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A história por trás da tradição de comer ovos de chocolate na Páscoa

Muitas tradições da Páscoa vêm do cristianismo da era medieval ou até das crenças pagãs mais antigas. Mas o ovo de chocolate é mais recente


08/04/2023 09:15 - atualizado 08/04/2023 09:21

Ovos de Páscoa
Ovos de galinha são consumidos na Páscoa há séculos (foto: Getty Images)

Muitas tradições da Páscoa - como os pães doces e o almoço de domingo - vêm do cristianismo da era medieval ou até das crenças pagãs mais antigas. Mas o ovo de chocolate é uma reviravolta mais recente.


Ovos de galinha são consumidos na Páscoa há séculos. Há muito tempo, os ovos simbolizam o renascimento e a renovação, o que os torna perfeitos para comemorar a história da ressurreição de Jesus, que coincide com a chegada da primavera no hemisfério norte.


Atualmente, a Igreja Católica permite o consumo de ovos durante o período de jejum da quaresma, mas, na Idade Média, eles eram proibidos, junto com a carne e os laticínios. Os chefes de cozinha medievais, muitas vezes, encontravam formas surpreendentes de contornar a proibição - e até faziam ovos falsos para substituir os verdadeiros.


Na Páscoa, um período de celebração, os ovos e a carne, como o cordeiro (outro símbolo de renovação), voltavam à mesa.


Mesmo depois que os ovos foram permitidos nas refeições no período de jejum, eles continuaram ocupando lugar de destaque no banquete de Páscoa. O escritor de livros de receitas do século 17 John Murrell recomendava "ovos com molho verde", uma espécie de pesto feito com folhas de azedinha.


Em toda a Europa, os ovos também eram oferecidos como dízimo para as igrejas locais na Sexta-Feira Santa.


Pode ter sido daí que surgiu a ideia de dar ovos de presente.


A prática foi abandonada em muitas áreas protestantes depois da Reforma, mas algumas aldeias inglesas mantiveram a tradição até o século 19.


Não se sabe exatamente quando as pessoas começaram a decorar os ovos, mas as pesquisas apontam para o século 13, quando o rei inglês Eduardo 1º (1239-1307) deu ovos embalados em folhas de ouro de presente para seus cortesãos.


Mulher pintando casca do ovo
Não se sabe exatamente quando ovos passaram a ser decorados, mas pesquisas apontam para o século 13, quando rei inglês Eduardo 1º (1239-1307) deu ovos embalados em folhas de ouro de presente para seus cortesãos (foto: Getty Images)

Sabemos também que, alguns séculos mais tarde, pessoas de toda a Europa coloriam seus ovos. Normalmente, escolhiam o amarelo, usando cascas de cebola, ou vermelho, com raízes de plantas rubiáceas ou beterraba.


Acredita-se que os ovos vermelhos simbolizassem o sangue de Cristo. Um autor do século 17 indicou que essa prática vinha dos primeiros cristãos da Mesopotâmia, mas é difícil saber ao certo.


Na Inglaterra, a forma mais popular de decorar os ovos empregava pétalas de flores, que geravam impressões coloridas.

O Museu Wordsworth, na região de Lake District, ainda conserva uma coleção de ovos feitos para os filhos do poeta William Wordsworth (1770-1850) nos anos 1870.

Dos ovos secos para os de chocolate

Pintar ovos com padrões coloridos ainda é uma atividade comum na Páscoa, mas, atualmente, esses ovos são cada vez mais associados ao chocolate. Quando ocorreu essa mudança?


Quando o chocolate chegou pela primeira vez à Grã-Bretanha no século 17, era uma novidade fascinante e muito cara.

Em 1669, o Conde de Sandwich pagou 227 libras por uma receita de chocolate do rei Carlos 2º (1630-1685). O valor equivale a 32 mil libras (cerca de R$ 204 mil), em valores atuais.


Hoje em dia, o chocolate é considerado um alimento sólido, mas, na época, era uma bebida normalmente condimentada com pimenta, seguindo as tradições maias e astecas.


E, para os ingleses, essa nova e exótica bebida era diferente de tudo o que eles já haviam experimentado. Um autor a chamou de "néctar americano": uma bebida para os deuses.


O chocolate logo se tornou uma bebida da moda entre os aristocratas, muitas vezes oferecida de presente, como símbolo de status. E essa tradição permanece até hoje.


A bebida também era apreciada nas recém-abertas cafeterias de Londres. O café e o chá também haviam acabado de ser introduzidos na Inglaterra, e as três bebidas rapidamente mudaram a forma como os britânicos interagiam socialmente entre si.


Foi naquela época que os teólogos do catolicismo, de fato, relacionaram o chocolate à Páscoa, mas devido à preocupação de que tomar chocolate infringiria as práticas de jejum durante a quaresma.


Após intensos debates, ficou definido que o chocolate preparado com água poderia ser aceitável durante o jejum. Pelo menos na Páscoa - uma época de festa e celebração - o chocolate era aceito.


O chocolate continuou sendo caro até o século 19. Em 1847, a empresa Fry’s (que hoje pertence à fábrica de chocolates inglesa Cadbury) produziu as primeiras barras de chocolate sólidas, que revolucionaram o comércio do produto.


Ovo de chocolate
(foto: Getty Images)

Com isso, o chocolate ficou muito mais acessível na era vitoriana, mas ainda era visto com certa complacência. E, trinta anos mais tarde, em 1873, a Fry’s desenvolveu o primeiro ovo de Páscoa de chocolate como uma iguaria de luxo, mesclando duas tradições relacionadas à troca de presentes.


Mesmo no início do século 20, esses ovos de chocolate ainda eram vistos como um presente especial e muitas pessoas nunca comiam os que ganhavam. Uma mulher no País de Gales chegou a guardar um ovo de 1951 por 70 anos e um museu em Torquay, no sul da Inglaterra, recentemente comprou um ovo que estava guardado desde 1924.


Somente nos anos 1960 e 1970, os supermercados começaram a oferecer ovos de chocolate a preços mais baixos, esperando lucrar com a tradição da Páscoa.


Com as preocupações crescentes sobre a continuidade da produção de chocolate e a gripe aviária reduzindo a produção de ovos, a Páscoa poderá ter aparência um pouco diferente no futuro. Mas, se há uma coisa que os ovos de Páscoa podem nos mostrar é a capacidade de adaptação das tradições.


*Serin Quinn é aluna de PhD do Departamento de História da Universidade de Warwick, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.


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