalto, a formação mais exposta ao fogo inimigo.
"Na Rússia, é uma boa quantia para sustentar uma família, incluindo os pais. É lógico: se uma pessoa defende sua pátria, por que não a pagam?", disse à AFP Piotr Lipka, um jovem de 21 anos.
"Alistar-se por contrato é melhor" do que ser mobilizado, acrescentou o estudante de Volgogrado.
- "Defender a pátria" -
Nos cartazes não há imagens de combate, o conflito na Ucrânia parece distante. "Nosso trabalho, defender a pátria", pondera um banner com três soldados sob um céu azul.
Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra um taxista, um corretor de seguros e um professor de educação física seguido da frase "esse é realmente o caminho que você queria escolher?", questionando profissões tradicionais em detrimento da atividade militar.
No final da propaganda, os três homens ficam satisfeitos em optar pelo uniforme do exército e o rifle de assalto, sob o slogan "Você é um homem. Comporte-se como um".
Evgeny Krapivine serviu na Chechênia em sua juventude. O homem de 41 anos contou à AFP que gostaria de se alistar novamente, mas teme que sua idade seja um problema.
"Quando perguntei, eles me responderam: 'você tem 41 anos, não vamos levar você'", disse. Posteriormente, o exército reconsiderou sua adesão e o informou que podem entrar em contato com o veterano "a qualquer momento".
Ao lançar a campanha, o presidente russo, Vladimir Putin, teve uma lei aprovada em apenas dois dias para facilitar uma nova mobilização, o que gerou temores, à medida que a primeira convocação militar "parcial" em setembro fez com que dezenas de milhares de homens fugissem para o exterior.
Com as ações de recrutamento voluntário, o governo quer "evitar um novo susto", disse à AFP Denis Volkov, diretor do centro de estudos independentes Levada, acrescentando que a propaganda deve ter mais força no interior do que nas principais cidades do país.
Em Moscou, os pais idosos dos soldados recrutados recebem assistência domiciliar e seus filhos possuem vagas gratuitas em creches.
Em caso de morte, estes recrutas recebem a promessa de abrigo para suas famílias e uma indenização de vários milhões de rublos.
MOSCOU