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Estado de Minas DEPARTAMENTO DE NARIÑO

Negociar com ex-guerrilheiro no poder na Colômbia gera 'confiança': dissidências das Farc


10/03/2023 15:20

Na úmida floresta colombiana e sob barracas de plástico, um comando rebelde se abriga, prestes a conversar com um ex-guerrilheiro que "inspira confiança" neles. Dissidentes das extintas Farc aguardam o início de novas negociações de paz, desta vez com o presidente Gustavo Petro.

A AFP visitou esta facção de combatentes, no departamento de Nariño (sudoeste), que nunca considerou depor as armas em 2017, como fez a maioria dos integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) quando assinaram um acordo histórico com o governo em 2016.

Eles fazem parte das chamadas dissidências que rejeitaram categoricamente a negociação, enquanto há outra facção que retomou as armas alegando descumprimentos. Estes dois grupos de antigos "camaradas" hoje são inimigos de morte.

Porém, uma nova porta se abriu para o diálogo com a chegada à Presidência de Gustavo Petro em agosto. De passado subversivo e primeiro político de esquerda no cargo, o presidente quer encerrar o último conflito armado das Américas com uma política de negociações chamada "Paz total".

As câmeras são ligadas e o comandante "Hernán Zapata" fala, com exclusividade, junto com oito rebeldes com fuzis e pulseiras das Farc, organização que em 2024 completaria 60 anos.

Zapata pertence ao Comando Coordenador do Ocidente, que opera nos departamentos do Pacífico, próximos à fronteira com o Equador.

"Neste momento, temos um governo progressista que nos inspira confiança. Acreditamos que, de repente, com ele, podemos chegar a acordos que favoreçam o povo", diz um insurgente de 50 anos, membro da Frente 30 Rafael Aguilera.

- "Ideologia política" -

Entre árvores gigantes, os rebeldes avançam. Negros, indígenas e uma mulher de cabelos longos trançados até a cintura integram o comando. Ninguém tem mais de 25 anos.

Zapata defende uma nova negociação sem cair nos "erros" do passado. O acordo de Havana deixou os guerrilheiros desarmados e à mercê de seus adversários, alega. Também não controlou o tráfico de drogas.

Foi "um processo muito leve", conclui.

Duvidoso das concessões feitas pela guerrilha, o comandante condiciona a entrega de fuzis: "temos que avançar no processo de paz e quando as armas não forem mais necessárias, nos desfaremos delas", afirma.

Em comunidades negras e com pouca presença do Estado, os rebeldes são bem-vindos. Longe dali, o debate é acalorado diante dos gestos de paz de Petro.

O governo reconheceu estas dissidências como o Estado-maior Central das Farc e pediu a suspensão das ordens de prisão contra cerca de vinte de seus membros para que atuem como negociadores. O Ministério Público tem reservas.

Para a oposição, as dissidências são gangues criminosas que lucram com o tráfico de cocaína e o garimpo ilegal, por isso não deveriam ter reconhecimento político.

O alto comissário para a Paz, Danilo Rueda, afirmou na segunda-feira que está prestes a iniciar as negociações, se resolverem algumas "questões jurídicas". "Tudo depende da decisão tomada pelo presidente [sobre o tratamento que lhes dará]", assegurou.

Para Zapata, esse passo é essencial: "somos as Farc que não quiseram aderir ao processo de paz (...) nós não podemos caber no mesmo pacote de grupos paramilitares e traficantes de drogas, porque temos uma ideologia política, somos revolucionários".

- Coesos -

A guerra continua, apesar de um trégua declarada entre o Estado e as principais organizações armadas.

"Estamos acatando a ordem", assegura Zapata.

Desde janeiro, as dissidências evitam choques com as forças oficiais, mas os enfrentamentos com outros grupos continuam.

Sete jovens de gangues rivais que se renderam em combates foram detidos no acampamento durante a visita da AFP. Na quarta-feira, foram liberados.

O Ministério da Defesa tem questionado a unidade de comando das dissidências e em janeiro registrou pelo menos seis violações à trégua.

"Perdemos familiares e hoje apostamos em que a 'Paz Total' nos trará garantias de não repetição", afirma um líder comunitário.

Ao lado do rio, panos brancos exibem a palavra "paz".

Zapata evoca a desmobilização de 13.000 guerrilheiros das Farc. Com cerca de 20 companheiros, ele permaneceu escondido na mata, resistindo ao acordo.

As facções fragmentadas do país ficaram "coesas" sob o Frente Primero, o mais forte grupo de dissidentes comandados pelo pseudônimo Iván Mordisco.

Cálculos independentes estimam que todas as dissidências somam cerca de 5.000 membros.

"Se eu dissesse que estamos no mesmo nível de quando o secretariado para o processo de paz saiu, estaria mentindo, mas sim, já estamos cerca de 70% na mesma capacidade que estávamos nessa época", sustenta.


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