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Estado de Minas TÓQUIO

Ex-soldado japonesa denuncia assédio sexual nas Forças Armadas


27/02/2023 09:55

Desde sua infância, Rina Gonoi sonhava em fazer parte das Forças Armadas japonesas. Ela nunca imaginou, porém, que seu objetivo se tornaria uma pesadelo por uma série de abusos sexuais que viria a sofrer na hierarquia militar.

Desde que entrou nas Forças Armadas em 2020, a jovem de 23 anos conta ter sofrido assédios diários por seus colegas de trabalho.

"Quando você anda pelo corredor, alguém te dá um tapinha no quadril, ou te segura por trás (...) Eles beijaram minha bochecha e agarraram os meus seios", contou ela.

Gonoi relata que, durante um exercício, três colegas prenderam-na no chão, abriram suas pernas e cada um pressionou sua virilha contra ela.

A jovem então denunciou os incidentes, mas uma investigação interna determinou que não havia provas suficientes para prosseguir com as acusações.

Diante disso, em junho de 2022, ela decidiu tornar pública sua denúncia, em um vídeo no YouTube. Conseguiu uma poderosa resposta e grande visibilidade para o caso, que foi reaberto e teve uma investigação criminal iniciada.

Posteriormente, o Ministério da Defesa reconheceu o ataque e pediu desculpas.

"Fiquei profundamente decepcionada com as Forças de Autodefesa", contou à AFP.

- "Mais desesperada do que corajosa" -

Ao compartilhar sua experiência, Gonoi encorajou dezenas de pessoas a denunciarem abusos sexuais e outros crimes dentro das Forças Armadas de seu país.

"Se fosse só por mim, já teria parado, mas carrego as esperanças de muitos outros, então sinto que devo fazer o meu melhor", afirma.

A comoção para ela foi ainda maior por sua história até ingressar nas Forças Armadas.

Gonoi conta que, quando tinha 11 anos, acompanhou o trabalho de mulheres da instituição militar que ajudaram a construir banheiros para sobreviventes do terremoto e do tsunami que atingiram o Japão em 2011.

"Cheguei a pensar que um dia seria como elas e trabalharia para ajudar outras pessoas", disse.

A ex-soldado, que também pratica judô, sonhava em competir nos Jogos Olímpicos e utilizava as instalações esportivas do serviço militar para treinar. Por este motivo, a decisão de fazer uma denúncia pública se tornou ainda mais dolorosa.

"Era o último recurso", disse, acrescentando que se sentia "mais desesperada do que corajosa".

"Testemunhei com os meus olhos ataques a mulheres de alto escalão e não queria que fossem abandonadas", ou que outras soldados "passassem pela mesma experiência", explicou.

Após a denúncia, mais de 100 mil pessoas assinaram uma petição para que fosse iniciada uma investigação independente. O pedido foi enviado em agosto para o Ministério da Defesa.

O movimento levou o órgão público a identificar mais de 1.400 pessoas que apresentaram denúncias de agressão sexual e assédio nas Forças Armadas.

- "Algo está errado no Japão" -

O assédio sexual é uma questão delicada nas Forças Armadas de diversos países, e a indignação com a magnitude do problema na vizinha Coreia do Sul levou a pedidos de reforma na instituição.

A denúncia de Gonoi foi um dos raros casos públicos de agressão sexual no Japão, onde apenas 4% das vítimas de estupro chegam a reportá-los à polícia.

A jovem também recebeu uma enxurrada de insultos e de ameaças on-line.

"Algo está errado no Japão. As pessoas atacam as vítimas, e não os abusadores", lamentou.

A ex-soldado recebeu um pedido de desculpas de seus agressores, que estão sendo investigados, e processou o governo e seus pares por maus-tratos.

"Espero ver uma sociedade, na qual as vítimas não tenham que recorrer à opinião pública para solucionar seus casos", finalizou.


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